Especialistas indicam que o carro elétrico, apesar de alguns desafios, está mais perto da realidade do que poderia-se pensar. Até o ano que vem, deveremos receber modelos com preços mais acessíveis que os luxuosos que já são oferecidos. Ao mesmo tempo, estes modelos continuam tendo um preço elevado se comparado aos carros com motores a combustão. Mudanças do Rota 2030, entretanto, poderão fomentar a produção nacional e diminuir os custos.
O carro elétrico pode ser considerado como o ápice da tecnologia quando o assunto é transporte. Junto com as tendências dos autônomos, da conectividade e do compartilhamento, com ele ocorrerão as maiores mudanças no setor automotivo mundial, aponta Bernardo Ferreira, sócio da empresa de consultoria McKinsey.
Apesar de o primeiro carro elétrico ter sido inventado ainda no século XIX, atualmente, ele tem uma estrutura completamente diferente da de um carro com motor a combustão. Isso pode incluir um conjunto de quatro motores, um para cada roda, e um enorme pacote de baterias debaixo do assoalho.
“A forma como ele gera tração e freia, muitas vezes, é muito diferente dos veículos que já conhecemos. Por causa disso, pode-se considerar que a tecnologia está em uma fase inicial em todo o mundo”, comenta Ferreira. Quase anualmente, vê-se o desenvolvimento de novas tecnologias de recarregamento, por exemplo. Enquanto isso, as baterias utilizadas nestes veículos têm um custo cada vez mais acessível.
Esse cenário pode parecer algo que está distante da realidade brasileira, mas, segundo Friedel Nimax, gerente do Veículo Elétrico Latino Americano, está mais perto do que aparenta. Uma das razões que o especialista aponta é a definição, feita pelo governo, das novas políticas para o setor automotivo.
Rota 2030 abre caminho para o carro elétrico
O Rota 2030 determinou, entre outras coisas, que carros híbridos e elétricos receberão incentivos fiscais. Assim, as montadoras receberam um estímulo para trazerem esses modelos para cá. Como exemplo do que o futuro reserva para o país, Nimax cita o Nissan Leaf e Chevrolet Bolt.
Ambos são modelos 100% elétricos e, no caso do Leaf, oferecido em outros países há anos com preços acessíveis oferecidos há anos. Entretanto, eles nunca vieram para o Brasil. Agora, o especialista afirma que até o ano que vem eles serão introduzidos no mercado brasileiro, ampliando a limitada gama de modelos de carro elétrico e híbrido no país.
Outra possibilidade que se abre com o Rota 2030 é que as fabricantes também poderão passar a fabricar estes carros aqui, aponta Nimax. “Com os aportes que as montadoras receberão do governo, elas terão como compromisso desenvolver novas tecnologias e alternativas para o desenvolvimento de todo o setor, sendo assim, também dos elétricos”, comenta o gerente da Veículo Elétrico Latino Americano. O evento promove discussões e investe em informação sobre os carros elétricos na região, e ocorrerá em São Paulo, entre os dias 17 e 19 de setembro.
Além disso, Nimax cita a aprovação da resolução normativa 819/2018 da ANEEL, que passa a administração de redes de carregamento para a iniciativa privada. Isso a diferencia da rede elétrica de distribuição, e pode baratear seu custo por possibilitar o livre mercado e a concorrência. Outro indicador de que o carro elétrico está avançando no Brasil é a instalação de redes com pontos de recarga em rodovias do país.
Em julho, a BR-116 (rodovia Presidente Dutra), que liga São Paulo ao Rio de Janeiro, recebeu seis pontos de carregamento, com 122 quilômetros de distância máxima entre eles. A estrutura foi implementada por iniciativa privada e, por enquanto, está recarregando carros gratuitamente. Por trás do investimento está um grupo de empresas que inclui a BMW, alemã que vende o elétrico i3.
Outro trecho que também contará com pontos de recarga será a rodovia que liga Foz do Iguaçu a Paranaguá, onde a Itaipu está instalando 10 eletropostos, comenta Nimax. Essas instalações ajudam na construção de uma infraestrutura para receber o carro elétrico no Brasil e, apesar de o trabalho já estar iniciado, ainda significa um desafio em nível global.
Ainda há obstáculos a serem vencido
Embora tenhamos sinais positivos de que o carro elétrico está crescendo no Brasil, Bernardo Ferreira, da McKinsey, ressalta os desafios que a tecnologia ainda tem que vencer para se tornar popular por aqui. Os carros híbridos e elétricos ainda estão em um estágio inicial de desenvolvimento a nível global, aponta Ferreira. Entre outras dificuldades que isso gera, está o custo elevado da tecnologia, por ela ainda não ser produzido em larga escala.
O componente mais caro de um carro elétrico, explica ele, é a bateria. Isso encarece o veículo em qualquer país do mundo, como apontou uma pesquisa feita recentemente pela Auto Trader na Europa. Em segundo lugar, a infraestrutura para o carregamento deve ser mais robusta para suportar o abastecimento quando houverem muitos carros conectados a ela.
Além disso, também será preciso pensar em como gerar a energia para alimentar todos estes veículos, quando eles forem a maioria nas ruas. Outro fator que Ferreira cita é que o Brasil é um país que carece de investimento em áreas de maior prioridade do que o carro elétrico.
Pensando nisso, a McKinsey fez um estudo sobre as perspectivas dos carros híbridos e elétricos por aqui. Segundo Ferreira, em 2030, de 10% a 30% dos veículos brasileiros serão elétricos. E entre eles, a maioria será de híbridos. Atualmente, a parcela corresponde a apenas 0,2% dos veículos nas ruas brasileiras.
Ou seja, mesmo considerando todos os obstáculos, o analista vê caminhos para que o carro elétrico cresça no Brasil. “Acredito que o que vai ocorrer primeiro aqui são pequenas iniciativas privadas, como uma empresa que instala um carregador no estacionamento”, exemplifica Ferreira.
O analista especializado no setor automotivo enxerga, para o futuro próximo, o uso do carro elétrico no trajeto de casa para o trabalho. Outra grande tendência para o mercado brasileiro, aponta ele, são os híbridos, que devem se propagar mais rápido que os elétricos por aqui.
Ao contrário dos carros totalmente elétricos, os carros híbridos podem dispensar a necessidade de recarga, ou depender menos dela. Conheça a diferente entre os dois e quais são os três tipos de veículos híbridos para saber o que esperar para o Brasil.
Ele também acredita que os serviços de compartilhamento de veículos, que se encontram muito desenvolvidos no Brasil, vão ajudar a tendência dos elétricos a avançar. “O compartilhamento torna o carro elétrico mais interessante, e quando tivermos os autônomos, também vai ser mais interessante para o elétrico. Uma tendência ajuda a outra”, considera Ferreira.
R7