Cada vez que acontece uma alta nas bombas, donos de carro flexfuel levantam velhas questões sobre economia e desempenho. O consultor Olívio Netto, da ON Consultoria Automotiva, esclarece os principais mitos e verdades que envolvem veículos bicombustíveis:
Motor flex vicia no combustível usado por mais tempo (MITO)
“O problema é que a qualidade do combustível brasileiro não tem uma boa fama e utilizando um determinado combustível por um tempo, o motor pode apresentar problemas. O etanol adulterado produz, com o tempo, uma espécie de borra que prejudica o sistema de injeção eletrônica e equipamentos como boia, bomba e filtro de combustível. A gasolina adulterada, chamada de “batizada”, é ainda pior para os componentes do motor. A dica é mudar o combustível do tanque a cada 4 ou 5 abastecimentos, levando em consideração mudar completamente o tipo de combustível dentro do tanque para dar uma limpada no sistema. É interessante usar gasolina aditivada ou do tipo premium no momento de um abastecimento de ‘limpeza’. Vale lembrar, também, que o etanol geralmente é bem menos adulterado no mercado do que a gasolina e, sempre, o consumidor deve procurar abastecer em postos confiáveis, e ter a certeza de que o barato vai sair caro. Procure sempre abastecer com combustível de alta e, quando puder, de altíssima qualidade, no mesmo posto (no dia a dia) e guarde os comprovantes. Caso aconteça algum problema com o veículo e que o mecânico afirme ser provocado por combustível ruim, você terá um bom poder de argumentação para requerer os seus direitos. Note que esta dica vale para veículos que rodam com qualquer tipo de combustível”, explica Olívio Netto.
O primeiro abastecimento de um carro flex deve ser feito com gasolina (MITO)
“Este é mais um dos mitos sobre carros com motores flex. O que acontece é que é altamente recomendável rodar por cerca de 15 minutos após encher completamente o tanque do carro com outro combustível antes de deixá-lo desligado por um período de tempo razoável. A tecnologia flex em si, não define que o primeiro abastecimento de um carro com motor bicombustível seja com gasolina (até porque, por uma questão de custo, fábricas e concessionárias usam o etanol por ter menor preço), porém, vale consultar o manual do fabricante. Algumas montadoras recomendam que o carro rode os seus primeiros quilômetros com um tipo de combustível e especificam a partir de quando o motorista poderá mudar, ou começar a mudar gradativamente, o tipo de combustível. Só que, reforço, é uma recomendação do fabricante e não uma característica da tecnologia. A maioria das montadoras não faz nenhuma menção extraordinária no manual do proprietário sobre o tema”, diz o consultor.
Motor flex dura menos que um motor monocombustível (MITO)
“O etanol é um combustível mais corrosivo do que a gasolina. Porém, os engenheiros das montadoras sabem disso e o motor recebe tratamentos necessários para ter a durabilidade padrão de um carro que roda apenas com um combustível. Existem oficinas que fazem a conversão de motores monocombustível para flex. Mas, por melhor, que seja o processo de conversão em oficinas especializadas e os componentes utilizados, a confiabilidade é sempre maior quando o veículo vem da fábrica com a opção de rodar tanto com gasolina quanto com etanol.
Os tanques de combustíveis de um carro flex são separados (MITO)
“É o mesmo tanque de combustível. A tecnologia permite que os combustíveis se misturem e que, mesmo assim, o motor funcione.
Gasolina rende mais do que etanol (VERDADE)
“O veículo rodando na gasolina é mais econômico do que o mesmo veículo abastecido com etanol. O consumo com etanol é de 30% a 50% maior que com gasolina. Isso acontece porque o poder calorífico do etanol é menor que o da gasolina. Para entender melhor, pense em uma fogueira alimentada por papel e outra por madeira. A fogueira alimentada por madeira permanecerá por mais tempo acesa e com bom aquecimento. Já a fogueira alimentada por papel não aquecerá como a alimentada por madeira e o fogo acabará mais rápido. No exemplo, o etanol é comparado com o papel e a gasolina, como a madeira. A gasolina tem poder calorífico 30% maior que o do etanol. Portanto, se um combustível gera menor calor, maior será a quantidade necessária para fazer o veículo andar. Para que seja vantajoso financeiramente abastecer o tanque com etanol, é necessário observar se o preço do etanol está 70% menor que o da gasolina (considere que o veículo com etanol consome mais do que quando está com gasolina). A conta é simples, multiplique o preço da gasolina por 0,70. Exemplo: R$ 3,50 x 0,70 = R$ 2,45. Logo, se o litro do etanol estiver maior do que R$ 2,45, compensa abastecer com gasolina”, sugere Olívio Netto.
Motor flex funciona bem no frio (VERDADE)
“O motor flex funciona bem no frio desde que alguns cuidados sejam tomados. Nos carros bicombustíveis, há o famoso tanquinho de partida a frio (tecnologia que já está praticamente 100% substituída por outra, que não usa o tanquinho). O tanquinho deve ser abastecido com gasolina de altíssima qualidade para que o combustível demore mais para envelhecer e para que seja melhor na sua função de auxiliar a partida quando o veículo estiver com o tanque cheio ou, geralmente, com mais de 85% de etanol. O etanol tem menos poder calorífico que a gasolina e, por isso, requer muita atenção em dias frios. Na prática, quando o tanque está cheio, ou com boa parte de etanol, a partida em dias frios fica muito difícil. Se o motorista tomar os devidos cuidados, muito provavelmente não terá transtornos. A minha dica é usar gasolina premium no tanquinho. É um reservatório pequeno que geralmente tem 1 litro, então não faz sentido economizar usando gasolina mais barata. O tanquinho será sempre utilizado em dias frios, mas é interessante mantê-lo sempre cheio, mesmo em dias de calor. A gasolina comum envelhecerá mais rapidamente no compartimento e, como o líquido irá demorar muito para ser finalizado, é aconselhável colocar gasolina de qualidade premium. Se a temperatura externa está muito baixa e o veículo está com o tanque cheio de gasolina, o sistema de partida a frio não será solicitado. Porém, não deixe o tanquinho vazio! Verifique o nível de combustível com regularidade e mantenha o reservatório cheio independentemente se está rodando com gasolina, etanol, se é verão ou inverno. Isso porque, geralmente, o motorista vai se lembrar do tanquinho de partida a frio no inverno ou, pior, quando o motor se recusar a funcionar. Se o motorista só usa gasolina e o tanquinho está sempre seco não há problema. As montadoras validam a peça tanto para permanecer cheia quanto vazia. E, se a peça fica sempre vazia, não há o perigo de, por exemplo, o reservatório trincar. O fundamental, no caso do tanquinho, é retirar a gasolina que começa a envelhecer. A gasolina fica preta, oxida e pode causar vários danos. O que vale, é sempre, o bom senso. Sobre a nova tecnologia que dispensa o tanquinho de partida a frio, o sistema consiste em aquecer o etanol na própria galeria de combustível. É uma corrente elétrica que aquece a vela e o combustível. O sistema trabalha de acordo com a necessidade e temperatura externa e continua aquecendo os dutos de combustível nos primeiros momentos de funcionamento do motor, evitando solavancos, por exemplo”, diz.
O etanol traz melhor desempenho (VERDADE)
“Geralmente, o motor que está sendo alimentado por etanol tem um rendimento bem melhor que o mesmo motor alimentado por gasolina. Em outras palavras, o carro com etanol fica mais potente. É comum verificar nas fichas técnicas dos fabricantes uma variação. Por exemplo: 100 cavalos com gasolina e 105 com etanol. Claro que sempre há uma exceção e existem carros flex que não têm variação de potência por causa do combustível utilizado. O fato é que, na grande maioria dos casos, essa diferença apresenta vantagem de potência para o etanol. O etanol suporta bem a compressão, que é a mistura de ar e combustível, conceito básico que faz os motores a combustão funcionarem. A taxa de compressão do motor movido a etanol é geralmente maior que a taxa de compressão do motor movido a gasolina. Ou seja, a mistura de ar e combustível é melhor. A taxa de compressão de um propulsor flex fica no meio, o que ajuda a explicar o motivo dos motores que usam apenas um combustível serem mais eficientes em termos gerais”, esclarece Olívio Netto.
É preciso esperar o carro ficar na reserva para trocar de combustível (VERDADE)
“Caso o motorista queira trocar de combustível, recomenda-se aguardar o tanque ficar na reserva ou bem próximo da reserva. É importante lembrar que não se deve rodar por muito tempo com o carro na reserva e essa observação vale para qualquer veículo que rode com qualquer tipo de combustível. Isso para a própria segurança do motorista, para evitar surpresas desagradáveis com uma pena seca e, também, porque o hábito de manter o tanque com baixo nível de combustível prejudica alguns componentes, como bico injetor e boia de combustível (que trabalha sobrecarregada com o tanque vazio). Outro detalhe: o carro flex, pode rodar com a mistura de gasolina e etanol em qualquer proporção. Porém, o funcionamento não será pleno e os números de consumo não serão otimizados. Para entender, imagine uma pessoa que mistura, no mesmo copo, refrigerante de laranja e refrigerante de cola. A pessoa saberá que está matando a sua sede, que está tomando algo, mas não saberá o que está tomando de fato. Ou seja, não conseguirá distinguir o que é refrigerante de cola e o que é de laranja, percepção que mudará se optar por um ou por outro. O mesmo vale para o tanque de combustível e os sistemas de injeção”, finaliza.
R7