Estamos sempre travando contato com a cultura alheia, ainda mais em um mundo globalizado. Quando o assunto é gastronomia é preciso que empresários e funcionários do setor tomem um pouquinho de cuidado porque as más interpretações geram muita insatisfação na clientela. Vou usar um exemplo que aconteceu comigo recentemente na Fifties – uma rede de hambúrgueres que propõe reviver o clima dos diners americanos dos anos 50.
Qual é a comida deste tipo de lugar? Milkshake, cachorro quente, refrigerante, batatinha frita e por aí vai. Para minha surpresa, tinha até pink lemonade no cardápio. Nos Estados Unidos esta é uma limonada que além de limão também leva frutas vermelhas – uma ótima opção para quem está evitando os refris e não quer gastar mais (e engordar mais ainda) em um copão de milkshake, levando-se em conta que dá para beber até limonada sem açúcar, sim senhor (tópico controverso para uma futura coluna).
Quando chega a limonada qual a minha surpresa ao constatar que a pink lemonade era na verdade soda italiana?!No cardápio esta bebida não constava da lista das frisantes, dividia despretensiosamente um item à parte junto com chás. Ao chamar mais de um garçom para relatar o problema, a resposta (de maneira bastante tranquila e natural) foi: mas a senhora pediu pink lemonade. Então lá se foram preciosos minutos para explicar o mal entendido, causado pelo próprio estabelecimento ao mudar a concepção de algo que já existe. Não acho que a culpa é do garçom que achava que aquilo era o certo e sim do local e seus proprietários, já que não treinam as equipes para este tipo de situação que acontece pelo mundo a fora mais do que a gente imagina.
A resposta dele ao problema foi até divertida e me ajudou a dar o título deste texto: “ah, lá é diferente”, o que eu respondo aqui – não é lá que é diferente. Foi a lanchonete que adotou o nome de algo que existe e usou para algo que não é a mesma coisa, o que gerou toda a confusão de ordem semiótica. Este quesito foi resolvido pois os garçons eram muito simpáticos e prestativos, mas o que ficou mais chato ainda foi o problema que surgiu depois que a equipe da cozinha entrou em cena: o hambúrguer de cordeiro, pelo qual paguei caro, estava muito menos do que satisfatório, para não dizer pura e simplesmente ruim.
Tenho um amigo que manda prestarmos muita atenção nesta nova onda de hamburguerias que invadiu Salvador, porque, segundo ele, “hambúrguer gourmet tem por característica ingredientes nobres e preço salgado, mas ele, por si só, não é receita de sucesso”. Eu concordo plenamente e isso nos leva de volta para o Fifties…
O pão de brioche já chegou na mesa meio molhado por uma quantidade excessiva de molho grego e, na minha opinião, além de ser um pão bem mediano ainda era proporcionalmente muito grande para a carne. Faltou sal na carne. Estava insossa, o que é uma tremenda façanha considerando que se tratava de cordeiro. A cebola em conserva que dava sabor ao pão junto com o queijo feta dificultava ainda mais comer o sanduíche, pois eram uns fios enormes que não eram cortados tão facilmente a dentadas.
Não teve guardanapo que chegasse. Foi uma grande meleira. Fiquei bem decepcionada com a experiência, pois a concepção do sanduíche no cardápio me deixou com água na boca. Minha expectativa era grande e nem o episódio da pink lemonade me preparou para o que ainda estava por vir. Considerando que acabamos de passar pelo experiência americanizada do Halloween, achei tudo isso um horror.
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Larissa Ramos é jornalista e professora de Gastronomia