Que o futuro dos automóveis deve ser elétrico, poucos duvidam. O problema é saber quando e como isso deve acontecer. Há dois meses, um dos países mais engajados nos incentivos para a substituição dos motores a combustão, a Noruega, desmentiu haver algum prazo ou obrigatoriedade. No país nórdico, carros elétricos são isentos de impostos de compra, restrições de circulação e pedágio urbano, podem transitar em corredor de ônibus e têm recarga e estacionamento gratuitos.
Semana passada uma proposta no parlamento alemão, de impedir a venda de automóveis a gasolina ou diesel no país a partir de 2030, foi interpretada por aqui como favas contadas. Não é bem assim: a aprovação depende ainda de muitos fatores, inclusive de um acordo geral com a União Europeia. Afinal, o mercado automobilístico alemão responde por um quarto de todo o continente, ao contrário do norueguês, que mal passa de umas gotas em um copo.
O avanço da tração elétrica tem mais impedimentos do que simplesmente baixa autonomia, tempo de recarga ou de como se obtém a essa energia, entre outros. Apenas um dos fatores limitantes, o custo da bateria, parece caminhar melhor. Segundo a consultoria Bloomberg, seu preço em US$/kWh caiu 65% entre 2010 e 2015, devendo ir bem abaixo disso na próxima década. A reciclagem em massa das baterias, porém, não apresenta ainda uma equação financeira plausível.
Até mesmo o modelo de negócio do carro elétrico carece de contabilidade precisa. A Faraday, que apresentou seus planos no começo do ano e conseguiu incentivos do estado americano de Nevada, está com obras e contas atrasadas. A Tesla, do bilionário e visionário Elon Musk, acumula prejuízo há 18 trimestres consecutivos. Mas isso não impedirá que seu Model S esteja no Salão do Automóvel de São Paulo, entre 10 e 20 de novembro próximo, e possa até ser testado na pista fechada do SP Expo.
Como fechar a conta?
Voltando à Alemanha, o país tem uma meta menos ambiciosa de colocar nas ruas um milhão de carros elétricos até 2020 à custa de um pesado subsídio de 5.000 euros (cerca de R$ 17 mil) por veículo. Essas contas tendem a não fechar, pois no ano passado foram vendidos no país apenas 30.000 unidades, ou 1% do total comercializado. Reconhecido pelo rigor fiscal nas contas públicas, precisam combinar antes com o ministro das Finanças, Wolfgang Schäuble…
EUA e França também construíram programas de incentivos ou de abatimento de impostos a pagar para incentivar o uso de energia alternativa por parte dos consumidores. Como o elétrico ainda é um produto muito mais caro do que um carro convencional, grandes avanços técnicos ocorrem hoje nos motores a combustão e há poucos indicadores de o preço dos combustíveis fósseis voltar a patamares muito elevados, fica difícil um comprador tomar sua decisão em meio a tantas indefinições.
O fato real é que ninguém sabe quanto tempo vai durar a transição. Grandes capitais europeias podem, de fato, criar zonas centrais de exclusão para veículos com motores apenas a combustão. Mais prudente seria incentivar os híbridos, que apresentam custos mais palatáveis e significam opção com os pés no chão.
uol