Ao som do berimbau, atabaque e agogô, o encenador instala a peça do dramaturgo romeno Matéi Visniec no paradoxo entre a festividade e a tragédia. O espetáculo estreia 19/07, no Teatro Vila Velha
Hécuba – rainha que teve a sua vida completamente devastada e seus 20 filhos e marido assassinados, na lendária e milenar Guerra de Tróia – transborda muitas dores do mundo de hoje, em que uma série de outras guerras cotidianas são desencadeadas pela intervenção dos novos “deuses”, que ocupam as diversas esferas do poder. A fricção entre a mítica e submissa Hécuba, de Eurípedes (424 a.C), e a releitura contemporânea, questionadora e combativa, de Matéi Visniec, se encontram na reposição do espetáculo musical de Marcio Meirelles. Nesse terreno de contradições, os deuses do Olimpo se deleitam, do alto de seus camarotes, com a degradação de uma figura que encarna a condição da mulher no mundo. Enquanto no chão da praça o “côro come”: a violência, a impunidade e as desigualdades sociais. Ingressos: quinta-feira R$ 20,00 (inteira) ou R$ 10,00 (meia). Sexta a domingo R$ 30,00 (inteira) e R$ 15,00 (meia).À venda na bilheteria e no site www.teatrovilavelha.com.br
“Por Que Hécuba é uma peça sobre a violência, como ‘Hécuba’, de Eurípedes. Mas na minha peça o olhar vai além, além do sofrimento e da vingança. Eu quis ‘empurrar’ Hécuba para a revolta. Eu quis que essa mulher fruto da mitologia grega interpelasse os deuses, e com isso os próprios fundamentos da nossa civilização”, explica Matéi Visniec. O dramaturgo propõe ainda um vôo sobre um humor triste. Para Visniec, a Tróia de nossos dias pode estar na Bósnia, na Chechênia, em Beirute, na Somália, na Síria ou em qualquer país repartido e assombrado pelo espectro da guerra civil.
E, claro, no Brasil atual, atravessado por tantas intransigências e violentos jogos de poder. Como acredita Marcio Meirelles, “estamos vivendo isto: uma sociedade que se divide e subdivide em classes, gêneros raças, crenças. Como se tudo e todos não pudessem conviver com o contraditório, com opiniões, ritos e ideologias diferentes”, acrescentando que o espetáculo discute o por quê de tanto ódio e de uma reação movida pelo ódio ao que foi construído socialmente. “Por que o que foi construído tem que ser destruído com tanto ódio?”, indaga.
A reposição de Por Que Hécuba, que já foi encenada pela universidade LIVRE do Teatro Vila Velha em 2014, acontece nesse clima de incertezas. E repor é “restituir um sistema de signos, recolocar este sistema em cena num novo tempo com um novo elenco”. Diferente de uma remontagem, a encenação propõe novas leituras do texto, alteradas por este tempo, pelas particularidades do Brasil em que o texto se insere e pelo novo elenco.
Protagonizada pela atriz Chica Carelli – que também colaborou na tradução do texto feita por Vinícius Bustani – o espetáculo ganha corpo com o histórico grupo Teatro dos Novos, que conta ainda com a participação de atores e atrizes convidadas como Andréa Nunes, Apoena Serrat, Celso Jr., Grazielle Mascarenhas, Igor Epifânio, Jarbas Oliver, Wanderley Meira e Yan Britto e, como parte do coro, participantes da universidade LIVRE do Teatro Vila Velha e Balé Jovem de Salvador. Somando-se a eles a música composta em modos gregos turcos nordestinos e do rock’n’roll, por Aline Falcão
Por Que Hécuba – Teatro dos Novos
Onde: Teatro Vila Velha – Av. Sete de Setembro, s/n – Passeio Público – Campo Grande, Salvador/BA.
De 19/07 a 05/08
Quinta a sábado – 20h / Domingo – 19h
Ingressos: quinta-feira R$ 20,00 (inteira) ou R$ 10,00 (meia). Sexta a domingo, R$ 30,00 (inteira) e R$ 15,00 (meia)
À venda na bilheteria do Teatro e no site www.teatrovilavelha.com.br
Contato: (71) 3083-4600