Edis Haskic vive em um centro de acomodação para refugiados e deslocados por conflitos desde 1995 — quando as forças sérvias mataram seu pai e outros 8.000 bósnios muçulmanos na cidade de Srebrenica, na Bósnia e Herzegovina, na batalha mais violenta da Europa desde a Segunda Guerra Mundial. As informações são da agência de notícias Reuters.
O destino de Haskic é o mesmo de outras 7.000 pessoas na Bósnia e Herzegovina — uma república multiétnica e dividida onde muitos dos deslocados pelas batalhas ocorridas entre 1992 e 1995 ainda vivem em abrigos.
O futuro dos deslocados não parece estar na agenda dos políticos na Bósnia e Herzegovina, que participaram de eleições no último 7 de outubro com visões opostas sobre o destino do país e retóricas etnicamente divisivas — as mesmas questões no centro da guerra que matou 100 mil pessoas e tirou 2 milhões de suas casas.
Enquanto espera que o Estado lhe devolva uma casa, Haskic, de 33 anos, se casou no vilarejo de Mihatovici, no norte do país, e tenta criar seus filhos com uma ajuda mensal de 60 euros (cerca de R$ 259) oferecida pelo governo. Ele depende de trabalhos temporários para fechar as contas de casa.
“Os políticos têm culpa dessa situação porque eu não recebi outra chance ou ajuda”, comenta Haskic — que não tem planos de voltar para Srebrenica.
O Quadro Geral para a Paz na Bósnia e Herzegovina, também conhecido como Acordo de Dayton, deu um fim à guerra dividindo a Bósnia em duas entidades distintas: a República Sérvia e a Federação da Bósnia e Herzegovina. As tensões étnicas na região, entretanto, continuam fortes — o que afasta a possibilidade de uma adesão à Otan ou à União Europeia.
As crianças bósnias cujas famílias são muçulmanas frequentam as mesmas escolas que as croatas católicas, mas aprendem com base em currículos diferentes — a prática foi instaurada em caráter provisório depois da guerra, mas permanece mesmo após um tribunal superior tê-la considerado discriminatória.
“Os políticos são os culpados por tudo. Eles são responsáveis pela nossa divisão”, afirma Rasko Kovacevic, um sérvio que mora em um acampamento para deslocados pela guerra no vilarejo de Kladari Donji, no norte da Bósnia e Herzegovina.
A maioria das famílias dos deslocados pela guerra vive em um único cômodo onde os parentes dormem, preparam refeições e tomam banho. Às vezes, compartilham um mesmo banheiro de madeira entre grupos de doze pessoas.
“Eles [os políticos] só nos visitam antes das eleições quando precisam de votos, mas quando eu estou procurando um emprego, eles apenas me dão um tapa nos ombros”, comenta Branko Mlikota, que mora em um assentamento perto da cidade de Capljina há 24 anos.
Depois de muitos atrasos, o governo estabeleceu o ano de 2020 como prazo para o fechamento dos centros onde vivem os desabrigados pela guerra. “Eles apenas prometem, mas ninguém fez nada por nós”, conclui um dos refugiados.
R7