Não é de hoje que os conceitos de padrão de beleza possuem boas doses de crueldade. Existem desde o início dos tempos e colocam em risco não só a autoestima, como a saúde de todos aqueles que não se encaixam neles (contraditoriamente, a maioria das pessoas).
Outra problemática que sempre cercou o tema é o de caracterizar como “padrão de beleza” certos preconceitos, ignorando a pluralidade de biotipos e etnias –a exemplo de definir como bonita apenas uma mulher de pele branca, olhos claros, cabelo loiro e liso. Além disso, o patriarcado também sempre deu suas cartas quando o assunto era a beleza feminina.
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“Cabelo precisa ser alisado”
Cabelo crespo era considerado feio. Por isso, muita gente usou até ferro de passar roupa sobre os fios para alisá-los. “Diria que esse costume vem desde a época do ferro a brasa. As mulheres estendiam o cabelo, que era muito comprido, pois quase não se cortava, sobre uma superfície plana. As mais cuidadosas ainda protegiam os fios com um pano, para a chapa quente não encostar diretamente neles, e passavam como se fosse uma peça de roupa”, diz a historiadora Joelza Ester Domingues, autora de livros didáticos pela FTD.
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“Loiras chamam mais a atenção”
Há tempos cabelos escuros não são tão desejados quanto os loiros. Houve uma época em que o costume era chegar a esse efeito em casa mesmo. Para isso, usava-se água de lixívia, o alvejante à base de hipoclorito de sódio também conhecido como água sanitária. Isso mesmo: o produto que hoje serve para limpar e desinfetar já foi usado para clarear o cabelo.
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“Limpe essa pele encardida”
Era assim que costumavam se referir à pele morena ou negra. A ordem era se livrar da suposta sujeira com uma mistura de leite, clara de ovo, suco de limão e óleo de amêndoas sobre a face. A água que lavava o arroz também tinha essa finalidade –era passar e esperar secar. A historiadora Joelza lembra também que, em 1920, Max Factor, considerado o “pai” da maquiagem moderna, chegou a criar uma espécie de base amarelada para clarear a pele morena do ator Rodolfo Valentino.
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“Olhos claros são mais bonitos”
Por causa disso, teve gente que até já usou limão para clareá-los. Era preciso pingar uma gota do líquido cítrico em cada olho todas as manhãs. O costume, no entanto, é condenado pelos oftalmologistas.
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“Pele muito bronzeada é feia”
Desde a Grécia antiga, e durante muito tempo, a pele branca foi sinal de beleza e distinção social, especialmente entre as mulheres. Significava que elas ficavam recolhidas em casa e não precisavam trabalhar sob o sol, como era o caso das escravas. O termo sangue azul, inclusive, vem daí: sob a pele alvíssima, as veias tornam-se azuladas. “Além disso, as plebeias disfarçavam sardas e manchas de sol com cinzas de caramujo”, diz Joelza.
uol