Outras fontes de sofrimento confundidas com dores de amor!
Quando uma parceira amorosa nos deixa, podemos sofrer muito. Esse sofrimento pode ter muitas causas. A maioria delas não está relacionada com o amor por ela, mas sim, com outros fenômenos psicológicos e práticos que foram alterados para pior, devido à separação.
Sofrimento causado pela diminuição da autoestima
Elisa não gostava tanto de Kleber, mas sentia muito a sua falta! Como entender isso? O tamanho do amor que sentia por ele não explicava o grande tempo que pensava nele e nem o quanto ficava torcendo para que ele a convidasse para fazer alguma coisa!
O fato dele não ligar muito para ela afetava negativa e fortemente a sua autoimagem e autoestima. Para ela, era muito importante sentir-se atraente como parceira amorosa e sentir que podia estabelecer e manter um bom relacionamento amoroso quando quisesse. Qualquer coisa que desconfirmasse a sua autoimagem e capacidade para relacionar-se amorosamente fazia que ela se sentisse desqualificada e ameaçada.
Geralmente era ela que mostrava disponibilidade para se encontrar e fazer programas com Kleber: era mais ela que mostrava que queria a companhia dele e que tinha tempo para ele do que vice-versa. Ele era muito ativo: tinha muitos amigos, era convidado para muitos eventos e tinha muitos interesses. Por isso, ele sempre tinha algum programa em vista. A sensação de Elisa, por tudo isso, era que ela queria mais estar com ele do que vice-versa. Não sentir-se tão querida quanto o queria afetava muito a sua autoestima. Ela achava que ele não solicitava tanto a sua companhia é porque ele a avaliava como menos interessante do que as outras coisas que preferia fazer ao invés da sua companhia.
Para Elisa, sentir-se atraente e preferida era muito mais importante do que a intensidade do amor que sentia por Kleber. Caso Elisa satisfizesse essa sua necessidade de sentir-se atraente e preferida, nem iria querer muito a companhia dele.
Elisa era uma mulher que poderia ser conquistada mais pela rejeição por parte do pretendente do que pela atração que sentia por ele.
É por esse mesmo motivo que muita gente clica em muitas fotos nos aplicativos de encontros e, quando são correspondidas, perdem o interesse de dar sequencia aos relacionamentos. Outras pessoas vão um pouquinho além: iniciam conversas ou até vão para o primeiro encontro. Quando o outro manifesta interesse elas, logo perdem o interesse por eles: já satisfizeram a necessidade de serem aceitas e de verificarem que são atraentes!
Sofrimento causado pela falta de programas
Ele não tinha amigos e não tinha interesse por atividades esportivas e culturais. Por isso, não tinha nada para fazer nos fins de semana, feriados e férias. Quando arranjava uma parceira amorosa, tudo isso mudava: tinha alguém para conversar, companhia para ir a restaurantes, cinemas teatros, exposições e oportunidade para frequentar eventos sociais promovidos pelos amigos da nova companhia.
Quando o relacionamento terminava, ele sofria muito! Pelo amor perdido? Nem tanto! Mas por tudo aquilo que deixava de fazer e pela dor de não ter nada para fazer nas suas horas de folga (uma das maiores punições usadas na nossa sociedade é obrigar o condenado a não fazer nada na prisão e, pior ainda, na solitária da prisão).
Sofrimento causado pelo perigo de ser traído
Boa parte da necessidade da presença da parceira amorosa pode ser provocada pelo medo dela se envolver com outros parceiros e não pela satisfação provocada pela sua companhia. Isso fica claro quando tal necessidade aumenta quando a parceira está fazendo algo onde há possíveis parceiros amorosos em relação à necessidade da sua presença quando ele está fazendo algo onde não há possíveis parceiros amorosos (por exemplo, ele está fazendo em casa um trabalho urgente que demanda muito a sua atenção). Neste último caso, como não há risco de envolvimento com outros parceiros amorosos, também não há necessidade da presença do parceiro! Às vezes, até há algum alívio com a sua ausência. Isso acontece quando ela é chata!
Sofrimento causado pela diminuição da conexão com a realidade
Para certas pessoas, a existência de uma parceira amorosa ajuda a criar diversos tipos de conexão com a realidade: planos para o futuro, projetos econômicos, sensação de pertencimento (“Faço de uma unidade amorosa”). A perda do relacionamento faz tudo isso virar pó. A sensação de vazio que fica é horrível
Sofrimento causado pela baixa na autoestima provocada pela rejeição amorosa
Como dizia Groucho Marx: “Eu nunca faria parte de um clube que me aceitasse como sócio”.
João ia pedir demissão do cargo, no dia seguinte. No entanto, seu chefe o chamou para conversar e o demitiu. João ficou muito abalado. Não porque perdeu o emprego. Ele já ia demitir-se. Ficou abalado porque ser demitido tinha um significado negativo: ele não foi considerado qualificado ou valioso pelo chefe e pela empresa o suficiente para permanecer no cargo.
Usamos a avalição dos outros para avaliar quanto valemos. Se formos aprovados por uma pessoa altamente qualificada, achamos que valemos muito. Se formos rejeitados por uma pessoa que consideramos qualificadas, achamos que temos pouco atrativos.
Da mesma forma, quando somos rejeitados, mesmo quando não amamos muito a parceira, a nossa estima é rebaixada e isso nos faz sofrer.
A importância da opção
Os vendedores de imóveis sabem explorar muito bem o valor da opção. Para criar a necessidade de urgência de compra de um possível comprador, eles informam aos interessados que existem outros compradores interessados no imóvel que ele gostou. De fato, em muitos casos, não há ninguém mais interessado. Dizer que existe mais alguém interessado, ou seja, concorrência, tem dois efeitos principais: (1) valida a opção pelo imóvel (“Se outros se interessam também, é porque é um bom negócio”) e (2) há o risco de perder a opção de compra. Perder a opção pode significar perder a chance de fazer um bom negócio.
Na área amorosa acontece o mesmo fenômeno: podemos não gostar tanto da parceira. Mas o valor dela cresce quando sabemos que há outros interessados nela.
uol