Sempre se diz que os humanos têm cinco sentidos: tato, olfato, visão, audição e paladar. Mas pode ser que exista mais um sentido que nos ajude a interagir com o mundo a nossa volta.
Um estudo publicado no New England Journal of Medicine sugere que temos um gene chamado PIEZO2, que é responsável por nos ajudar a fazer o reconhecimento espacial do nosso corpo durante nossas ações e controla aspectos específicos do toque.
Seria como um sexto sentido que nos dá consciência corporal.
Para estudar o tal gene, pesquisadores acompanharam dois pacientes com uma desordem neurológica única: ambos tinham problemas de locomoção, equilíbrio e algumas insensibilidades na pele.
Testes feitos nos laboratórios com os dois pacientes, um de 9 e outro de 19 anos, mostraram que eles tinham mutações exatamente no gene PIEZO2, e que para superar as dificuldades ficaram ainda mais dependentes da visão e dos outros sentidos.
Confusão no escuro
Um dos exames realizados no estudo era vendar os olhos e tentar andar sem cair. No escuro, ambos acharam extremamente difícil andar sem cambalear ou tropeçar. Além disso, sem contar com a visão, os jovens tiveram dificuldade para pegar objetos que estavam diante de seu rosto.
Sem olhar, os pacientes não tinham certeza se as mãos estavam se mexendo da forma correta.
Outros testes confirmaram que os jovens também eram menos sensíveis a certas formas de toque. Nenhum dos dois foi capaz de responder para os pesquisadores se estavam sendo beliscados por uma ou duas pinças na palma da mão. E eles não sentiram nada quando passaram uma escova em suas mãos.
“Analisando os pacientes com problema no gene, vimos que eles são ‘cegos ao tato’. O gene não funciona, então os neurônios não detectam o toque ou movimentos dos membros”, afirmou Alexander Chesler, cientista que também participou do estudo.
Apesar das diferenças, os sistemas nervosos dos pacientes estavam se desenvolvendo normalmente.
Sexto sentido ajuda a ciência
“Os resultados revelaram que o PIEZO2 influencia no toque, mas mais ainda na capacidade de reconhecimento do próprio corpo. Descobrir o exato papel do gene pode dar pistas para a compreensão de diversos distúrbios neurológicos”, afirmou Cartsen G. Bonnemann, pesquisador sênior do Instituto Nacional de Doenças Neurológicas e Derrames dos Estados Unidos e coautor da pesquisa.
Os cientistas descobriram que mutações no gene PIEZO2 aparentemente bloqueiam a produção e atividade normal das proteínas correspondentes nas células. Em análises em ratos, foi comprovado que a proteína é encontrada nos neurônios que controlam o toque e estimulam a consciência corporal.
“O que é notável sobre esses pacientes é o quanto seus sistemas nervosos compensam sua falta de tato e consciência corporal”, afirmou Bonnemann. “Isso sugere que o sistema nervoso pode ter vários caminhos alternativos para manter o corpo funcionando, e esses caminhos podem ajudar na criação de novas terapias”.
uol