Estudos com medicamentos contra o Alzheimer e contra a malária estão sendo testados com resultados promissores para reduzir os danos causados pelo vírus da zika em células do sistema nervoso. A resposta final, no entanto, não deve vir na forma de uma única medicação, mas da associação de diferentes produtos, consideram os pesquisadores.
Desde novembro de 2015, sabe-se que o vírus da zika é responsável por microcefalia e alterações neurológicas em fetos. Só no Brasil, mais de 2,1 mil crianças foram registradas com a síndrome da zika.
Os cientistas têm investido em testes com medicamentos já aprovados pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e que têm segurança para ser administrado em grávidas. Isso para agilizar o caminho entre os laboratórios e as farmácias e, assim, responder mais rapidamente à epidemia de zika e microcefalia, que atinge o Brasil desde 2015.
Na minha opinião, não vai ter uma droga só: vai ser um coquetel que terá de ser tomado pela gestante.”
Patrícia Beltrão Braga, da USP (Universidade de São Paulo)
Patrícia está testando em laboratório o uso de uma droga em células neurais infectadas pelo vírus da zika. O remédio reduziu os estragos causados pelo vírus, com eficiência diferente conforme o momento da infecção em que ele foi usado.
O grupo de pesquisa dela deve testar cerca de 20 medicamentos diferentes.
Remédio para Alzheimer
Em Minas Gerais, os testes de um medicamento usado para Alzheimer dado para camundongos infectados pelo vírus da zika também têm resultados promissores.
O remédio não reduziu a carga viral dentro das células neurais dos animais, mas reduziu a infecção e os danos causados pela zika.
Para Mauro Martins Teixeira, pesquisador da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), o provável é que os resultados levem à necessidade de associação entre dois tipos de medicamentos, um antiviral, para reduzir a infecção das pessoas, e um anti-doença, para reduzir os danos causados pelo vírus.
Anti-malária
Os pesquisadores dos Institutos de Biologia e de Ciências Biomédicas da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e do Instituto D’Or mostraram em laboratório que a cloroquina, remédio usado contra a malária, foi capaz de proteger neuroesferas, estruturas celulares que reproduzem o cérebro em formação, em até 95%.
As estruturas foram expostas ao vírus da zika e depois tratadas, por cinco dias, com cloroquina. Os testes mostraram que a droga inibiu a infecção e reduziu o número de neurônios infectados, protegendo-os contra a morte pelo vírus.
Em outros estudos realizados pelo mesmo grupo, os pesquisadores perceberam, no entanto, que o vírus atinge diferentes tipos de células no cérebro, inclusive células gliais radiais, que são suportes para a migração de neurônios no momento da formação do cérebro.
Isso mostra que temos que pensar em medicamentos que tenham efeitos em todos os tipos de células neurais, pois os problemas não estão apenas nas células de formação” Stevens Rehen
Apesar da agilidade das pesquisas e do uso de fármacos já aprovados pela agência nacional, ainda serão necessários alguns anos de estudo. Isso, sobretudo, pela dificuldade em testar medicamentos que terão de ser usados em grávidas –as vítimas da zika com maior gravidade.
“Temos aqui uma coisa única em medicamentos que é ter que desenvolver algo para grávidas, que costuma ser a população mais sensível a qualquer fármaco”, comenta Teixeira. “A coisa mais importante é a segurança. Nós temos que testar muitas vezes para garantir que o remédio não tenha efeitos colaterais até piores que os da doença.”
uol