O presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, abriu hoje (23), no Rio de Janeiro, o Encontro Nacional de Comércio Exterior com a avaliação de que 2016 está sendo um ano difícil para o setor que chegou a ser apontado como alternativa para o país com a queda da atividade interna.
Apesar de a balança comercial já ter ultrapassado o saldo positivo de R$ 40 bilhões na terceira semana de novembro, ele chama o resultado de “superávit negativo” e explica que a cifra ocorreu pela forte queda das importações, resultante da redução da atividade econômica.
Segundo o ministro interino do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Marcos Jorge de Lima, o saldo da balança comercial em 2016 pode chegar a R$ 46 bilhões, o que seria um recorde na balança comercial. Para Castro, no entanto, não há o que comemorar.
“Esse número não gera nenhum emprego, gera desemprego porque caíram as importações e caíram exportações. Ou seja, a atividade econômica diminuiu, então, diminuiu o emprego. Se fosse batido esse recorde, seria um recorde a não ser comemorado”.
Ele defendeu a redução de custos das empresas para que as exportações não dependam de oscilações do câmbio e destacou que as vendas de manufaturados para o exterior têm caído nos últimos cinco anos. Para 2016, o mercado chegou a esperar que esse movimento de queda mudasse.
“[Em 2015] havia uma expectativa positiva com os manufaturados [para 2016], que não se concretizou”, explicou. “Com o câmbio a R$ 4, o produto brasileiro seria competitivo. Mas nós estávamos fora do mercado internacional e, para entrar no mercado, tem que desalojar alguém. Nós não conseguimos desalojar os chineses, principalmente”.
Em 2016, a expectativa da AEB apresentada por seu presidente José Augusto de Castro é que as exportações vão cair de 2% a 3%, e, dentro delas, as de manufaturados devem ter uma queda de 1% a 1,5%. O resultado, segundo ele, faz com que o Brasil tenha um nível de exportação de manufaturados em 2016 menor que o de 2006.
A queda das exportações de manufaturados levou o país a um cenário em que esses itens correspondem a 40% das exportações, enquanto commodities preenchem os outros 60%. “Se nada for feito vamos ter que nos contentar em ser uma colonia comercial do mundo industrializado. Vamos exportar só commodities“, afirmou.
Castro apontou que a redução de custos, por meio de reformas como a trabalhista, a tributária e a previdenciária, se aprovadas pelo Congresso, virá com atraso. “Já passou o momento. Estamos totalmente atrasados”, disse ele que afirmou que elas “vão doer para todos nós” e exigirão tempo de implementação no qual os produtores ainda precisarão contar com a competitividade do câmbio.
Apesar de reconhecer que questões externas como possíveis medidas protecionistas dos Estados Unidos e a saída do Reino Unido da União Europeia poderão ter impactos negativos sobre o Brasil, o presidente da AEB destacou que os problemas a serem resolvidos são internos e dependem apenas do país.
China e Estados Unidos
As relações entre Estados Unidos e China estão entre os fatores externos que o exportador brasileiro precisará observar. Segundo Castro, dos 2 trilhões de dólares exportados pela China, 500 bilhões são para os Estados Unidos, com um saldo positivo de 380 bilhões.
Eleito para ocupar a presidência a partir de 2017, Donald Trump sinalizou na campanha que pretende atrair mais empregos para o país com medidas que podem embarreirar essas exportações chinesas, o que pode levar o país asiático a buscar novos destinos, como o Brasil. Ao mesmo tempo, o Brasil é fornecedor de matéria prima para as exportações chinesas.
“A gente tem que todos os dias acordar e rezar para que a China continue com saúde financeira e continue a comprar as nossas commodities“, disse.
Mais produtividade
O ministro interino do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior também fez palestra na abertura do evento e destacou ações para aumentar a produtividade das empresas brasileiras. Exemplificou com o Programa Brasil Mais Produtivo, que implementa modificações de baixo custo nos processos de 3 mil empresas de pequeno e médio porte e, segundo ele, conseguiu um aumento de produtividade de mais de 50%.
O ministro interino (o titular, Marcos Pereira, está no exterior) destacou que o país está buscando maior abertura comercial, e que os acordos do Brasil fora da América Latina são em número muito reduzido, além de tratarem principalmente de reduções tarifárias. “Esperamos assinar em breve acordos com Índia e Jordânia”, destacou. Ele também chamou a atenção para o baixo crescimento da competitividade no país. “É imperioso atacar esse problema”.
Agência Brasil