Após a morte da filha de três anos em um acidente de trânsito ocorrido em 2009, o casal de empresários baianos, Sandra e Rembrandt Cordeiro, passaram a fazer campanhas de outdoors sobre a conscientização para a segurança no trânsito. Para isso, eles espalham as peças por Barreiras, cidade onde moram, no oeste da Bahia, e rodovias próximas ao município.
O casal é dono de uma empresa de comunicação visual em Barreiras, e eles aproveitam a atividade que desenvolvem para fazer as campanhas. O trabalho é todo produzido por eles, sem qualquer recurso de iniciativas privadas ou públicas. O foco do casal está em abordar a importância do uso da cadeirinha para as crianças, pois eles acreditam que a morte da filha deles, Emilly Raquel, ocorreu porque ela estava fora da cadeira no acidente que aconteceu na BR-242.
“Ela nunca queria ficar na cadeirinha, até que cedemos. Foi assim que surgiu a ideia da frase que faz parte da campanha: ‘Ela não queria, eu aceitei e nós a perdemos'”, disse Rembrandt.
Sandra relata que eles investiram no melhor equipamento que podiam para deixar a filha confortável, mas isso não foi o suficiente para que a criança gostasse da cadeira. “A gente acha que não vai acontecer com a gente. Essa viagem ela nem ia, mas quando eu cheguei em casa, ela já estava com a mala pronta. Ela era tão madura, que ela mesma fez a mala dela. Parecia até uma criança de 10 anos”, lembra.
Rembrandt lembra que o acidente em que a filha morreu ocorreu próximo a Ibotirama, também no oeste da Bahia. A esposa, a filha e outros membros da família voltavam para Barreiras após uma visita familiar. Todos os outros passageiros sobreviveram ao acidente.
“Sandra estava dirigindo o carro e estavam a irmã dela, o cunhado e nossa filhinha. A rodovia estava em obras, estavam fazendo uma manutenção na pista, arrancando o acostamento. Minha mulher perdeu o controle da direção após a roda do carro encostar em uma parte mais baixa da pista que estava passando por obra e capotou”, explicou.
Desde que ocorreu o acidente, eles fazem a campanha e a intensificam no período de festas, quando o movimento é maior nas estradas. Nesta quarta-feira (23), eles já espalharam alguns outdoors pela cidade, por conta das festas de final de ano.
Sandra revelou que chegou a sonhar com o acidente, um mês antes de acontecer. “Eu tive um pesadelo com tudo. Até a roupinha que ela vestia na hora do acidente era a mesma do sonho. Após o pesadelo, eu não dormia direito e compartilhei com minha família. Só depois a gente entendeu. Depois que saí do carro no dia do acidente, então consegui lembrar do sonho”, disse.
Superação e ajuda
Para o casal, que tem outros dois filhos de 17 e 20 anos, a família e o amigos foram de extrema importância para eles conseguirem lidar com a perda da filha.
“Se você não tiver uma base, não tem como superar. Tem dias que é difícil, bate uma saudade. A presença dela é constante”, relata Sandra, que conta que passou um ano trabalhando quase 24h por dia. “Até que meus outros filhos disseram: ‘mãe nós precisamos da senhora’, e hoje superei”, disse Sandra.
Rembrandt também falou sobre o sentimento de perda da filha. “A dor de perder um filho é tão grande, que todos os pais quando forem dormir deveriam implorar a Deus que nunca leve um filho dele”, relatou.
A morte da filha motivou o casal a fazer as campanhas e também a levar alegria para outras crianças, através de um mini parque de diversões itinerante gratuito. Sandra e Rembrandt mantêm uma página no Facebook chamada “Amigos da Emilly”, no qual divulgam ações feitas para honrar a memória da menina, como a organização de eventos infantis com cama elástica, tobogãs, piscina de bolinhas, máquina de algodão doce e pipoca. O objetivo é levar entretenimento às crianças mais carentes do município.
“Primeiro surgiu a campanha [nos outdoors] e depois fomos com a família fazer a última viagem que ela [Emilly] fez. Então surgiu a ideia de fazer um São João das crianças e, no período de um mês, a gente comprou os brinquedos. A gente quer levar um pouco da alegria de Emilly para as crianças. A gente jamais faria o que faz hoje se o acidente não tivesse acontecido”, disse Rembrandt.
G1