De acordo com relatório final da CPI do Senado sobre o assassinato de jovens, divulgado neste ano, o Brasil atingiu a marca recorde de 59.627 mil homicídios em 2014. Dentro desses números, todos os anos, 23.100 jovens negros de 15 a 29 anos são assassinados no Brasil. Em média, 63 morrem a cada 23 minutos.
A Bahia está em terceiro lugar neste ranking, com 278 mil mortes de letalidade policial, ficando atrás apenas dos estados de São Paulo e Rio de Janeiro, com 965 e 584 respectivamente. Os dados são da Atlas da Violência 2016,estudo desenvolvido pelo Instituto de Pesquisa Econômica aplicada (IPEA) e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FPSP).
A justificativa para as causas das mortes são diversas, mas a maioria aponta para o tráfico de drogas, ou confronto com à polícia. O nível de escolaridade e a classe econômico são fatores determinantes para se identificar os grupos mais suscetíveis às mortes por homicídio, de acordo com o anuário.
Em entrevista ao Varela Notícias, a secretária Olívia Santana, da SPM, denuncia que a violência contra jovens negros é um problema que envolve não só governantes mas como também a sociedade. “O que falta é um projeto arrojado de educação de arte, de cultura, de esporte. Nós precisamos revolucionar nossa escola pública, precisamos de um grande incentivo do Brasil, pátria educadora, com uma conspiração positiva a favor da educação. Um pacto real, envolvendo a sociedade e o estado juntos, no sentido de resgatar a escola pública. A escola é vista como casa de ninguém, como uma propriedade do governo e não é, a escola é do povo”.
“Então nós precisamos abraçar a escola com muita força, desenvolver uma política educacional qualificada, com escolas descentes, com profissionais valorizados, mas também mais comprometidos. Precisamos de um projeto de educação para emancipar as pessoas. Eu sou pedagoga, trabalhei durante muitos anos em uma escola comunitária, que não tinha nada, uma situação precária, e você via o esforço das professoras porque aquilo tinha virado uma causa para elas. E é assim que precisamos pensar na educação, como uma causa civilizatória, uma causa para abrir caminho para nossa juventude”, afirmou.
Além disso, a secretária citou aspectos sociais que interferem diretamente para que a violência contra jovens negros continue tenho um índice crescente nas estatísticas. “Aí fala que o menino está no tráfico, se desvirtuando, mas quais oportunidades são oferecidas para ele? Nós temos que dar oportunidades, começando por uma escola integral, que funcione os dois turnos, que esses meninos tenham acesso à ciência, tecnologia, a arte, cultura, porque ai quando ele sair de tarde estará com outra cabeça, cabeça vazia é oficina do diabo. Se a pessoa não tem alternativa, não vai ao cinema, não tem coisas bacanas, ele não foi ensinado para valorizar a leitura.”
Olívia afirma ainda que as iniciativas boas precisam ser incentivadas e propagadas, para que o quadro do país comece a mudar em sintonia: “Nós temos uma grande biblioteca pública no estado, mas que muita gente não utiliza porque pensa até que é museu de livro. Por exemplo, têm comunidades fazendo coisas maravilhosas, temos em Salvador 14 bibliotecas comunitárias. As pessoas estão fazendo coisas legais, não podemos focar só no negativo porque acaba se criando um mantra de negatividade que gera uma sensação de que isso não tem fim. Na TV o que vemos? Violência, nos filmes, nas programações, isso é um ciclo”.
“Qual a porta de saída da violência? Precisamos de um conjunto de ações: divisão de renda, distribuição de renda, qualificação da educação, oportunidades para a juventude, geração de emprego. O enfrentamento é um conjunto de iniciativas. Precisamo enfrentar o racismo, porque tem pena de morte para negros neste país gente. Precisamos falar sobre isso. Esses meninos não têm nem direito a julgamento. Ele é assassinado sem nem ser julgado, estava com droga na mão, morreu? Era do tráfico, já justificou, acabou. Morte de negro é banal, morrem como se fossem baratas. A sociedade legitima esse extermínio”, denuncia.
Varela Notícias