A vitória do republicano Donald Trump nos Estados Unidos chocou muita gente no mundo inteiro, inclusive o Brasil. Em julho, o ministro das Relações Exteriores do País, José Serra, afirmou que uma eventual vitória do milionário — cuja campanha se baseou em um discurso protecionista para a economia e de rejeição aos imigrantes na política interna — seria “desastrosa”.
Para a professora de Relações Internacionais da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) Cristina Pecequilo, as declarações do ministro mostram que o Brasil “quebrou as pernas” com a eleição do Trump nos EUA.
De acordo com Cristina, tanto Serra quanto o governo brasileiro esperavam uma vitória de Hillary Clinton nas eleições de novembro. Para ela, a eleição da democrata seria o começo de uma maior aproximação entre ambas as nações, podendo até desencadear conversas por uma “nova Alca” — a polêmica zona de livre comércio proposta pelos EUA no final do século passado.
Ainda assim, ela acredita que “o Brasil para os EUA é relevante, mas não importante”, já que as políticas adotadas no relacionamento conosco não têm tratamento diferenciado das aplicadas para o restante da América Latina.
Apesar disso, ela destaca que o Brasil é uma potência regional, e que o relacionamento com os vizinhos latino-americanos trouxe vantagens para o país ao longo dos últimos anos.
— A gente superestima o que os EUA podem nos oferecer, e relativizamos a importância do Brasil no eixo Sul. Mesmo na gestão do Obama, ele bateu muito forte nos países emergentes. Isso é claro, porque eles querem manter a hegemonia.
Comércio
As declarações de Cristina foram dadas durante o seminário EUA: impactos de uma eleição singular, coordenado pelo INCT-INEU (Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Estudos sobre os Estados Unidos) na sexta-feira (25).
Professor do Programa de Pós-graduação em Relações Internacionais San Tiago Dantas (Unesp, Unicamp e PUC-SP), Tulio Vigevani também participou da mesa, destacando que a eleição de Trump nos EUA pode significar um novo ciclo de política internacional, caso o republicano adote à risca o protecionismo que propôs ao longo da campanha.
— Não dá para saber qual vai ser a política dele porque ela se afasta da política das grandes empresas e da liberalização do mercado.
De acordo com o especialista, mesmo que as taxas e tarifas específicas que Trump pretende impor ao México e à China sejam consideradas transitórias, ainda romperiam o conceito básico de livre-comércio adotado mundialmente.
R7