O cantor e compositor Tom Zé participa de um bate-papo na abertura do projeto Tropicália: Régua e Compasso (A Bahia Cultural Pré-Tropicalista), na quinta-feira 8 de dezembro, às 17h, quando será iniciada uma exposição no Palacete das Artes. A mostra conta com peças de artistas da música, da dança, e das artes visuais em evidência nos anos 60, como Lina Bo Bardi, Walter Smetack, Yanka Rudzka, Carybé, Juarez Paraíso, Lênio Braga, Jenner Augusto, Pierre Verger, além de fotos dos acervos de Lia e Silvio Robatto, recentemente doados ao Centro de Memória da Bahia. Esses artistas participaram da cena cultural baiana anterior ao surgimento da Tropicália, da qual Tom Zé é um dos ícones. Palestras, debates, seminário, lançamento de revista, diálogos relacionados com as linguagens artísticas e mostras musicais acontecerão na programação gratuita que segue até março de 2017, ano de comemoração dos 50 anos do movimento tropicalista.
“Decidimos iniciar agora as comemorações com uma série de eventos durante quatro meses que pretendem, no final das contas, elevar ainda mais a nossa autoestima”, considera o secretário da Cultura, Jorge Portugal. “Vamos rememorar o efervescente ambiente cultural de invenção e ousadia vigente na Bahia de meados dos anos 50 a meados dos anos 60. Nesse período os jovens contavam com amplas condições para receber conhecimentos avançados, afinar a sensibilidade artística e assim desenvolver o talento natural de cada um”, conclui.
O projeto Tropicália: Régua e Compasso será realizado pela Fundação Cultural do Estado da Bahia (Funceb), Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural (IPAC) – ao qual pertence o Palacete das Artes -, e Fundação Pedro Calmon (FPC), entidades vinculadas à Secretaria de Cultura do Estado da Bahia (SecultBA). A concepção do projeto é de Fernanda Tourinho, diretora da Funceb, e a curadoria da exposição é de Murilo Ribeiro, diretor do Palacete das Artes.
Estão previstas ações semanais às terças, quartas e quintas-feiras, das 17h às 19h. Em algumas terças acontecerão edições da Sopa de Maria, rodas de conversas sobre as linguagens artísticas, com participação de intelectuais e artistas que viveram o período em foco (1956-1966) e jovens artistas da atualidade. Enquanto debatem, vão cozinhando uma sopa que será servida ao final do evento, tal qual se dava na varanda da casa de Maria Moniz, no Jardim Baiano, nos anos 60. Como homenagem, Maria será a anfitriã da primeira sopa, no dia 20 de dezembro.
Sempre às quartas-feiras, o já consagrado projeto “Cinema no Palacete” abrigará uma programação de filmes emblemáticos do período, intitulada Uma Ideia na Cabeça, cuja estreia, no dia 14/12, traz o filme Bahia de Todos os Santos (1960), de Trigueirinho Neto. Em algumas quintas-feiras acontecerá o Essa Noite se Improvisa, um misto de palestra, debates e apresentações musicais específico para a linguagem da música.
Caldo de discussão – Fernanda Tourinho explica que este “será um evento de formação, com o qual queremos que o jovem de 2016 conheça o que faziam, quais filmes assistiam, o que liam, o que debatiam, o que cantavam, o que aspiravam, enfim, como eram os jovens nos anos 1960 na Cidade da Bahia. Este é o nosso foco, fervilhar estes conhecimentos vai nos levar a inúmeras discussões, novas possibilidades de reflexões, relacionar períodos da história social, política e cultural da Bahia e do Brasil”.
A partir desta proposta, o IPAC – com seus acervos museológicos e equipamento imobiliário -, a FPC, com pesquisa focada na memória e na produção literária do período, se uniram à Funceb para, transformar esta exposição num evento multi-linguagem, retratando a ambiência artístico-cultural do período.
Encerrando a programação será realizado, nos dias 29 e 30 de março, um seminário organizado pela Fundação Pedro Calmon para lançamento da Revista História da Bahia – Edição Especial Tropicália. O diretor da FPC, Zulu Araújo, comenta a importância deste projeto, destacando que ele revisita o ambiente cultural baiano, entre décadas de 50 e 60. “É necessário visar a valorização destes aspectos. Tudo isto é memória. Memórias do período pré-Tropicália, que foi tão bem traduzido pelos nossos artistas maiores, Caetano Veloso e Gilberto Gil”, resume.
Diretor do IPAC, João Carlos de Oliveira fala da importância desta ação para a dinamização do parque museal e chama atenção para o fato de que a parceria do Instituto com a Funceb e FPC são permanentes. “Os acervos dos museus do IPAC são de riqueza inestimável, cobrindo períodos do barroco, passando pelo romântico e clássico (séc. XIX), até o moderno e contemporâneo (sécs. XX e XXI), além de itens de vários países africanos”, ressalta, “colocá-los à disposição de outras ações artísticas, de mediação ou fruição, é atribuir novos signos ao patrimônio”, conclui.
O formato do projeto Tropicália: Régua e Compasso segue a fórmula bem-sucedida de A Bahia é África Também, projeto realizado no ano de 2015, pela Funceb e IPAC e que, pela primeira vez, desde a doação da Coleção de Arte Africana Claudio Masella ao Instituto, tornando-se acervo permanente do Centro Cultural Solar Ferrão, teve um recorte levado a outro espaço, no caso o Palacete das Artes. Os Museus do IPAC – Dimus cederão peças dos acervos da Coleção Walter Smetak e Lina Bo Bardi (permanentes no Solar Ferrão) e de obras do acervo do MAM para o projeto.
Ambiência – De 1956, com Edgard Santos como reitor da Universidade da Bahia, até 1966, um grande caldeirão cultural agitava Salvador, aglutinando estudantes de todas as partes do estado. Antonio Rizério definiu aquele período como Avant Gard na Bahia. A presença de nomes como o da arquiteta Lina Bo Bardi, que veio dirigir o MAM-Bahia, os alemães Koellreutter e Widmer, na direção da Escola de Música, a polonesa Yanka Rudzka à frente da criação da Escola de Dança, Martim Gonçalves, na Escola de Teatro, Agostinho Silva na concepção do Centro de Estudos Afro-Orientais, onde Pierre Verger, Waldir Freitas, Nelson Araújo e outros começavam a discutir a nossa herança africana, a inauguração do Teatro Vila Velha, a construção do Teatro Castro Alves e da sua Concha Acústica, Walter da Silveira e seu Cineclube e Glauber Rocha inventando o Cinema Novo da Ufba – fazem desta época uma das mais prolíferas e colocam a Bahia na vanguarda cultural do país.
SERVIÇO
TROPICÁLIA: RÉGUA E COMPASSO
Abertura: dia 8 de dezembro, às 17h. Bate-papo com Tom Zé; visitação da exposição; apresentação de professores e alunos do Laboratório de Música do CFA da Funceb, capitaneados por Letieres Leite; apresentação especial de artistas “smetakeanos” (Tuzé de Abreu, Bárbara Smetak, Uibutú Smetak, Paulo Dourado, entre outros).
Programação até março, às terças, quartas e quintas-feiras sempre a partir das 17h:
A Sopa de Maria: Terças-feiras: 20/12, 10 e 24/01, 7 e 14/02, 14 e 28/03
Uma Ideia na Cabeça: todas as quarta-feiras até 30/03
Essa Noite se Improvisa: Quintas-feiras: 5 e 19/01, 09/02, 23 e 28/03
Seminário e lançamento de revista: dias 29 e 30/03