A instabilidade política causada pela Operação Lava Jato pode ameaçar a recuperação da economia brasileira, na avaliação do economista Eduardo Velho, professor da Fundação Getúlio Vargas e economista-chefe e diretor de fundos do banco de investimento privado INVX Global Partners. A afirmação foi feita durante uma leitura do cenário atual realizada hoje (14) como parte do Boletim de Política Econômica da Ordem dos Economistas do Brasil.
“O grande pronto hoje é se o efeito das delações efetivamente vai impactar a base [do governo]e o avanço e aprovação das reformas. Já houve delações que não impactaram nada”, ressaltou Velho.
Um exemplo foi a saída do assessor especial da Presidência da República, José Yunes, que pediu hoje para ser afastado do cargo, por ter sido mencionado no depoimento do ex-vice-presidente de Relações Institucionais da Odebrecht, Cláudio Melo Filho.
Essas turbulências podem afetar a economia, na opinião de Velho, na medida que afetem a base de apoio do governo no Congresso e dificultem a capacidade de ação do Executivo. Ele ponderou contudo que trocas recentes de ministro não afetaram, por exemplo, a tramitação da PEC 55, que limita os gastos públicos e foi aprovada em votação final ontem (13) no Senado.
“O mercado percebeu que o mais importante não é a pessoa que está como ministro, mas sim a votação das reformas. Saiu Henrique Alves [ministro do Turismo], o mercado seguiu melhorando. Saiu o [ministro do Planejamento, Romero] Jucá, o mercado seguiu melhorando. O grande ponto é a coalização política”, argumentou Velho.
A preocupação do professor tem respaldo em fatos concretos. Na última segunda-feira (12), o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, pediu para que o plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) julgasse a decisão do ministro Marco Aurélio, que determinou a instalação de uma comissão destinada a analisar o impeachment do presidente Michel Temer.
Segundo Velho, uma nova mudança de governo poderia descontinuar ações que, na sua avaliação, vão no rumo certo. “Eu torço para que não haja uma saída [do presidente Michel Temer]. Eu acho que a equipe econômica está comprometida com o ajuste fiscal e a queda dos juros [e com] uma situação mais estável e sustentável”, enfatizou.
Redução dos juros e Trump
O economista e professor defende que se aproveite o atual momento de inflação em queda e economia desaquecida, principalmente pela alta do desemprego, para fazer cortes na taxa básica de juros. “Há espaço para essa flexibilização monetária. Flexibilizar o custo do crédito, do investidor. Mexer no lado da oferta, melhorar o ambiente de negócios”, ressaltou.
Essa ação poderia, segundo ele, garantir a expansão da economia, ainda que pequena, no próximo ano. “Estou confiante que esse efeito da queda dos juros vai ser fundamental, ano que vem, para evitar o PIB [Produto Interno Bruto] negativo”, acrescentou. Para 2017, Velho prevê um crescimento do PIB de 0,57%. E para 2016 a sua estimativa é que a economia brasileira sofra retração de 3,56%.
No cenário internacional, Velho destaca que é preciso estar atento as mudanças de rumo nos Estados Unidos, com o governo de Donald Trump, enfatizando que ainda há muitas incertezas sobre o que o magnata americano efetivamente fará. “Agora, governo republicano normalmente gasta mais. Quando você aumenta os gastos, os juros podem aumentar um pouquinho”, afirmou.
Agência Brasil