O ano de 2016 será lembrado por crises políticas, mas, para entender o que ocorreu nos últimos 12 meses, é preciso voltar ao fim de 2015. No dia 2 de dezembro de 2015, o então presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), aceitou pedido de impeachmentda presidente Dilma Rousseff, abrindo um período de tensão política. Os desdobramentos e descobertas da Operação Lava Jato elevaram a temperatura, com a prisão de parlamentares, ex-ministros e empresários. Nos últimos meses, uma crise entre poderes teve como protagonistas Câmara, Senado e Supremo Tribunal Federal (STF).
Cunha, que enfrentava processo no Conselho de Ética, anunciou que aceitaria o pedido de impeachment, apresentado pelos advogados Hélio Bicudo, Miguel Reale Jr e Janaina Paschoal, horas depois de o PT decidir que seus três representantes no colegiado votariam pela cassação. Dez meses depois, Cunha perdeu o mandato e foi preso pela Polícia Federal em Curitiba.
O ano começou tenso. Em fevereiro, na sessão de abertura dos trabalhos do Congresso Nacional, a então presidenta Dilma foi vaiada por deputados e senadores ao defender a volta da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF) para tentar estabilizar a economia. A relação entre o Executivo e o Legislativo foi difícil todo o tempo. Relembre alguns dos principais fatos que marcaram a política em 2016.
Delcídio é solto e João Santana, preso
No dia 17, Lula toma posse na Casa Civil, mas, um dia depois, o ministro do STF Gilmar Mendes concede liminar a um pedido feito pelo PSDB e PPS e suspende a eficácia da nomeação, além de manter a competência da Justiça de primeira instância para analisar procedimentos criminais contra Lula.
Câmara aprova impeachment de Dilma
Gim Argello é preso
STF afasta Eduardo Cunha
Primeiras baixas
Tia Eron decide cassação de Cunha
Lava Jato derruba terceiro ministro
Pouco mais de um mês da posse, em 16 de junho, deixa o cargo o ministro do Turismo, Henrique Eduardo Alves, também citado em depoimento do ex-presidente da Transpetro. Acusado de ter recebido propina disfarçada de doação eleitoral no valor de R$ 1,55 milhão, Alves nega.
Ex-ministro Paulo Bernardo é preso
Em 23 de junho, Paulo Bernardo, ex-ministro dos governos Lula e Dilma, é preso, sob a acusação de fazer parte de um esquema de fraudes em contratos de prestação de serviços de informática no valor de R$ 100 milhões, entre os anos de 2010 e 2015, no Ministério do Planejamento. Na ocasião, Carlos Gabas, que foi ministro da Previdência no governo Dilma, foi alvo de busca e apreensão.
Advogado-geral da União sai
Em 9 de agosto, após desentendimento com o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, por ter pedido acesso a inquéritos de políticos envolvidos na Lava Jato sem comunicar a Temer, o advogado-geral da União, Fábio Medina Osório, deixa o cargo. Ele acusa o governo de “querer abafar a Lava Jato”. O Planalto nega.
Congresso aprova PEC do Teto de Gastos
Pouco mais de um mês após assumir a Presidência interinamente, Temer envia ao Congresso a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que limita os gastos públicos por duas décadas à inflação. Ao tomar posse, Temer prometeu a medida para melhorar o ritmo da economia do país. A PEC foi criticada pela oposição e por diversos setores da sociedade. A medida foi aprovada pela Câmara e pelo Senado em dezembro, e já integra a Constituição.
Senado aprova impeachment; Temer assume definitivamente
As grades que dividiram as pistas da Esplanada dos Ministérios em abril, quando a Câmara aprovou a abertura do processo de impeachment, voltam a ser instaladas no dia 29 de agosto, quando Dilma vai ao Senado fazer, pessoalmente, sua defesa no processo de impeachment. Durante mais de 13 horas, ela responde a perguntas de 48 senadores, e nega, com veemência, ter cometido crime de responsabilidade. Dois dias depois, o então presidente do STF, Ricardo Lewandowski, comanda a sessão em que 61 senadores votam pelo afastamento de Dilma e e 20, contra. Lewandowski surpreende e aceita pedido para votar separadamente se, com o impeachment, Dilma fica inelegível por oito anos e impedida de exercer funções pública. Na segunda votação, o quórum foi insuficiente para impedir Dilma de exercer cargos públicos, e ela manteve os direitos políticos.
Neste dia, Dilma e Temer recebem a notificação do Senado e, à tarde, ele assume definitivamente a Presidência. Pouco antes de deixar o Palácio do Planalto, Dilma afirma que o impeachment foi “o segundo golpe de Estado” que enfrentou na vida”. Segundo Dilma, os senadores que votaram por seu afastamento definitivo “consumaram um golpe parlamentar”.
Já Temer, em seu primeiro pronunciamento oficial como presidente, promete colocar o “país nos trilhos” durante os dois anos e quatro meses restantes do mandato. Ele rebate a tese de que o impeachment foi um “golpe”, como afirmam os aliados de Dilma.
Eduardo Cunha cassado
Lava Jato prende Mantega e Palocci
Cunha é preso pela PF
Crise entre Poderes
Ao anunciar uma ação do STF contra a decisão do magistrado, Calheiros disse que “um juizeco de primeira instância” não poderia ter autorização a operação no Senado. Para ele, isso só poderia ocorrer por decisão do STF. Também sobraram críticas ao ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, chamado por Renan de “chefete de polícia”.
No dia seguinte, em 25 de outubro, a presidente do STF, ministra Cármen Lúcia, rebateu, dizendo “onde um juiz for destratado, eu também sou”. Cármen Lúcia ainda alegou que estava com a agenda cheia para não aceitar um convite do presidente Michel Temer para participar de uma reunião com Renan e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia.
Já em 26 de outubro, Cármen Lúcia agendou para o dia 3 de novembro o julgamento da ação que poderia tirar Renan da presidência do Senado. No dia 27, o ministro Teori Zavascki, acolheu a representação do policial legislativo do Senado Federal Antônio Tavares dos Santos Neto e suspendeu provisoriamente os efeitos da Operação Métis, da Polícia Federal.
Ex-governadores do Rio são presos
Em novembro, foram presos dois ex-governadores do Rio de Janeiro; Anthony Garotinho e Sérgio Cabral. No dia 16, Anthony Garotinho, que exercia o cargo de secretário de governo do município de Campos dos Goytacazes, foi preso por agentes da Polícia Federal. Ele é um dos investigados na operação que apura o uso do programa social Cheque Cidadão para compra de votos na cidade de Campos em 2016. Após a prisão, Garotinho passou mal e foi levado para o Hospital Souza Aguiar, onde passou por avaliação médica. No dia seguinte, ao ser transferido para o Complexo Penitenciário de Bangu, Garotinho tentou evitar ser colocado dentro de uma ambulância por policiais, mas a cena foi vista em todo o país. No dia 24 de novembro, o plenário do TSE concedeu habeas corpus ao ex-governador do Rio, que foi solto, mas ficou proibido de manter contato com testemunhas do caso e de entrar no município de Campos até o final da instrução processual.
Calero x Geddel
Governo apresenta reforma da Previdência
Medidas de combate à corrupção
Depois de oito meses de tramitação, a Câmara aprova, com mudanças significativas, o pacote anticorrupção proposto pelo Ministério Público Federal (MPF) e pela força-tarefa da Lava Jato. As Dez Medidas de Combate à Corrupção, que chegaram ao Congresso na forma de projeto de iniciativa popular, com mais de 2 milhões de assinaturas, transformam-se em quatro, após o crivo dos deputados, que incluem temas considerados polêmicos, como a lei de abuso de autoridade. A proposta de punição a juízes e membros doinistério Público por abuso de autoridade provocou reação imediata do MPF e do Judiciário, segundo os quais os deputados “desconfiguraram” o projeto original, agiram contra a Lava Jato e em causa própria. Depois de o texto ser enviado ao Senado, no dia 14 de dezembro, o ministro Luiz Fux suspendeu a tramitação do projeto. Fux entendeu que houve erro de tramitação na Câmara e determinou a devolução do processo à Casa para nova votação. Tanto a Câmara quanto o Senado recorreram da liminar por considerarem que a decisão viola a separação dos Poderes. A decisão em plenário ficou para 2017.
STF tenta afastar Renan da Presidência do Senado
Impactos da delação da Odebrecht
A 20 dias do fim de 2016, em delação premiada entregue ao MPF, o ex-diretor de Relações Institucionais da Odebrecht Cláudio Melo Filho diz que o presidente Michel Temer, quando disputou a reeleição como vice na chapa de Dilma em 2014, pediu “apoio financeiro” do grupo. Segundo Melo Filho, o então presidente do grupo, Marcelo Odebrecht, comprometeu-se com o repasse de R$ 10 milhões para as campanhas do PMDB. O delator cita ainda o ministro Eliseu Padilha, o secretário executivo do Programa de Parcerias de Investimentos, Moreira Franco, os presidentes da Câmara e do Senado, além de políticos de diferentes partidos. Todos os citados negam ter cometido ilícitos. Em documento enviado ao procurador-geral da República, Rodrigo Janot, o presidente Temer pediu celeridade às investigações oriundas da delação da maior empreiteira do país.
STF recebe delações da Odebrecht
Em 19 de dezembro, Janot envia ao STF os acordos de delação premiada de 77 executivos da Odebrecht, firmados com a força-tarefa de investigadores do MPF na Lava Jato. Os documentos estão trancados em uma sala-cofre. Com isso, cabe ao ministro Teori Zavascki decidir pela homologação dos depoimentos, fase em que as oitivas passam a ter validade jurídica. Na segunda-feira (19), após a última sessão do STF neste ano, Zavascki informa que vai trabalhar durante o recesso para analisar os depoimentos dos executivos da Odebrecht.
Agência Brasil