A primeira vista, o barracão num jardim em Swansea, no País de Gales, não parece ter nada que chame a atenção.
Mas chegando perto você pode escutar o barulho de uma máquina a todo vapor.
Esse é o QG de uma dupla que se chama Team Unlimbited (um trocadilho em inglês com as palavras ‘ilimitado’ e ‘membro’), que está numa missão voluntária para fornecer, de graça, próteses feitas em impressora 3D para crianças que nascem sem braços ou pernas.
As crianças escolhem seus próprios modelos e cores, e Stephen Davies e Drew Murray se encarregam do resto.
A demanda é alta, e o barracão está cheio de fotos de crianças de todo o mundo mostrando o logotipo da dupla.
O próprio Stephen Davies, dono do barracão, engenheiro e pai de três crianças, nasceu sem uma mão.
Foi durante sua busca por uma prótese que ele conheceu o consultor em tecnologia da informação Drew Murray. Ele faz parte de uma rede de voluntários que produz próteses 3D gratuitas para crianças.
Após ganhar uma mão de Murray – a primeira prótese que ele fez para adultos -, Davies investiu em duas impressoras 3D e materiais.
“Tudo o que fazemos é bancado por mim, Stephen e generosas doações”, afirma Murray.
“Não somos uma instituição de caridade, apenas dois caras em um barracão. É recompensador usar nossas habilidades profissionais de um modo diferente.”
A primeira pessoa a ser beneficiada pela dupla foi Isabella, que hoje tem nove anos.
Ela consegue se virar bem com seu “bracinho”, como chama: a prótese facilitou atividades como aprender piano, passear com o cachorro, jogar bola com o irmão William e folhear livros.
“A confiança que a prótese deu a ela foi incrível”, diz Sarah, mãe de Isabella.
Um vídeo da menina recebendo sua prótese foi visto mais de 2 milhões de vezes no YouTube e escolhido pelo Google como um de seus destaques do ano.
Cada mão custa cerca de R$ 120 em materiais e leva 12 horas para ficar pronta. A dupla reconhece que está abarrotada de pedidos.
“Trabalho em meu emprego normal o dia todo, tenho filhos, um bebê de dez meses… então passamos nossas noites e finais de semana fazendo isso”, diz Davies.
“Fazemos tudo de graça, não cobramos nem os custos de envio.”
As próteses não são robustas como os modelos tradicionais, que podem custar milhares de reais. Mas, como as crianças crescem rapidamente e constantemente precisam de modelos novos, não há necessidade de um material de longa duração.
Glyn Heath, professor de protética da Universidade de Salford, em Mancheter, ressalta também que as próteses feitas em impressoras 3D não funcionam para todos os casos, sobretudo para membros inferiores.
“Os materiais que você pode usar (nas impressoras 3D) são limitados e as propriedades desses materiais não são necessariamente apropriadas para suportar cargas pesadas”, disse Heath à BBC.
Da BBC Brasil