Entenda por que nem sempre média reflete valor real do automóvel
Muitas concessionárias e lojistas anunciam a compra de usados pagando o preço indicado pela Tabela Fipe. A proposta parece tentadora, mas não representa necessariamente o melhor negócio para quem está vendendo seu automóvel.
A dúvida aparece ao consultar o preço de determinado modelo no site da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas). Ao compará-lo com anúncios do mesmo modelo, especialmente aqueles publicados em sites de compra e vendas de veículos, em geral o valor médio informado na segunda opção é maior.
Em pesquisa realizada pela reportagem de UOL Carros nesta semana, o Chevrolet Onix LT 1.0 2014 aparece na Fipe com preço médio de R$ 30,9 mil, enquanto o mesmo carro, com até 45 mil quilômetros rodados (cerca de 15 mil km por ano de uso), custa cerca de R$ 33,8 mil na média em sites de anúncios de carros.
Não há o que discutir: a Fipe é hoje a principal referência do mercado, servindo como base para o cálculo do valor de seguro, financiamentos e até tributos, como o IPVA. Tanta é sua importância que o índice é usado inclusive nos sites especializados (incluindo UOL Carros), como fonte de pesquisa adicional.
O que causa as diferenças de preço
A explicação para as diferenças de valores como a citada acima está na forma como a tabela é calculada. Segundo vídeo publicado oficialmente pela fundação, o índice representa o preço médio ao consumidor final apurado com vendedores em todo o país para determinada marca e modelo de veículo, com pagamento à vista.
Para fins estatísticos, esse cálculo exclui os preços muito altos e muito baixos (resultado de estados excepcionalmente bons ou ruins de conservação), além de desconsiderar veículos para revenda, blindados, carros para frotistas e de importação independente, por exemplo.
Por outro lado, os sites de compra e venda, que fazem o papel de intermediadores, informam a média do preço cobrado por determinado carro com base nos anúncios publicados, que incluem desde unidades à venda por concessionárias e lojistas até veículos ofertados por particulares.
Daí a tendência de a média subir nesses casos. “Como a transação é feita diretamente entre vendedor e comprador, a tendência é o preço ser jogado mais para cima nos sites, até como uma margem de negociação, antes de fechar negócio”, avalia Vitor Klizas, presidente da consultoria Jato Dynamics Brasil.
Além disso, os sites trazem diferentes filtros, que podem refinar a busca por local, quilometragem, faixa de preço e uma série de outras características. Isso permite, por exemplo, pesquisar anúncios de determinado automóvel em um Estado ou região específicos, com resultados mais fiéis à realidade daquele mercado.
“Cada região é um mercado com nuances próprias. Picapes não têm a mesma valorização no Sudeste na comparação com o Centro-Oeste, onde esse tipo de veículo tradicionalmente é mais procurado e, portanto, tem maior valor de revenda”, explica Amos Lee Harris Júnior, consultor automotivo e presidente-executivo da Universidade Automotiva.
Ainda a melhor referência
Considerando todos esses fatores, vender o carro pela Fipe definitivamente não é garantia de conseguir o melhor preço, muito pelo contrário. Mas a tabela é um ponto de partida fundamental para começar as negociações.
Como a Fipe é baseada no preço médio cobrado pelos vendedores, que necessariamente precisam obter sua margem de lucro, geralmente não resta muito espaço para elevar o valor informado na tabela.
“Por padrão, os vendedores costumam partir da Fipe e então depreciar o preço médio com base no estado do carro e da quilometragem, considerando reparos que serão necessários para revendê-lo. A não ser que esteja impecável, com até 30 mil km rodados, revisões em dia na concessionária e sem detalhes”, alerta o consultor da Universidade Automotiva.
Na venda para concessionárias e lojistas, o alardeado pagamento pela Fipe acontece, quase sempre, quando o usado é deixado como parte do pagamento na troca por um modelo mais novo ou zero-quilômetro.
Nesses casos, a depender das condições de conservação, é possível até receber até mais que o valor informado na tabela, especialmente se, na troca, o novo veículo for financiado. “O vendedor deixa de ganhar na revenda posterior do usado para faturar, realmente, com o financiamento do novo, que tem uma rentabilidade maior.
uol