Uma criança chega ao hospital reclamando de dor no ouvido. O médico enxerga algo lá dentro. Pode ser um feijão ou uma pilha, que foi parar ali em alguma brincadeira. Mas quando puxa com uma pinça: é uma barata!
Casos de insetos que penetram no corpo humano existem, apesar de não serem tão comuns. Em uma cidade na Índia, foi retirada uma barata viva dos seios da face de uma mulher. Ela entrou pelo nariz e caminhou dentro do crânio, pelos canais da face. A indiana conta que sentia o bicho se mexendo lá dentro.
As baratas e alguns insetos gostam de locais escuros e estreitos e podem penetrar em orifícios naturais.”
Vidal Haddad Jr., professor da Faculdade de Medicina da Unesp de Botucatu
A lista de invasores não é pequena. Baratas, besouros, tesourinhas, larvas de moscas (miíases e bernes), bicho de pé (que é uma pulga), vermes e peixes, lista o médico.
Eles saem de seus esconderijos para entrar por qualquer porta: nariz, ouvido, genitais, ânus e até na boca.
“Aquela velha frase da sua mãe que dizia para lavar bem a boca e não deixar restos de açúcar por que as baratas vêm à noite roer, por incrível que pareça, é verdade. Já vimos crianças com erosões nos cantos dos lábios por ação de baratas“, conta Haddad.
Há casos documentados de infestação por larvas de mosca varejeira, doença chamada de miíase e popularmente batizado de bicheira. As moscas colocam ovos em tecidos da boca. Em pessoas doentes, isso acontece em machucados, tumores e outras áreas necróticas, que viram alimento para as larvas quando os ovos eclodem.
Segundo Patricia Thyssen, bióloga e professora do Instituto de Biologia da Unicamp, um problema anatômico, como a falta de cobertura de palato, agrava o problema. Ela conta que em um dos casos documentados, “a pessoa cuspia e vomitava larvas. Assoava o nariz, e tinha larva de mosca”.
Insetos pequenos também podem até entrar nos olhos. “Fica ali como se fosse um cisco, na região anterior do olho”, diz Thyssen.
A bióloga explica que são recorrentes casos em que larvas de mosquinhas de banheiro (Psychoda) entram na região genital de crianças que sentam no chão do box na hora do banho. “A larva é criada no ralo do banheiro. Ela come bactérias, fungos e resto de pele”, diz a especialista.
Já Haddad lembra o exemplo do peixe chamado candiru, pequeno bagre típico da região amazônica que se alimenta de sangue, pode ser atraído pelo cheiro de urina humana e penetrar pela uretra.
“Como não tem retorno e se fixam por espinhos, é muito difícil retirá-los e o acidente pode ser muito grave”, afirma o médico.
Até onde eles podem invadir o corpo?
Os animais invasores não percorrem grandes trajetos em nosso corpo. Uma barata, por exemplo, “pode chegar até onde der. No ouvido, vai haver um ponto que ela vai parar”, diz Haddad.
Temos uma série de barreiras que vão proteger nossas cavidades. Insetos podem causar algum dano no canal auditivo, mas não penetram tão fundo, não vão comer o cérebro.”
Patricia Thyssen, bióloga
As larvas de mosquinhas de banheiro que entram no canal genital também não chegam até o útero.
Saem ou morrem
Eles também não sobrevivem por muito tempo no nosso organismo. “No caso da Índia, a barata se alojou nos seios da face, que tem ligação com o nariz. Ali ela cabe… E ficou lá, viva. Uma hora ou outra morreria, mas isto demora…”, diz Haddad.
De acordo com Thyssen, nem mesmo as larvas de mosca ficam vivas por muito tempo. “A mosca entra, coloca os ovos, eles eclodem e ela completa um ciclo inteiro. Sintomas não passam mais de 7 dias”, diz.
O corpo não expele naturalmente e o inseto não se dissolve porque tem quitina [integrante do exoesqueleto]. Vai causar incômodo. Se a pessoa não perceber o inseto entrando, vai procurar atendimento médico naturalmente”
Precisa retirar
A retirada não requer cirurgia e na maioria das vezes pode ser feita em ambulatório médico. De acordo com Haddad, os bichos são removidos com aparelhagem específica de retirar corpos estranhos.
Baratas são sujas. Ao entrarem em nosso corpo, podem levar bactérias e causar infecções. “Não quer dizer que aconteça. Os profissionais que cuidam de problemas deste tipo comumente usam antibióticos, o que prevenirá infecções posteriores”, diz Haddad.
uol