O objetivo era criar um sensor para detectar gases tóxicos, mas um grupo de pesquisadores brasileiros, franceses e espanhóis acabou desenvolvendo um modelo de “bafômetro” para livrar os pacientes com diabete das incômodas picadas no dedo para verificar o índice de glicemia no sangue, segundo reportagem do jornal O Estado de S. Paulo.
O projeto teve início em 2014 e, com os aprimoramentos previstos e testes clínicos, pode se tornar uma realidade em quatro anos.
O dispositivo consegue detectar o nível de glicemia no paciente por meio da acetona presente no hálito dele. Segundo Luis Fernando da Silva, professor do Departamento de Física da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), a acetona é exalada no hálito de todas as pessoas, mas aparece em maior quantidade nas pessoas com diabete.
“O paciente com diabete tem um nível de acetona maior do que o de uma pessoa saudável. É quase o dobro. Em uma pessoa saudável, fica em torno de 0,3 a 0,9 parte por milhão de acetona. Já na pessoa com diabete, é superior a 1,8 parte por milhão”, afirma Silva. De acordo com ele, a ideia é que o dispositivo seja confeccionado como uma espécie de “bafômetro”. “Ele forneceria o nível de diabete sem a necessidade de um exame invasivo”, ressalta.
Segundo Silva, o dispositivo utiliza um composto chamado tungstato de prata, que é sensível à acetona. Inicialmente, o objetivo era detectar gases tóxicos utilizando o equipamento. “Reportamos como sensor de ozônio, mas vimos que é promissor como sensor de acetona, o que permitiria aplicar na área médica.”
Aprimoramento
O pesquisador, que também é integrante do Centro de Desenvolvimento de Materiais Funcionais – núcleo ligado à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) -, diz que, embora o protótipo tenha se mostrado eficiente para detectar a substância mesmo em pequenas quantidades, ainda precisa de aprimoramentos.
“Ele é reversível”, diz o pesquisador. “Após detectar, pode ser utilizado novamente. Estamos estudando a vida média e, para chegar para a população, pode demorar em torno de quatro anos. Estamos pesquisando também materiais para ter uma ação melhor no caso de diabete. Para detectar, é preciso aquecer até 300 °C e sabemos que há materiais que funcionam em temperatura ambiente.”
O grupo é formado por pesquisadores da UFSCar, Universidade Estadual Paulista (Unesp), Universidade de São Paulo (USP), Universidade Estadual do Piauí (UEP), Universitat Jaume I (Castellón, Espanha) e da Aix-Marseille Université (Marseille, França).
uol