Hoje, 19 de fevereiro, é aniversário da conquista do bicampeonato brasileiro do Esquadrão de Aço. Fato ainda hoje inédito para os clubes do Nordeste do Brasil.
São 28 anos da emocionante partida no Beira Rio, dentro de Porto Alegre, que selou a chegada da segunda estrela tricolor.
Um dia para ser lembrado, exaltando os ídolos que escreveram essa linda página na história tricolor, mas também de reflexão, trabalho e busca pela terceira glória dourada.
Confira abaixo a reportagem da principal publicação de esportes na época, a revista Placar, sobre o assunto:
BAHIA É CAMPEÃO, BAHIA É CARNAVAL
É a folia irresistível de um título com a cara do povo brasileiro. Sofrido, mas empolgante. Um futebol alegre e malicioso que, sob o comando de Bobô e Ronaldo, conquistou o país
O Bahia campeão é o povo brasileiro. Que luta, sofre e até sangra. Que tem malandragem, ginga e malícia. Mas que, sobretudo, se exprime com talento, técnica e emoção. Mais que arrancar um empate em 0 x 0 com o Internacional dentro do Beira-Rio, o tricolor tirou a tarde de domingo para dar uma aula de disciplina tática, somada à sensacional virada de 2 x 1 na quarta-feira, para delírio da Fonte Nova. O passeio baiano pelo Sul garantiu o título e reeditou, 29 anos depois, a conquista da Taça Brasil de 1959. Estabeleceu também uma regra: este ano, o Carnaval não tem fim em Salvador.
Recomeçou no apito final do juiz , que ecoou na Praça Castro Alves e no Farol da Barra, a cerca de 3 090 km de Porto Alegre. Uma festa embalada ao som dos trios elétricos. Até quarta-feira é certo que o fricote corre solto pela Bahia.
A emoção maior ficou, porém, para os 800 privilegiados tricolores que puderam vibrar no Beira-Rio. Assistiram ao show durante os 90 minutos e engrossaram o coro dos próprios jogadores, quando o capitão Bobô levantou a taça; “É nossa, é nossa!” Líder e centro criativo da equipe, o meia Bobô explodiu em alegria. Ele planeja comemorar mesmo o título na quinta-feira com sua família em Senhor do Bonfim, distante 374 km de Salvador. Florisvaldo Tavares da Silva, “seu” Flori, como é conhecido o pai do ídolo, pôs de lado uma antiga paixão. “Sou torcedor do Vitória, mas tenho um filho campeão brasileiro”, exultava.
Mas o Bahia não se resumiu a Bobô. Sua grande virtude foi ser uma equipe humilde . Aliou o talento e a velocidade do ataque à aplicação em todos os setores . Uma marca do técnico Evaristo de Macedo. “Não impus nenhum sistema de jogo”, confessou depois da decisão. “Apenas aproveitei o potencial de cada jogador.”
Numa final que envolveu o Bahia, o misticismo não poderia ficar de fora. Em Salvador, o folclórico pai de santo Lourinho ganhou evidência ao expor os bonecos colorados devidamente amarrados e espetados por agulhas. Se os 2 x 1 foram consequência do vodu, ninguém sabe. A preocupação com o sobrenatural — ou simples malandragem — chegou até os dirigentes colorados, que permitiram a colocação de sete galinhas pretas, diversas pernas de carneiro assadas, velas, erva-mate e outras quinquilharias no vestiário adversário. Na dúvida, o massagista Alemão tratou de retirar os despachos antes de o time entrar. “Imagine se chimarrão e pé de boi vão ganhar jogo”, brincava depois da partida. “Eu sempre trago meu alho para fechar o time.”
Fechado mesmo ficou o gol do Bahia, com a inesquecível atuação do goleiro Ronaldo. Depois de passar toda a fase classificatória na reserva de Sidmar, ele teve sua chance a partir das quartas de final. Acabou garantindo os empates decisivos contra Sport, Fluminense e Inter com defesas dignas de uma estátua na Fonte Nova. Depois de assegurar o Carnaval mais longo da história da Boa Terra, o tricolor está disposto a espalhá-lo por toda a América do Sul e, quem sabe, promover um inesquecível enterro dos ossos do outro lado do planeta, no Japão, na decisão do Mundial Interclubes. Com tanta ginga, talento e malícia, o povo brasileiro está legitimamente representado.
INTERNACIONAL 0x 0 BAHIA
19/fevereiro/1989 – Local: Beira Rio (Porto Alegre-RS)
Juiz: Dulcídio Wanderley Boschilia (SP)
Público Presente: 79.598 espectadores
Cartão Amarelo: Norberto, João Marcelo e Gil
INTERNACIONAL : Taffarel, Luís Carlos Winck, Norton, Aguirregaray e Casemiro; Norberto, Luís Fernando e Luís Carlos Martins; Maurício (Hêider), Nílson e Edu Lima (Diego Aguirre). Técnico: Abel Braga.
BAHIA : Ronaldo, Tarantini, João Marcelo, Claudir (Newmar) e Paulo Róbson; Paulo Rodrigues, Gil Sergipano e Bobô (Osmar); Zé Carlos, Marquinhos e Charles. Técnico: Evaristo de Macedo.
(Do site oficial do ECBahia)