Imagine fazer a feira colhendo as frutas diretamente do pé. É um diferencial que pode atrair muita gente que quer garantir um alimento fresco e um hábito raro nas cidades.
Essa ideia acabou resolvendo dois problemas grandes de uma vez só para a família Trentin, de pequenos agricultores da região norte do Rio Grande do Sul: aumentaram as vendas e ainda economizaram mão de obra.
O sistema “colha e pague”, implantado há cinco anos na propriedade de Miguel e Maria Trentin, mais que triplicou a comercialização de determinadas culturas. Os clientes podem colher morango, caqui, maçã e pêssego.
Venda de uvas quase quadruplica com o sistema
Antes da adoção do modelo, os produtores vendiam cerca de três toneladas da fruta por safra. Neste ano, a comercialização bateu em 11 toneladas -um crescimento de quase quatro vezes.
“O pessoal vê aqueles cachos bonitos, suculentos, e vai tirando, tirando, tirando. Quando vê, compra mais do que compraria no mercado”, festeja Miguel, 56 anos, dono da propriedade de 6,2 hectares localizada em Aratiba (RS) – cidade de 6.500 habitantes a 420 quilômetros de Porto Alegre.
Preço pode ser metade do cobrado em mercados
Como os próprios clientes colhem os produtos que vão levar, e como a maioria deles já tem suas próprias embalagens, o custo por quilo pode sair até 50% mais barato que nos mercados da cidade.
Em um “sábado bom”, como diz o agricultor, dá para vender 700 quilos de uva. Ou faturar, só nessa fruta, R$ 1.400.
A uva é o carro-chefe da propriedade de Miguel e Maria, que tocam sozinhos a chacrinha. Ela rende o maior faturamento: o preço médio do quilo no sistema “colha e pague” ficou em R$ 2 na atual safra.
Nos supermercados de Aratiba e de Erechim, as duas cidades mais próximas da região produtora, o quilo não sai por menos de R$ 4. A produção dos Trentin, por quilo, custou R$ 0,30. O lucro passou dos R$ 18 mil na safra, que se estende de dezembro a fevereiro.
Morango também fez sucesso e custa menos da metade
Na lavoura de morango, o incremento nas vendas também foi notável: com o quilo da fruta vendido a R$ 14, contra os R$ 25 dos mercados urbanos, a produção saltou de uma para três toneladas na primavera de 2016, auge da safra.
Miguel salienta que o planejamento, garantido por uma parceria com Sebrae e Senar (Serviço Nacional de Aprendizagem Rural), significou uma renda três vezes maior para o casal desde 2011.
Eliminar mão de obra é estratégia para lucrar
Fabiano Nichele, consultor da Federação da Agricultura do RS (Farsul), destaca que o planejamento é fundamental para o sucesso desse tipo de modelo. “Ao eliminar a mão de obra, é possível abater 50% dos custos. Mas é preciso anotar tudo, saber quanto custa produzir e qual o preço que cada fruta terá”, adverte.
Miguel Trentin testou o modelo há cinco anos, quando ainda plantava melancias. Desde então, notou que as pessoas gostavam do sistema porque podiam escolher as frutas que mais se adequassem a seu gosto. Mais maduras, mais verdes, maiores, menores.
Além disso, os clientes usufruem de um dia, ou de uma tarde, ou de alguns minutos, no campo. “Faz muita diferença”, diz o professor Rafael Dino, morador de Aratiba.
Aos poucos, Miguel implantou o sistema nas plantações de morango, caqui, maçã e pêssego. Só as laranjas ficam de fora porque a produção é totalmente direcionada para a agroindústria de sucos da região.
uol