doença celíaca é uma desordem autoimune complexa com um forte componente genético envolvido no desenvolvimento e na gravidade da doença. As pessoas que apresentam o risco genético possuem genes responsáveis pela produção de duas moléculas essenciais para o desenvolvimento da doença celíaca: HLA-DQ2 e HLA-DQ8. Essas moléculas são responsáveis pela resposta inflamatória ao glúten, o mecanismo central do desenvolvimento da doença.
Apesar dessas moléculas serem necessárias para o desenvolvimento da doença, a presença delas não são garantia disso. Ou seja, mesmo que a predisposição genética exista, fatores ambientais também participam e são necessários.
A incidência da doença celíaca até então era apontada como sendo em torno de 1% da população em geral, mas diversos estudos indicam que essa incidência tem aumentado cada vez mais. Segundo dados estatísticos americanos, a prevalência da doença em adultos aumentou cerca de cinco vezes nos últimos 30 anos. A partir dessa informação, pesquisadores suspeitam que fatores ambientais cada vez mais presentes estão aumentando a frequência da doença em pessoas geneticamente predispostas.
Até o momento, os fatores ambientais considerados como risco para o desenvolvimento da doença eram a idade de exposição ao glúten, qualidade e quantidade de trigo, a amamentação, a composição da microbiota intestinal, infecções intestinais durante a infância, entre outros.
Essa semana, a notícia que abalou o mundo acadêmico, veio de um trabalho publicado na revista Science, por um grupo de pesquisadores que reúne as mais renomadas instituições, como Harvard, MIT, Stanford, entre outras. A pesquisa identifica um novo fator ambiental como uma das causas para o desenvolvimento da doença celíaca: um vírus.
A pesquisa analisou diversas etapas do desencadeamento da resposta imunológica da infecção por dois tipos diferentes de cepas de reovírus que infectam o intestino. Esses vírus são considerados benignos e estimuladores de uma imunidade protetora. Mas a pesquisa demonstrou que, mesmo não sendo considerados patogênicos, podem causar um desequilíbrio na imunidade intestinal. Na presença do glúten e de uma genética favorável, isso pode ser um gatilho para a doença celíaca.
A descoberta, por enquanto, foi realizada em modelos animais, mas abre uma amplo caminho para se investigar e aprofundar sobre novas causas relacionadas a doença celíaca. Cada vez mais se verifica a importância da microbiota intestinal no desenvolvimento de diversas doenças. Muito se fala em bactérias, mas esse trabalho mostra que devemos também estar atentos ao Viroma, ou seja, um conjunto de milhares de vírus que estão presentes no intestino e que influenciam no equilíbrio do mesmo.
G1