Ao completar um ano na cadeira presidencial, Michel Temer (PMDB) não deve ter muito a comemorar, dizem o presidente do Cofecon (Conselho Federal de Economia, Júlio Miragaya, e a professora do Departamento de Ciências Sociais da UFSCar (Universidade Federal de São Carlos) Maria do Socorro Sousa Braga.
Miragaya observa que uma das bandeiras da gestão Temer, a queda da inflação, não pode ser vista como um feito da equipe econômica.
— A forte retração da economia foi o que ocasionou a queda violenta da inflação. As pessoas não estão mais comprando. E só por isso que o governo pode começar a cortar juros. Entretanto, os bancos ainda não repassaram nem próximo desse corte da taxa básica.
Já Marcel Balassiano, pesquisador da área de economia aplicada do Ibre (Instituto Brasileiro de Economia) da Fundação Getulio Vargas, pondera que o governo teve, sim, participação direta na queda da inflação.
— São vários fatores em que o governo tem, sim, um peso forte nisso. Logicamente a recessão ajudou, mas o governo conseguiu melhorar as expectativas, reduziu o Risco País, tem também o câmbio que ajudou.
Na visão do pesquisador, a queda dos juros deve ser mais intensa neste ano, o que poderá facilitar o acesso ao crédito.
— O mercado espera até que os juros podem chegar a 8,5% no final do ano.
O principal ponto negativo de Temer nestes últimos 12 meses, de acordo com Miragaya, é a “estagnação da economia”. “Foram 3,2 milhões a mais de desempregados”, diz. Em abril, o País registrou 14,2 milhões de pessoas em busca de emprego.
Temer ainda culpa a antecessora, Dilma Rousseff, pelo aumento do desemprego, o que, na avaliação de Miragaya, não é verdade.
Balassiano entende que o desemprego ainda é bastante afetado pela recessão de dois anos.
— É o começo da recuperação, mas ainda em uma situação bem difícil. O emprego é a última variável a entrar e a última a sair.
O presidente do Cofecon critica a “estagnação econômica” que prevaleceu neste último ano.
— Ela [economia] não continua caindo da forma como estava. Há uma persistência de uma política macroeconômica que só favorece capital financeiro. Basta ver que o último dado, acumulado de 12 meses, o pagamento de juros da dívida pública deu R$ 432 bilhões. Ele vem se mantendo nessa faixa desde o [ex-ministro da Fazenda de Dilma Joaquim] Levy. E não consegue reduzir.
No aspecto político, as dificuldades também existem, e não são poucas. A Lava Jato assombra o primeiro escalão do governo. A impopularidade de Temer, agravada com as reformas trabalhista e previdenciária, tende a afastar alguns integrantes da base, diz a professora Maria do Socorro.
— O que ele [Temer] deixar para o segundo semestre vai ser ainda mais difícil de passar [no Congresso] dada a pressão que vem com as eleições de 2018. Haverá debandadas dos setores que apoiam o governo, porque se permanecerem, a tendência é que sejam afetados por essa baixa popularidade.
Para ela, há uma ausência de personalidade própria do PMDB no governo Temer.
— Me chama muito atenção a dificuldade de lançar um projeto político de fato para o País. O PMDB é um dos partidos mais antigos, mas falta essa alternativa de um projeto político que ele viesse a defender com mais garra. Mas o que a gente tem é um retorno do que parte do PSDB já defendia quando estava no poder.
Reforma previdenciária
Tema econômico, mas que tem que ser resolvido na política, a reforma da Previdência é, sem dúvidas, o maior desafio de Temer a partir de agora.
A base no Congresso para aprovar esse tema certamente não será a mesma, já que há divergências sobre o assunto em boa parte dos partidos. Inclusive, no fim de abril, o PSB se declarou contrário à reforma e ameaçou deixar o governo.
O pesquisador do Ibre diz que a reforma perdeu um pouco, pois o governo foi fazendo concessões em relação ao texto original, mas que ainda assim é necessária.
— A reforma tem que ser feita, é inevitável, a gente gasta muito. Mas vai ter que ser feita outra no futuro próximo. Mudou muito. O ideal seria uma reforma um pouco mais forte. Até porque a gente vai fazer uma agora e no futuro vai ter que fazer outra.
Balassiano diz que hoje, o Regime Geral de Previdência Social (aposentados pelo INSS) gasta cerca de R$ 500 bilhões por ano para pagar os benefícios de aproximadamente 33 milhões de pessoas. Ao mesmo tempo, o Regime Próprio de Previdência Social (servidores públicos) custa R$ 100 bilhões para custear pouco mais de 1 milhão de pessoas.
O presidente do Cofecon critica a forma como a reforma previdenciária foi colocada e diz que o próprio governo se contradiz ao aprovar a reforma trabalhista.
— A reforma trabalhista tende a criar um processo de ‘pejotização’. Uma pessoa que ganha R$ 3.000 recolhe R$ 960 para Previdência. Se eu substituo por um MEI [microempreendedor individual], ele vai recolher R$ 45 para a Previdência. Essa conta não fecha lá na frente.
Miragaya ainda ressalta que “do ponto de vista dos interesses da maioria da população, não está sendo bom. Não está gerando emprego e direitos sociais estão sendo perdidos”.
R7