O roteiro é dos mais conhecidos: apesar das horas na academia e da disciplina à mesa, dois ou três famigerados quilos não desaparecem por nada. Se esse não for o seu caso, certamente será o de alguma amiga próxima, já que a queixa é das mais comuns nos consultórios atualmente, como confirma Esthela Conde, médica com especialização em nutrologia e ortomolecular, de São Paulo.
“Emagrecer não é apenas uma questão de dieta e de atividade física. Se fosse, veríamos praticamente só gente sarada nas academias, já que quem malha tende a cuidar da alimentação”, observa.
Para que seu organismo funcione perfeitamente e responda bem aos estímulos – neste caso, dieta e treino -, os hormônios precisam estar afinados como os instrumentos de uma orquestra. Se algum desafina, quebra-se a harmonia. “Vários hormônios atuam no emagrecimento, como os da tireoide, o cortisol, a insulina e a testosterona”, explica a nutróloga.
Veja a seguir como identificar desequilíbrios e as melhores armas para combatê-los:
SHBG : A SABOTADORA DO EMAGRECIMENTO
Os homens fabricam muito mais testosterona que as mulheres, mas isso não significa que ela seja menos importante para nós. Esse hormônio é fundamental para que se ganhe massa magra.
A quantidade que você produz pode até estar adequada à sua idade – o valor vem identificado como testosterona total no exame de sangue -, mas a que interessa para nós é a testosterona livre, disponível para atuar na construção dos músculos e que “torram” gordura pelo simples fato de existirem.
Pois você já ouviu falar em SHBG? A sigla de globulina ligadora de hormônios sexuais pode ser a grande sabotadora do emagrecimento. “Ela transporta a testosterona e, em condições ideais, a libera para uso imediato. Em desequilíbrio, prende o hormônio, deixando-o indisponível”, explica Esthela.
Uma das vilãs desse processo é a pílula anticoncepcional, que desorganiza os hormônios sexuais. Para reverter o processo, a médica prescreve fitoterápicos e medicamentos que impeçam que a SHBG “sequestre” a testosterona.
Theo Webert, médico com atuação em nutrologia e fisiologia hormonal, aposta na suplementação de ômega-3 e em um aporte extra de proteínas para reduzir a produção da SHBG.
ESTRESSE QUE ENGORDA
Ansiedade e estresse também são responsáveis por desequilibrar nossos hormônios, principalmente o cortisol. “Em situações estressantes, nosso organismo entende que está em guerra. E o cortisol, para protegê-lo, atua na produção de gordura, além de metabolizar a proteína do músculo e diminuir o uso da glicose. São táticas de sobrevivência”, explica Suzikelli Lisboa Souza, endocrinologista especialista em avaliação hormonal e metabólica, de Campinas.
O pior: estamos falando da gordura abdominal, aquela que se instala e é a mais difícil de eliminar, além de trazer sérios riscos para a saúde (diabetes e doenças cardiovasculares, por exemplo).
Quando não é possível controlar os impactos do estresse, a endocrinologista indica um nutracêutico manipulado à base de glutrapeptide. “Ele engana os receptores do tecido adiposo, impedindo que as terminações nervosas responsáveis pela quebra das células de gordura fiquem comprometidas”, explica a médica. “Mesmo estressado e com o cortisol alto, o sistema nervoso receberá a mensagem de que deve continuar disponibilizando a gordura para o uso do organismo.”
DE OLHO NA TIREOIDE
Os maestros da sinfonia hormonal são o T3 e o T4, produzidos pela tireoide. Não dá nem para pensar em emagrecimento sem avaliá-los. Existe outro player importante na equação, o TSH, hormônio que estimula a produção dessa glândula.
“São esses hormônios que controlam nosso metabolismo. Se os níveis estiverem baixos, ele será mais lento e haverá uma tendência a ganhar peso mesmo com dieta adequada e exercício físico”, esclarece Theo.
“Brinco dizendo que a tireoide é a mãe do nosso organismo porque participa de todos os processos. Tem ação no cérebro, no coração, no fígado, na fertilidade e na disposição para o dia a dia”, acrescenta Esthela.
Além de medicamentos prescritos por especialistas depois da devida análise de exames, uma alimentação estratégica, prática de atividades e boas noites de sono são outras armas para equilibrar naturalmente seus hormônios – e, assim, finalmente dizer adeus aos derradeiros quilinhos.
TREINO + UMA BOA NOITE DE SONO = MÚSCULOS
Exercícios são tiro e queda para regularizar os hormônios. Um dos campeões é a musculação. A relação entre ela e a testosterona é de “ganha-ganha”: uma estimula a outra.
Eduardo Portugal, master trainer da Bodytech, do Rio de Janeiro, e mestre em ciências do exercício e do esporte pela UERJ, cita um estudo publicado este ano pela National Strength and Conditioning Association, importante órgão do setor nos Estados Unidos. “Esse trabalho evidenciou a relação entre aumento nas concentrações de testosterona e hipertrofia no treinamento de força.”
Outro exemplo é o GH, hormônio do crescimento que também atua nos músculos. Ele é estimulado por exercícios intensos e uma noite bem dormida. “Durante o sono, ocorrem vários processos relacionados à síntese de hormônios como o GH, os da tireoide e a testosterona”, afirma a nutróloga Esthela Conde.
EQUILÍBRIO À MESA
A alimentação tem papel fundamental na regulação da insulina, hormônio que dá o sinal para que a glicose seja usada como combustível. “Uma dieta rica em carboidratos simples e refinados resulta em resistência à insulina, que deixa de funcionar como deveria. Ou seja, não traz energia para as células e, consequentemente, há o aumento da gordura estocada”, explica o nutrólogo Theo Webert, do Rio.
Por outro lado, batata-doce, frutas vermelhas e canela melhoram a sensibilidade à insulina. Se sua meta é ter corpo magro, mas firme, invista em gorduras boas, matérias primas para a produção de testosterona, que também necessita de zinco, magnésio, vitaminas B e D. Os principais aliados são: ovo, coco, abacate, nuts, azeite de oliva, amendoim e salmão.
G1