Nos anos 80, o PIB (Produto Internco Bruto) da China era 20 vezes menor do que o dos Estados Unidos. Em 2017, é menos de duas vezes menor, atingindo a espantosa cifra de 10,8 trilhões de dólares, contra 17,9 trilhões da economia americana. Fatores como globalização, fortalecimento das indústrias e do consumo chineses, aliados ao baixo custo da produção no país, facilitam a estratégia chinesa de, o quanto antes, se tornar protagonista na geopolítica mundial, rivalizando de igual para igual com os Estados Unidos.
Antes de se impor pelo lado militar, que também é um interesse do governo chinês, a intenção é se inserir no protagonismo por meio do poderio econômico. A integração comercial, um dos principais temas a serem debatidos nesta reunião do G20, encerrada no sábado (8) em Hamburgo, foi o pretexto que faltava para a China se mostrar aberta a parcerias mundiais, em sintonia com a posição da União Europeia, conforme afirma o professor Oliver Stuenkel, coordenador do MBA em Relações Internacionais da FGV (Fudação Getúlio Vargas).
— A China agora busca o protagonismo por meio de uma retórica pró-comércio, em defesa da globalização, contrastando com a retórica populista nacionalista de Donald Trump. De maneira tangível ela coloca o discurso em prática com a defesa de acordo de livre comercio, ativamente promovendo a abertura e a provisão de bens publicos globais, bancos de desenvolvimento, em um contraste forte ao movimento antiglobalização do pres americano.
A questão do meio ambiente também tem movido a China a esse protagonismo, já que o país, o segundo maior poluidor do planeta, se coloca favorável às metas do Acordo de Paris, mostrando um lado diplomático e, ao mesmo tempo, isolando Trump em sua decisão de não aderir ao acordo. A postura na questão ambiental, neste sentido, tem total parentesco com a da questão econômica, pelas palavras de Stuenkel. A rejeição do governo americano ao atual modelo de globalização causou temor de que o equilíbrio comercial ficasse abalado.
— O resultado (desta postura dos EUA) foi que parceiros históricos como a Alemanha e o Japão estão preocupados, e Xi Jinping (presidente da China) pode assumir o protagonismo pegando o vácuo dos EUA.
Tensão controlada
O estilo metódico chinês, porém, vai além da característica japonesa que, mesmo seguindo uma metodologia organizada, não se aprofundou no incremento militar após a Segunda Guerra Mundial. O Japão se reestruturou essencialmente na questão econômica, sustentado em grande parte pelo desenvolvimento de tecnologias.
A China, ao contrário, quer a primazia militar na região. O incremento militar, portanto, seria uma segunda etapa deste objetivo de se contrapor aos americanos. Mas faz parte dos planos e é visto como prioritário, na opinião do especialista.
— A China tem cada vez mais interesse em se desenvolver militarmente, há uma estratégia marcada pela paciência, mas claramente está em um processo de armamento que, aos poucos, vai posicionar a China como país líder na Ásia. Neste momento o governo dá a impressão de não querer se mexer, mas tem tempo. Pode ser daqui a 10 anos, mas o país trabalha nesse fortalecimento do poderio militar.
No momento, porém, os chineses querem manter uma tensão controlada na Ásia. Stuenkel afirma que a China não tem interesse em um conflto entre Estados Unidos e Coreia do Norte mas, mesmo aparentando um papel de mediadora, também não colabora efetivamente para que a situação se acalme.
— É certo que esta guerra não interessa, mas a China no fundo quer manter o status quo da região, não quer uma reunificação da Coreia, já que isso criaria uma ator poderoso lá. Não é fácil, mas ela vai tentar contornar essa questão de uma maneira que não haja muitas mudanças. A China vai tentar manter tudo como está.
R7