Um novo estudo revela que há um forte componente genético na maneira como crianças olham para o mundo – em especial na preferência em focar o olhar nos olhos, no rosto, ou em outros objetos durante a interação com outras pessoas. De acordo com os autores da pesquisa, publicada nesta quarta-feira (12) na revista Nature e realizada por cientistas de universidades dos Estados Unidos, os resultados do experimento fornecem novos elementos para compreender as causas do autismo. Utilizando uma tecnologia desenvolvida para rastrear o olhar, o estudo mostrou que os movimentos feitos pelos olhos ao buscar informações no ambiente são fortemente dependentes de fatores genéticos em todas as crianças e anômalos em crianças autistas. “Agora que sabemos que a orientação visual social é fortemente influenciada por fatores genéticos, temos um novo caminho para rastrear os efeitos diretos dos fatores genéticos no desenvolvimento social da primeira infância e de desenhar intervenções que garantam às crianças autistas que elas possam adquirir os estímulos ambientais sociais que elas precisam para crescerem e se desenvolverem normalmente”, disse o autor principal do estudo, John Constantino, da Universidade de Washington em St. Louis. De acordo com Constantino, o experimento realizado pelos cientistas mostra um mecanismo específico pelo qual os genes podem modificar a experiência de vida de uma criança. “Duas crianças na mesma sala, por exemplo, podem ter experiências sociais completamente diferentes se uma delas tem uma tendência hereditária a focar em objetos, enquanto outra olha para os rostos. Essas diferenças podem se reproduzir repetidamente à medida que o cérebro se desenvolve no início da infância”, explicou Constantino. No experimento, os cientistas avaliaram 338 crianças com idades de 18 a 24 meses, utilizando uma tecnologia de rastreamento do olhar que identificou precisamente os pontos nos quais os olhos se fixam – e por quanto tempo -, enquanto as crianças assistiam a vídeos que mostravam pessoas falando e interagindo com elas. Fizeram parte do estudo 41 pares de gêmeos idênticos, 42 pares de gêmeos fraternos – que compartilham apenas 50% do DNA -, 84 crianças sem parentesco entre elas e 88 crianças diagnosticadas com autismo. Cada gêmeo foi testado independentemente, em momentos diferentes, sem a presença do irmão. O experimento mostrou que o tempo gasto por cada gêmeo – idêntico ou fraterno – olhando para o rosto de outra pessoa foi praticamente idêntico ao tempo gasto pelo irmão. Mas os gêmeos idênticos movimentaram os olhos de forma praticamente igual à dos irmãos – mudando de foco ao mesmo tempo e nas mesmas direções. Enquanto isso, entre os gêmeos fraternos, só 10% dos movimentos coincidiam, o que comprova o forte componente genético na maneira como as crianças olham o mundo.
Bahia Notícias