A Mostra Internacional de Cinema de Belo Horizonte, ou simplesmente CineBH, fez na noite de ontem (22) a abertura de sua 11ª edição. Na cerimônia, o tema “cinema de urgência” foi apresentado por meio de performances e de um vídeo. A proposta é oferecer um espaço para a discussão da produção de filmes em contextos de crise social e política.
O evento é produzido pela Universo Produções, que também organiza as mostras de cinema de Tiradentes e de Ouro Preto. Nesta edição, que vai até domingo (27), serão exibidos 101 filmes de seis estados brasileiros e de mais 15 países. São 41 longas-metragem, um média-metragem e 59 curtas.
A programação, disponível na página do evento, inclui ainda exposições, seminários, apresentações artísticas e shows. Todas as atividades são abertas ao público e gratuitas. As sessões cinematográficas estão sujeitas à lotação dos espaços e, por essa razão, senhas serão distribuídas com 30 minutos de antecedência.
Cinema de urgência
Raquel Hallak, diretora da Universo Produções e coordenadora-geral do CineBH, explica que a ideia de debater o cinema de urgência foi motivada pelo atual cenário social e político do Brasil e do mundo. “Estamos vivendo uma crise e, no calor dos acontecimentos, como o cinema está retratando isso, em um momento onde temos câmeras por todas as partes?”, questiona.
De acordo com a locução do vídeo exibido na cerimônia de abertura, a crise é o momento onde a realidade convoca o cinema, exigindo o registro e uma reflexão sobre os acontecimentos. “Há urgência em nadar contra a corrente dos fluxos narrativos dominantes. Filmes que cada um a seu modo prometem produzir uma contranarrativa à avalanche midiática que acompanha essa profunda crise política. Mas, no cinema, a urgência é de outra ordem. Por mais emergencial que seja o conteúdo de um filme, ele demanda novamente tempo”, diz o locutor.
As performances de artistas levantaram ainda reflexões ligadas ao racismo, ao machismo e à homofobia. “As mostras da Universo Produções estão atentas ao mundo atual. Nós, realizadores, precisamos colocar essas questões para o público e dialogar com a plateia. Afinal, esses eventos são instrumentos também de transformação social e o cinema deve se aproximar desses temas que estão aí espalhadas, nas redes, na ruas, nos movimentos, nos coletivos”, diz Raquel Hallak.
Descentralização
A Mostra CineBH surgiu em 2007 com a proposta de criar para a capital do estado um evento representativo. O evento surgiu também da preocupação com o fato de que os filmes exibidos na Mostra de Cinema de Tiradentes não estavam tendo visibilidade em Belo Horizonte e no restante dos municípios mineiros.
Para ampliar o alcance do evento, que foi crescendo ano a ano, a mostra vem investindo cada vez mais em uma programação descentralizada. Neste ano, as atividades ocorrem em dez espaços distintos de Belo Horizonte, entre eles o Teatro Sesiminas, o Sesc Palladium, o Cine Theatro Brasil Vallourec, o Cine Santa Tereza e as praças da Estação e Duque de Caxias.
A CineBH tem ainda como objetivo potencializar o mercado audiovidual brasleiro, possibilitando o intercâmbio de profissionais e dando visibilidade a novos autores, atores e outros talentos. Também com essa preocupação, foi criada em 2009 o Brasil Cinemundi, um evento que chega a sua oitava edição e ocorre simultaneamente com a CineBH. Trata-se de um encontro internacional de coprodução, que reúne representantes da indústria mundial com interesse em coproduzir com o Brasil e conhecer pessoalmente projetos que muitas vezes não chegam até eles.
Outro evento que também está dialogando com a CineBH e compartilhando a programação é o MAX Minas Gerais Audiovisual Expo. Realizado pela primeira vez no ano passado por meio de parceria entre o governo de Minas Gerais e o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), ele busca oferecer oportunidades de negócios, fortalecer a cadeia produtiva do audivisual e aumentar a competitividade da indústria criativa no estado.
Homenagem
O principal homenageado da 11ª CineBH é o ator, crítico e cineasta francês Pierre León. Nesta noite, ele recebeu um troféu simbólico. Com uma vasta produção independente no currículo, sua obra é praticamente desconhecida do público brasileiro. Com o objetivo de divulgar este trabalho, foi incluído na programação uma retrospectiva com 14 filmes do cineasta, quase todos inéditos no Brasil.
“Foi a escolha de um autor com uma cinematografia diversificada que se aproxima do perfil da mostra. E é uma oportunidade de trazer um nome muito desconhecido no Brasil e pouco reconhecido na França. Eu acho que os festivais têm esse papel, de apontar talentos que ficam muitas vezes num casulo e que tem uma obra magnífica pra ser desvendada. E o Pierre León dialoga com a temática desse ano, que é o cinema de urgência”, explica Raquel Hallak.
Agência Brasil