Até agosto, conforme dados do BC (Banco Central), o investimento direto no País no setor de veículos automotores, reboques e carrocerias foi mais que o triplo do registrado em 2012 e 2013, quando a venda de veículos foi recorde. Nos dois anos pré-crise, o setor recebeu R$ 17,7 bilhões (US$ 5,6 bilhões).
Parte do dinheiro recebido nos últimos meses deve bancar os investimentos mais urgentes dentro dos planos recentes anunciados pelas montadoras, que somam R$ 16,8 bilhões.
Os dados do BC mostram também que os valores de empréstimos intercompanhias (concedidos pelas matrizes às filiais e que devem ser devolvidos posteriormente) são superiores aos ingressos em forma de participação no capital (dinheiro a fundo perdido). Para analistas, esse movimento mostra que as matrizes estão socorrendo as subsidiárias, mas acreditam na recuperação do mercado e na capacidade das empresas em honrar as dívidas futuramente.
“Os empréstimos intercompanhias são a melhor forma de financiar os desenvolvimentos da indústria, uma vez que, embora os juros locais estejam caindo, ainda são elevados se considerarmos os padrões internacionais”, diz o presidente da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores), Antonio Megale.
Novos produtos
A maior parte dos investimentos anunciados nos últimos meses para projetos até 2022 está sendo direcionada ao desenvolvimento de novos produtos, novas tecnologias e modernização das fábricas. Muito pouco vai para ampliação de capacidade produtiva, alvo do ciclo anterior de investimentos. Com a crise, a maioria das fábricas opera com elevada ociosidade.
Segundo Megale, os primeiros sinais da recuperação da economia e do mercado automotivo são evidentes e é importante para as empresas continuarem com o processo de evolução dos seus veículos. “A indústria automobilística é movida por produtos, e quem não renova fica para trás”, diz Rodrigo Custódio, da consultoria Roland Berger.
“Não vejo nesse momento uma nova onda de investimentos, mas uma continuidade para manter os produtos atualizados, pois hoje os veículos são cada vez mais globais e é preciso manter as atualizações”, diz Marcelo Cioffi, da PwC. “De qualquer forma, demonstra que o Brasil continua sendo importante na estratégia global das companhias.”
Custódio calcula que, para a produção de um novo carro, são necessários aportes de R$ 500 milhões a R$ 1 bilhão. Para ele, grupos que demoraram a renovar a linha de produtos são os que mais perderam fatia de mercado. “Algumas esperaram para investir no momento de recuperação das vendas e outras não tinham caixa para isso.”
Juros. As empresas brasileiras normalmente têm prazos de cinco a dez anos para pagar os empréstimos das matrizes, a juros internacionais, menores que os nacionais. Segundo o BC, parte do aumento do investimento direto para o setor “se deve a uma recuperação dos fluxos de investimento direto após a crise financeira internacional”. Também afirma que, pelas estatísticas disponíveis, não há indícios de que as empresas tenham usado porcentual desses recursos para investir no mercado financeiro local e se beneficiar do juro alto, uma hipótese que costuma se apontada para justificar o forte ingresso de divisas estrangeiras no País.
Para o diretor-presidente da Sobeet (Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização), Luís Afonso Lima, os indícios são mesmo de que “as empresas do setor estão fazendo uso dos empréstimos intercompanhias em suas operações com vista a desenvolver produtos, fomentar exportações e desenvolver processos e produtos”.
R7