“Gorda não é palavrão”. À primeira vista, o livro recém-lançado por Fluvia Lacerda (Ed. Paralela) pode parecer destinado exclusivamente ao público plus size, afinal, ela é a mais importante modelo brasileira da categoria — o que rendeu a ela o apelido de “Gisele Bündchen GG”. Entretanto, folheando as cerca de cem páginas dele, é provável que você acabe desenvolvendo outra impressão.
Mas partamos do começo. Fluvia tem 37 anos e trabalha desde os 23 como modelo plus size. Apesar da extensa carreira, a brasileira, que mora há mais de 20 anos nos Estados Unidos, construiu seu nome no exterior e demorou a exercer a profissão em seu País. Foi depois de uma viagem a Natal, no Rio Grande do Norte, em 2006, que sentiu a necessidade de atuar em prol de suas compatriotas que sofriam por não ter o que a sociedade considera a “forma física perfeita”.
“Eu sabia que precisava fazer algo para mudar o cenário brasileiro. Queria questionar e quebrar essa cultura que deixava tantas mulheres à margem, apesar de serem maioria”, escreve ela.
Mas será que as impressões sobre uma pessoa gorda mudam tanto de um país para outro? Fluvia viveu os dois lados e, em conversa com o R7, revelou as diferenças entre o Brasil e os Estados Unidos quando o assunto é a gordofobia.
— Acredito que, lá fora, as pessoas têm uma forma de se impor muito mais potente, têm muito mais esse comportamento de não tolerar esse tipo de agressão, que é o preconceito em geral. No Brasil, o preconceito é bem disfarçado. Hoje, por trás de uma tela de celular ou de computador, todo mundo tem coragem de falar o que quer sem temer sofrer as consequências. Ainda vivemos uma hipocrisia, na qual a maioria das pessoas vive buscando se enquadrar no molde que é imposto, enquanto a grande massa não corresponde a isso.
A ideia de escrever um livro surgiu justamente da vontade de “conversar” e ajudar essas mulheres fora do “peso ideal” que, apesar de representarem grande parte da população, se sentem reprimidas. Para isso, a cada página, ela dá uma verdadeira aula de autoaceitação e faz o leitor entender e acreditar que a aparência é apenas uma característica de todos nós, mas que está longe de nos definir.
— Busco fazer com que as pessoas se desapeguem da ditadura da opinião alheia. A sociedade inseriu na nossa cabeça, durante um bom tempo, a ideia do que é bonito ou não, então também leva um tempo para reverter isso. Acredito que o questionamento é a base de tudo. Quando você começa a questionar tudo o que lhe foi imposto, é um bom ponto de partida para conseguir se livrar disso.
Apesar de sempre citar as mulheres gordas — nem “cheinhas”, nem “fortinhas”. Gordas —, Fluvia acaba tocando nas inseguranças de mulheres com todos os tipos de corpo — afinal, que atire a primeira pedra aquela que, ao se olhar no espelho, nunca pensou que gostaria de mudar algo em si. E mostra, com questionamentos profundos, porém expostos de maneira surpreendentemente leve, que não faz sentido algum seguirmos atados a questões estéticas.
“Gorda não é palavrão” é o tipo de livro que toda mulher deveria ler. Mais do que levantar a bandeira do orgulho plus size, Fluvia convida todas as mulheres, sejam elas gordas ou magras, a se amarem e enxergarem que a maior beleza de um ser humano não está em sua aparência — e sim no que é invisível aos olhos.
R7