A CBF (Confederação Brasileira de Futebol) obedecia o que os professores de história creditam como ‘monarquia presidencialista’.
Na prática, o futebol verde-amarelo contava com uma figura de rei que não mandava muita coisa e um presidente que, de fato, exercia o poder.
Assim o delator Alejandro Burzaco explicou o esquema de corrupção envolvendo respectivamente José Maria Marin e Marco Polo del Nero.
A informação é de Ken Bensinger, um dos repórteres credenciados para cobrir in loco o Fifagate, no Tribunal do Brooklyn, em Nova York. A pedido do R7, o jornalista com larga experiência em jornalismo investigativo relatou como foi apenas a primeira semana de um julgamento que pode durar mais até dois meses e, assim, ter todas suas sentenças publicadas apenas no ano que vem.
Segundo Bensinger, a defesa de Burzaco (conheça quem é quem em um infográfico ao final desta página), ex-diretor da Torneos y Competencias, repetiu a tese já usada pelos advogados do próprio Marin. Diante da juíza Pamela Chen e de promotores, eles buscam dividir as responsabilidades do último e do atual presidente da CBF e afirmam que era Marin o rei, enquanto Del Nero era o presidente.
“O advogados [do Burzaco] disseram que o Marin era o ‘rei’, mas Del Nero era o ‘presidente’ do futebol brasileiro. O próprio Burzaco disse isso. Marin era quem aparecia em público, lia os discursos, mas era Del Nero que tomava decisões importantes nos bastidores”, relatou Bensinger.
Ainda no início dos trabalhos nos Estados Unidos, a defesa chegou a recorrer à poesia para defender Marin. “Ele era como um jovem do lado de fora de um campo de futebol, colhendo flores e olhando ao redor, enquanto os outros estavam correndo por todos os lados”, disse Charles Stillman, que chega todos os dias à corte norte-americana de braço dado com seu cliente.
Além do brasileiro, o paraguaio Juan Angel Napout, ex-presidente da Conmebol, e o peruano Manuel Burga, ex-presidente da Federação do Peru, teriam embolsado US$ 4,5 milhões (R$ 14,9 milhões) e US$ 11,9 milhões (R$ 38,9 milhões) respectivamente — os três são réus no processo. Apesar de ter seu nome envolvido na Justiça daquele país, Del Nero é apenas indiciado no processo. Ele foi eleito em abril de 2014 para suceder Marin a partir do ano seguinte. Em contato com o R7 no início da semana, a defesa do atual presidente da CBF negou as acusações de participação em esquemas de corrupção e não descartou ida aos EUA.
Confiança dos torcedores
Diante de tamanha corrupção no ‘País do Futebol’, os torcedores são os maiores prejudicados. Para Bensinger, o monopólio exercido às custas do dinheiro sujo é uma problemática que afeta a confiança nas “regras de um jogo sujo”.
“Tem muita gente que gosta, que acompanha e fica triste por isso”, disse Bensinger. “Não estou surpreso porque sempre ouvimos isso, sempre ficamos sabendo dos problemas do Brasil, mas é sempre incrível ouvir histórias como as que ouvimos aqui [no Tribunal]. Mas este não é só um problema do Brasil. Argentina, Paraguai, por exemplo, também estão envolvidos. As pessoas ficam chocadas.”
O julgamento dá uma pausa no fim de semana e retoma os trabalhos na segunda-feira (20). A expectativa é que a juíza volte a ouvir Burzaco e, já no dia seguinte, o sentencie. Ainda não se sabe se Marin será ouvido logo em sequência.
R7