Dirigentes ligados à Conmebol eram identificados com nomes de carros em uma lista de pagamentos de propinas referentes a contratos de direitos de transmissão de torneios da Conmebol. A revelação foi feita nesta segunda-feira (20) por Santiago Peña, executivo de marketing esportivo Full Play, em depoimento no júri do ex-presidente da CBF, José Maria Marin, no Tribunal do Brooklyn, em Nova York, nos Estados Unidos. Ele é uma das testemunhas de acusação.
Além de José Maria Marin, também estão sendo julgados o ex-presidente da Conmebol, o paraguaio Juan Angel Napout, e o ex-presidente da Federação Peruana de Futebol, Manuel Burga. De acordo com Santiago Peña, o paraguaio era identificado como “Honda” e o peruano como “Fiat”.
Santiago Peña disse que os repasses estavam ligados a acordos referentes à Copa América de 2015 (realizada no Chile), 2019 (será no Brasil) e 2023 (ainda a ter a sede determinada, possivelmente no Equador), além da Copa América Centenário, disputada nos Estados Unidos em 2016. “Foram pagamentos secretos”, enfatizou.
Ele não fez referência a nenhum nome de dirigente brasileiro, embora tenha dito que um cartola do País também foi remunerado. Os pagamentos, de acordo com o ex-funcionário da empresa argentina, eram feitos para obter a “lealdade” dos presidentes de confederações que também faziam parte da cúpula da Conmebol. De acordo com a testemunha, o controle dos pagamentos era feito em um planilha de Excel. “Nós basicamente decidimos criar nomes de fantasia para cada uma das pessoas envolvidas”, disse o ex-executivo da Full Play.
Entre os codinomes descritos na planilha mostrada aos jurados, o ex-presidente da Federação Equatoriana de Futebol, Luis Chiriboga, era o “Toyota” e recebeu pagamento de US$ 500 mil; o ex-presidente da Federação Venezuelana Rafael Esquível, identificado como “Benz”, amealhou R$ 750 mil. Ambos os pagamentos foram relacionados ao código “Q2022” que, tudo indica, está relacionado à compra de votos para a escolha do Catar como sede da Copa de 2022. A votação ocorreu em 2010.
Também há dirigente identificado pelos codinomes “VW” (Carlos Chávez, da Federação Boliviana de Futebol); “Kia” (Sergio Jadue, da Associação Nacional de Futebol Profissional, do Chile); “Peugeot” (Jose Meiszner, secretário geral da Conmebol); e “Flemic” (Luis Bedoya, da Federação Colombiana de Futebol).
Antes de assumir a Conmebol, Juan Angel Napout foi presidente da Federação Paraguaia de Futebol. Nesta época, a Full Play negociou um contrato com a entidade com intermediação de uma empresa chamada Ciffart, nome que os investigadores norte-americanos concluíram ser Traffic ao contrário. Essa pertence ao brasileiro J.Hawilla, que fez acordo de leniência com a Justiça norte-americana, cumpre prisão domiciliar nos Estados Unidos e deverá ser uma das testemunhas no processo contra José Maria Marin e os outros dois dirigentes.
A Full Play é uma empresa argentina que, entre outras competições, negociou os direitos das Eliminatórias Sul-Americanas à Copa do Mundo, Copa América e Copa Libertadores. Seus proprietários são Hugo e Mariano Jinkis, pai e filho, que estão em prisão domiciliar na Argentina.
A empresa foi uma das formadoras da Datisa, junto com outra firma argentina da área de venda de direitos, a Torneos y Competencias, e a brasileira Traffic. Foi a Datisa que ficou responsável por pagar aos cartolas as propinas referentes às quatro edições da Copa América citada por Santiago Peña em seu depoimento.
O júri segue nesta terça-feira no Tribunal do Brooklyn. Depois os trabalhos serão interrompidos em função do feriado de Ação de Graças, que será nesta quinta, e só serão retomados na próxima semana.
R7