Este ano ficará marcado na memória de muita gente devido à febre amarela. Entre dezembro do ano passado e junho de 2017, foram confirmados 777 casos e 261 óbitos, o que representou a maior transmissão do vírus das últimas décadas.
O ministro da saúde, Ricardo Barros, afirma que o País está preparado para o verão, quando pode ocorrer alta no número de ocorrências, mas a infectologista e membro do comitê de imunização da Sociedade Brasileira de Infectologia, Rosana Richtmann, não descarta a possibilidade de um novo surto em 2018.
— Eu espero que não haja um novo surto de febre amarela, mas não é impossível que isso volte a ocorrer. Por isso, precisamos continuar com as formas de prevenção, como a vacinação, que é a medida mais eficaz. O objetivo é evitar casos em humanos, o que praticamente não ocorreu em São Paulo por conta da campanha de imunização. A volta da febre amarela urbana é o que mais preocupa.
Os casos confirmados são de febre amarela silvestre, que é transmitida através da picada dos mosquitos Haemagogus e Sabethes, comuns em áreas de matas e vegetações à beira dos rios. Já a proliferação urbana da doença, tem como vetor o Aedes aegypti. Não há registro desse tipo de transmissão no Brasil desde 1942.
Os sinais e sintomas mais comuns da doença são: febre alta, calafrios, cansaço, dor de cabeça, dor muscular, náuseas e vômitos que duram, em média, três dias. Nas formas mais graves, podem ocorrer icterícia, insuficiências hepática e renal, sangramentos e cansaço intenso.
Corredor verde
Originária de outros Estados brasileiros, a febre amarela silvestre “viajou” por um corredor verde de mata atlântica por meio de mosquitos transmissores e de macacos infectados até chegar a SP. De acordo com o coordenador do Programa Municipal de Vigilância e Controle de Arboviroses de São Paulo, Eduardo de Masi, o vírus saiu da Amazônia e foi caminhando pelas regiões de mata fechada, “que são chamamos de corredores ecológicos”.
— Então, passou por vários Estados até chegar a Minas Gerais, onde teve grande repercussão devido ao número de casos [475 casos com 136 mortes até 23 de novembro]. De lá, veio para São Paulo. Atualmente, vivemos no meio de um ciclo da febre amarela, o que faz parte do histórico da doença. O último havia ocorrido em meados de 2008, 2009. [Esse ciclo] ocorre a cada sete, oito anos, aproximadamente, e dura cerca de três anos”.
O vice-presidente da SBim (Sociedade Brasileira Imunizações), Renato Kfouri, complementa que os estudos dos corredores mostram por onde o vírus foi migrando (região Norte, Centro-Oeste, passando por Minas Gerais, até entrar pelo norte do Estado de São Paulo), e os especialistas conseguem monitorar “pelos genótipos dos mosquitos e na observação do vírus da febre amarela nos macacos mortos” pelo caminho.
Vale lembrar que os primatas não são transmissores da doença. Pelo contrário, eles servem de indício às autoridades de que o vírus circula naquela região. A Prefeitura de São Paulo, inclusive, lançou campanha nas redes sociais para que as pessoas não agridam, maltratem ou matem estes animais.
Vacina no calendário
— Vacinar uma criança como rotina garante que o adolescente ou adulto que ele se tornará se mantenha protegido da doença. Na minha opinião, todas as crianças do País deveriam ser vacinadas. Essa medida não resolve nada agora, mas evitaria possíveis surtos daqui a 10, 20 anos.
De acordo com o Ministério da Saúde, a vacina de febre amarela já faz parte do calendário nacional de vacinação, mas costuma ser ofertada apenas em algumas regiões e em campanhas de multivacinação — quando todas as crianças e adolescentes são convocados para atualizarem as cadernetas de vacinação nos postos de saúde.
Os locais com recomendação de vacina são municípios localizados nos seguintes Estados: Acre, Amazonas, Amapá, Pará, Rondônia, Roraima, Tocantins, Distrito Federal, Goiás, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Bahia, Maranhão, Piauí, Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Além destas áreas, também está sendo vacinada a população do Espírito Santo.
A pasta ressalta que mesmo os Estados sem risco para a doença recebem a vacina mensalmente para imunizar as pessoas que vão viajar para locais com recomendação.
Estrago pelo País
A região Sudeste concentrou a grande maioria das notificações, com 764 casos confirmados, seguida das regiões Norte (10 casos confirmados) e Centro-Oeste (3 casos). As regiões Sul e Nordeste não tiveram confirmações.
Com a diminuição das ocorrências, o Ministério da Saúde decretou o fim do surto da doença em agosto. Porém, de julho até 27 de novembro, foram confirmados mais três casos: um no Rio de Janeiro (Guapimirim) e dois em São Paulo (Itatiba), sendo que um evoluiu para óbito. Ao todo, foram notificados 240 casos suspeitos de febre amarela em todo o País no período, sendo que 191 foram descartados e 46 permanecem em investigação, segundo o ministério.
Vacina é proteção
O Brasil adota o esquema de apenas uma dose da vacina durante toda a vida, de acordo com recomendações da OMS (Organização Mundial da Saúde). Por isso, quem já tomou a vacina contra febre amarela não precisa reforçar a proteção. Já quem esqueceu se tomou o imunizante, deve procurar um posto de saúde mesmo assim, como orienta o Ministério da Saúde.
A vacina não é recomendada para gestantes, mulheres que estejam amamentando, crianças com até seis meses e pessoas imunodeprimidas, como pacientes em tratamento quimioterápico, radioterápico ou que tomam corticoides em doses elevadas. Em caso de dúvida, é importante consultar um médico.
Kfouri ainda recomenda que quem não se vacinou ou não pode tomar a vacina contra febre amarela se proteja com as chamadas barreiras físicas: “usar repelentes, vestir roupas cumpridas, instalar telas em casa e, principalmente, evitar as áreas de risco”, orienta.
Vacinação em SP
Mais de 1 milhão de pessoas foram vacinadas contra a febre amarela na zona norte de São Paulo. A campanha de imunização começou no dia 21 de outubro, após encontrarem um macaco bugio morto com febre amarela dentro do Horto Florestal, que foi fechado e deve reabrir apenas em janeiro.
Moradores do entorno do Parque Ecológico do Tietê, na zona leste da cidade, também recebem vacinas desde o fim do mês passado, quando um macaco também foi encontrado morto nas dependências do local. A campanha deve continuar até que todo público-alvo seja imunizado, afirma a Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo.
R7