Nesta quarta-feira (14) o mundo acompanhou mais um episódio violento dentro de uma escola dos Estados Unidos.
O jovem Nikolaus Cruz, de 19 anos, matou, com um fuzil AR-15, pelo menos 17 pessoas na escola Marjory Stoneman Douglas, na Flórida.
As primeiras informações descrevem o adolescente como um jovem de perfil agressivo, que chegou a ser expulso da mesma escola por indisciplina. De acordo com os ex-colegas, nos últimos dias Nikolaus tinha iniciado uma campanha de terror, jurando vingança em mensagens das redes sociais.
Adolescência: Período de rebeldia e transgressão
Segundo especialistas, o período da adolescência pode ser caracterizado por uma certa rebeldia, um momento de transgressão, onde os desejos explodem, às vezes, de forma incontrolada.
No início da década de 1930, uma antropóloga chamada Margaret Mead desenvolveu um estudo sobre comportamento juvenil na ilha de Samoa, que fica na região Sul do Pacífico, entre o Havaí e a Nova Zelândia. A conclusão sugere que esse comportamento explosivo dos jovens é um padrão ocidental. De acordo com Mead, no Ocidente as crianças, muitas vezes, são criadas dentro de uma bolha, isso prejudica o amadurecimento e torna mais difícil a passagem para a fase adulta.
O psicólogo, especialista em comportamento juvenil e professor da PUC de São Paulo, Carlos Eduardo Carvalho Freire, explica que quando a criança cresce, precisa aprender a lidar com problemas, com situações e sentimentos extremamente novos, como as frustrações. “Precisa desmontar essa bolha para entrar em contato com o mundo adulto. Esse processo nem sempre é simples e, de uma forma geral, pode ser o responsável por essa fase de explosões”.
Existem diversos motivos que podem desencadear uma reação violenta. O psicólogo e professor da faculdade de psicologia da PUC-SP, Miguel Perosa, explica que uma pessoa pode ser explosiva por diferentes razões. Pode ser porque não foi educada a aceitar limites, porque tem um distúrbio de personalidade, porque a situação momentânea exige uma autodefesa, entre outros motivos”.
O professor explica que o adolescente descobriu há pouco sua própria individualidade e por isso precisa afirma-la dentro do mundo em que vive. “Se esse mundo aceita sua individualidade ele dificilmente explodirá. Mas se ele for reprimido a tendência é a de um confronto. É a relação dele com o mundo que está tensa, não ele, necessariamente”, explica.
Quando a rebeldia e a indisciplina passam do limite?
De acordo com Carvalho Freire, nem mesmo a psicologia norte americana, tão preocupada com estas questões, consegue entender onde está este limite, a partir de que momento a luz vermelha deve acender.
Para os pais que estão preocupados com o comportamento agressivo do filho, o professor sugere que a melhor atitude é não procurar comportamentos atípicos, ou estranhos, mas sim, se colocar mais próximo do adolescente. “Desta forma os pais vão ter condições de perceber se o filho se sente injustiçado por algum motivo e podem ajudar a lidar com o que aconteceu de uma maneira saudável”, explica Carvalho Freire.
O diálogo ainda é a melhor saída para a indisciplina e os momentos de raiva. É importante que esta proximidade não seja vigilante, mas sim compreensiva. Os pais devem tentar entender como o filho vê a vida e quais são as frustrações que precisa lidar.
O psicólogo Miguel Pedrosa explica que os pais devem manter uma relação de respeito, precisam sair de uma posição de mando para uma relação de aconselhamento. “Se o adolescente se sentir considerado pelos pais não os confrontará e nem, por extensão, as autoridades com quem se depara”, afirma Perosa.
Qual é a hora de procurar ajuda profissional?
Procurar um tipo de terapia deve ser uma decisão conjunta entre os pais e o filho e deve acontecer quando o jovem passa por algum tipo de dificuldade que não consegue lidar e nem superar.
Antes de buscar um psicólogo, psicoterapeuta ou psiquiatra para o filho, os pais precisam ter certeza de que o adolescente vai concordar com o tratamento. Ele não pode se sentir forçado e nem ter a sensação de que o especialista é mais uma pessoa para vigiar e julgar seus atos.
Para o psicólogo Carlos Eduardo Carvalho Freire, “o jovem precisa entender que o tratamento vai ajudá-lo a lidar com as angústias e aflições, se ele não concordar em participar das sessões, se for forçado a ir, é impossível que o tratamento apresente um bom resultado, o profissional não vai conseguir trabalhar”.
Perosa concorda com a posição do colega e defende que os pais devem procurar ajuda de um especialista “quando não conseguem estabelecer um clima de diálogo com seus filhos adolescentes”.
R7