Chico Araújo
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Sou torcedor do Bahia. Todos sabem disso, mas antes disso sou jornalista e já trabalhei na cobertura de futebol. Me considero equilibrado, apesar da paixão clubística. Preferi analisar melhor o que aconteceu no clássico Ba-Vi de ontem (domingo) antes de emitir minha opinião.
1) Houve provocação de Vinicius após o gol (não vou analisar taticamente o jogo que estava muito igual, com o Vitória mais equilibrado taticamente). A dancinha com o encaixe final está no perfil do jogador nas redes sociais. É dele. Ridícula, mas é dele. O problema foi a provocação diante da torcida do Vitória e a mensagem de “Eu estou aqui”, imitando Cristiano Ronaldo. Mas, nada que ateste o que veio a seguir.
2) Em outras oportunidades, a torcida do Bahia teve que suportar Junior Diabo Loiro enterrando o Bahia; Neto Baiano provocando, índio mancando flechas para a torcida tricolor e no ano passado os jogadores do Vitória sambaram em cima do escudo do Bahia na Fonte Nova… Natural do futebol. Não lembro de a torcida do Bahia ter gritado “Vai morrer” por isso.
3) Desquilibrio total. Talvez Fernando Miguel não tivesse o intuito de agredir Vinicius e as imagens mostram que após ele receber dois socos de Kanu e um de Denilson, o goleiro tentou proteger o jogador do Bahia. No entanto, Miguel deu início à confusão ao segurar o jogador pela camisa. Um cartão amarelo, talvez até um vermelho para ele e o amarelo para Vinicius estariam na conta.
4) Mas, não. Houve um desequilíbrio geral e, de todos, Kanu, reincidente do quebra-quebra do Ba-Vi do Nordestão no ano passado, mostrou o quão covarde pode ser ao bater em uma pessoa desprotegida. Quem já brigou sabe que o mesmo que bate pode apanhar. No caso dele, bateu e correu como os piores covades, tipo os que empunham armas e se sentem machos por isso.
5) Ficou claro o constrangimento do menino Bruno ao forçar o segundo cartão amarelo e ficou mais claro ainda que Mancini jogou o menino aos leões e ainda mais claro depois que a TV Bahia mostrou a leitura labial, onde fica incrivelmente claro, com a ordem de cavar mais uma expulsão para o jogo acabar. Fernando Miguel já estava no chão tentando insinuar uma contusão, mas a diretoria e o técnico do Vitória preferiram esquecer a existência de um regulamento e partir para o anti-jogo. Com seis jogadores em campo o jogo acaba e o triunfo, por regulamento, é do adversário. Esqueceram de ler o regulamento. Comprometeram a carreira de Bruno; sujaram o currículo de Mancini.
6) Teve torcedor(a) do Vitória dizendo que o time estava certo e deveria encher Vinicius de porrada. Ouvi isso de uma jornalista (!!!!). Teve torcedor do Vitória achando correta a atitude do time, centenário, de primeira divisão, de tirar os jogadores de campo para evitar um resultado negativo. Já vi isso em baba, jogo de várzea, golzinho, mas no futebol profissional admitir isso é a primeira vez. Soa ridículo. Perder, se perde – em um mesmo ano o Bahia perdeu de 5×1 e 7×3 para o rival. Desonrou alguém – só motivo de galhofa de torcedor, o que é saudável. Ainda vão acontecer pelo menos mais dois Ba-Vis no ano.
7) Teve gente lembrando de1999, quando o Bahia não quis jogar no Barradão e levou a decisão para a justiça. Pois, o Bahia acabou punido por isso. Tinha o campeonato na mão (venceu a primeira partida por 2×0), mas por uma burrice monumental da diretoria da época (sob o comando do esquecível Marcelo Guimarães), preferiu se acovardar de jogar no Barradão e forçou uma liminar na Justiça. Fou punido, pois acabou, anos depois, vendo a decisão da Justiça de dividir o título, que seria apenas do Bahia, com o rival – mais um para a conta deles.
8) Seria o clássico da paz, a volta da torcida mista. A TV Bahia fez uma campanha que agora acredito ter sido provocativa, lembrando de Raudinei 46, as flechadas de índio, do hepta, do 7×3… Isso insuflou a massa e tornou os ânimos mais arraigados. Hora de repensar as chamadas, Rede Bahia.
9) Por último, que a punição dos agressores seja suficiente para que eles repensem suas carreiras como atletas de futebol. Mancini, diante do exposto, deveria colocar o cargo à disposição. O Bahia precisa punir Vinicius para evitar que esse tipo de brincadeira se repita. Edson e Becão (expulsos no banco) também são reincidentes de 2017.
Como diria Renato Russo, em Baader-Meinhof Blues: “A violência é tão fascinante… E nossas vidas são tão normais”
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Chico Araújo é jornalista