As mulheres brasileiras, em 2016, dedicaram cerca de 18,1 horas semanais aos cuidados de pessoas e/ou afazeres doméstico. O dado está na pesquisa Estatísticas de Gênero, divulgada nesta quarta-feira (7) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (Ibge). O levantamento, que traça indicadores sociais das mulheres no Brasil, mostra uma situação diferente para os homens. Entre os brasileiros, a média de horas dedicadas às mesmas atividades chega a uma média de 10,5 horas por semana. Comparando os dois dados, é possível perceber que a quantidade de horas que as mulheres empregaram aos afazeres domésticos é cerca de 73% maior que a dos homens. O tempo empregado pelos homens não varia muito mesmo que sejam analisadas as idades, a sua cor, raça ou região de residência. Enquanto isso, entre as mulheres, à medida que ficam mais velhas, dedicam ainda mais tempo às tarefas da casa. E se forem pretas ou pardas, esse número é ainda maior. O Nordeste é a região do Brasil onde as mulheres mais se dedicam ao lar, alcançando um total de 19 horas semanais, o que representa um tempo 80% maior do que o dos homens, que mantém a média brasileira de 10,5 horas. Segundo a pesquisadora do Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre a Mulher (Neim) da Ufba, Márcia Macedo, o mundo da casa nos estudos de gênero é chamado de “esfera do cuidado”, que ainda é associado ao universo feminino. “É muito comum na família que as meninas sejam encarregadas de tarefas domésticas enquanto os meninos são poupados disso. Esse tipo de educação é levado pra a vida adulta. Os homens casam e não precisarem problematizar com as suas esposas sobre quem vai fazer o serviço doméstico. A tendência era que os homens mais jovens estivessem assumindo essa esfera do cuidado como parte da responsabilidade, mas a gente não muda a forma como homens e mulheres são educados”, explica a professora. “Até hoje ainda se fala que os homens ajudam. Porque o universo da casa ainda é pensado como o das mulheres. O trabalho do homem é ajuda, o trabalho da mulher é responsabilidade, não importa se ela trabalha fora. A expectativa é que todas as mulheres da casa tenham essa responsabilidade, e os homens ainda são poupados, e quando participam, é de forma esporádica. É a educação que mantém esse tipo de divisão sexual do trabalho, que é bastante sexista ainda”, completa a especialista. Os dados do Ibge também revelam que a questão da carga horária dentro de casa é um fator diferencial na inserção ocupacional entre homens e mulheres. As mulheres que precisam conciliar o seu trabalho com os afazeres domésticos acabam escolhendo ocupações com carga horária reduzida. Ao comprarmos os indicadores de cor e raça, fica evidente que as mulheres pretas ou pardas exercem mais ocupações por tempo parcial (31,1%), do que mulheres brancas (25%). Já para os homens brancos, somente 11,9% trabalharam por tempo parcial, enquanto homens pardos e pretos representaram 16% dessa proporção. Por causa do trabalho dentro de casa, além do ofício assalariado pelo qual a mulher se ocupa ao longo do dia, de acordo com a pesquisadora, essa sobrecarga acaba gerando um adoecimento e exaustão naturalizados. “Naturalizaram a ideia do amor materno como se a sobrecarga fizesse parte do casamento e da maternidade. As mulheres são ensinadas que ‘ser mãe é padecer no paraíso’, mas quando foi dito isso, a pressão do trabalho fora de casa era menor. Não estou dizendo que foi desvantagem para a mulher trabalhar fora, mas trabalhar fora implica uma divisão do trabalho em casa”, defende Márcia. “Mesmo em casos em que o homem ganhe menos ou esteja desempregado, a casa ainda não é vista como responsabilidade masculina, isso é lamentável”, completa a especialista.