Mais de 1 milhão de brasileiros vivem com a doença, segundo a Associação Brasileira de Alzheimer. A maior parte ainda não tem diagnóstico.
O mal de Alzheimer é uma doença incurável, crônica e progressiva, que causa a morte de células cerebrais e leva à perda das funções cognitivas, como memória, orientação, atenção e linguagem.
Apesar de não ter cura, quando descoberta no início, o tratamento pode ajudar a retardar o avanço dos sintomas e garantir melhor qualidade de vida ao paciente e à família.
O neurologista Benito Damasceno, da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp, explica que, durante a fase precoce da doença, os medicamentos alcançam a eficácia máxima, diferentemente da fase mais avançada, quando já existem danos irreversíveis no cérebro.
A ciência ainda não conseguiu definir o que faz com que uma pessoa desenvolva a doença de Alzheimer. O que se sabe é que existem algumas lesões cerebrais comuns nos pacientes.
Entre essas lesões estão as placas senis, alterações microscópicas que se formam a partir do acúmulo da proteína beta-amiloide. Outra mutação que leva à doença é a do gene da proteína TAU, comum no sistema nervoso central e periférico. Existe, ainda, a redução do número de neurônios e das ligações entre eles, as sinapses.
Mesmo sem saber o que faz com que essas alterações aconteçam, especialistas concordam na existência de fatores de risco. O primeiro deles é o avanço da idade. O risco de uma pessoa desenvolver Alzheimer é maior depois dos 65 anos e dobra a cada cinco anos.
Outro fator importante é o familiar. Embora a doença não seja hereditária, pessoas que têm parentes com Alzheimer têm mais chances de desenvolver a doença. A herança genética é importante, principalmente, nos casos em que a doença começa a se manifestar antes dos 65 anos.
Existem, ainda, outros fatores que devem ser considerados como hipertensão arterial, diabetes, obesidade, tabagismo e lesões traumáticas do cérebro, aquelas que levaram à perda da consciência ou coma.
Alzheimer x ansiedade
Pessoas mais ansiosas têm chance maior de desenvolver a doença de Alzheimer. O neurologista explica que antes de aparecerem os primeiros sinais da demência, na fase chamada pré-clínica, a doença costuma causar leves dificuldades com tarefas cognitivas mais complexas e alterações afetivas, principalmente sintomas depressivos e ansiosos.
“Isto já tem sido demonstrado em estudos em idosos normais e indivíduos que têm alguma mutação genética da doença e, portanto, vão ter a doença, mas ainda estão normais”, afirma.
Um estudo desenvolvido por pesquisadores do Hospital Brigham and Women’s, em Boston, nos Estados Unidos, e publicado no periódico The American Journal of Psychiatry, comprovou esta relação.
A equipe acompanhou 270 pessoas entre 62 e 90 anos por um período entre um e cinco anos e identificaram a relação entre a ansiedade e a proteína beta-amiloide, aquela que se acumula e forma as placas senis.
Os cientistas concluíram que, com o passar dos anos, o aumento desta proteína pode causar sintomas de ansiedade e depressão antes de apresentar os sintomas de demência característicos da doença de Alzheimer.
Embora a relação não seja uma novidade, é a primeira vez que ela é comprovada em um estudo científico feito a partir do acompanhamento médico de pessoas idosas sem a doença.
Damasceno explica que a relação entre a proteína beta-amiloide e os sintomas de depressão-ansiedade é indireta. “Existem pessoas idosas normais que têm esses depósitos e não têm depressão ou ansiedade e que nunca apresentam demência. É um fenômeno que faz parte também do envelhecimento normal do cérebro”.
Entretanto, quando esses depósitos são acompanhados por depósitos de proteína TAU dentro dos neurônios e por degeneração de neurônios da parte profunda do cérebro e no tronco cerebral, então aparecem sintomas afetivos como ansiedade, depressão e apatia. Com o passar do tempo, surgem também os sintomas cognitivos como déficit de atenção, memória e raciocínio.
“Em algumas pessoas idosas, pode predominar no início da doença a degeneração dessas regiões e, portanto, os sintomas afetivos mencionados, ou seja, em algumas pessoas, a ansiedade pode indicar o início da doença de Alzheimer”.
A confirmação científica da tese pode ajudar no diagnóstico precoce da doença, um dos grandes desafios dos especialistas.
“É o que está sendo mais pesquisado atualmente, ou seja, como os sintomas neuropsiquiátricos do idoso podem anunciar o Alzheimer, antes de produzir os déficits cognitivos que caracterizam a doença”, destaca Damasceno.
Um outro estudo publicado em fevereiro deste ano na revista The Lancet Public Health por pesquisadores da Rede Interdisciplinar de Economia da Saúde da França mostrou que o consumo excessivo de bebidas alcóolicas eleva em até três vezes o risco de uma pessoa desenvolver algum tipo de demência, inclusive o mal de Alzheimer.
Para chegar a essa conclusão, os cientistas analisaram mais de 1 milhão de pessoas adultas que passaram por hospitais franceses entre os anos de 2008 e 2013. Desses, quase 60 mil apresentavam sintomas de demência precoce. Entre eles, 13% eram alcóolatras e outros 39% costumavam consumir bebidas alcóolicas em diferentes níveis de frequência.
O neurologista explica que o álcool é um neurotóxico que provoca deficiência de vitamina B1, chamada de tiamina. Por isso, o uso abusivo pode causar lesão no cérebro ou em outras partes do sistema nervoso.
Desta forma, pode-se dizer que o alcoolismo intenso e insistente, além de levar à degeneração e atrofia cerebral, é um fator de risco a mais para a doença de Alzheimer.
R7