De acordo com o coronel do Corpo de Bombeiros Leodilson Bastos, presidente do Comitê Estadual de Monitoramento de Incidentes com Tubarões (CEMIT) em Recife, Pernambuco, e especialista em socorro de emergência, as lesões causadas por tubarões costumam ser graves ou gravíssimas porque são lacerantes.
“Uma mordida de tubarão é capaz de quebrar o casco de uma tartaruga, imagina o que faz com perna de um ser humano. Sua mordida lacera, primeiramente, os membros inferiores porque eles estão dentro da água. Depois, os superiores porque a pessoa tenta se proteger. Com isso, ocorrem múltiplas lesões que causam hemorragia grave. O sangue sai rápido e em grande quantidade”, afirma.
Ele explica que essa hemorragia compromete o sistema circulatório. A grande perda de sangue provoca choque hipovolêmico, diminuição do volume sanguíneo que interfere no sistema respiratório e no funcionamento do coração.
“O que determina a sobrevivência são os primeiros-socorros. Quanto mais rápido, melhor. E rápido não significa levar a vítima correndo para o hospital, mas sim estancar a hemorragia e manter a pressão arterial, vital para o funcionamento dos órgãos”, afirma. “As amputações ocorrem por causa da gravidade da lesão. A mordedura do tubarão pode causar fratura completa dos ossos”, completa.
Bactérias multiresistentes na mordida
Um grupo de pesquisadores da Universidade Federal Rural de Pernambuco estudou as bactérias encontradas na boca de seis tubarões capturados no litoral pernambucano. Os animais são de duas espécies responsáveis por boa parte dos ataques registrados no Estado nos últimos anos: tubarão tigre e tubarão cabeça-chata.
A equipe conseguiu isolar 81 tipos de bactérias de 14 espécies diferentes encontradas nos dentes e nas gengivas dos tubarões. Todas foram testadas para 13 tipos de antibióticos normalmente usados no tratamento de vítimas de ataques de tubarão no principal hospital público de Pernambuco, o Hospital da Restauração.
Entre os resultados, o que mais surpreendeu é que entre as bactérias encontradas, duas são multirresistentes, capazes de persistir ao tratamento de 4 e 6 antibióticos.
O microbiologista José Vitor Moreira Lima Filho, responsável pela pesquisa, explica que essas bactérias são transmitidas para as lesões na hora da mordida. “Elas não vão, por si só, levar o paciente a óbito, mas podem causar complicações durante o tratamento”, afirma.
Ele destaca que as bactérias não são responsáveis pelas amputações. “As amputações relativas a esses ataques ocorrem devido à perda da circulação de sangue nas pernas ou braços”, explica.
Segundo ele, os casos de amputações raramente estão ligados a infecções. “Apesar disso, não se pode descartar totalmente a participação das bactérias caso um paciente tenha complicações relacionadas às infecções durante o internamento”, afirma.
O estudo pode auxiliar o médico a ter mais segurança na hora de escolher o antibiótico adequado ao tratamento. Isso diminui a chance de que mudanças nos tipos de antibiótico sejam necessárias, tornando o tratamento mais efetivo e diminuindo o tempo de internação.
Ataques de tubarão em Pernambuco
Desde 1992, quando começou a ser feito o monitoramento dos casos com tubarão, Pernambuco registrou 62 incidentes, sendo que entre eles, 24 pessoas morreram.
O Comitê Estadual de Monitoramento de Incidentes com Tubarões (Cemit) utiliza o termo “incidente” em vez de “ataque”, pois considera que a pessoa estava no ambiente do tubarão e não o contrário.
O ataque deste fim de semana ainda não foi computado nesta estatística porque ainda será preciso definir o tipo de peixe – se foi mesmo um tubarão e qual o tipo de tubarão. A pesquisa vai ser realizada a partir da mordida na perna que foi amputada.
R7