As duas terapias são bem conhecidas por médicos e pesquisadores de todo o mundo. De um lado está a terapia- alvo, do outro a imunoterapia.
As duas têm sido aperfeiçoadas ao longo dos anos. A novidade é a possibilidade de serem aplicadas de forma conjunta.
Câncer mais agressivo
O tipo de câncer mais comum no Brasil é o de pele. De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (INCA), ele representa 30% de todos os diagnósticos de câncer do país.
Entre os diferentes tipos de tumores cutâneos, o melanoma atinge 3% dos pacientes e é considerado o mais grave por ser o mais agressivo, com alta possibilidade de metástase.
Segundo a projeção do INCA (Instituto Nacional de Câncer), neste ano, vão ser diagnosticados 6.260 novos casos de melanoma, sendo 2.920 em homens e 3.340 em mulheres.
A taxa de mortalidade elevada aumenta a corrida pela busca de um tratamento eficaz, que aumente a sobrevida e diminua a taxa de reincidência do câncer e a união das duas terapias parece caminhar neste sentido, segundo especialistas.
A novidade foi apresentada pelo oncologista Milton José de Barros e Silva, nesta quinta-feira (10) no congresso Next Frontiers to cure, organizado pelo A.C. Camargo Cancer Center, em São Paulo.
De acordo com o médico, o principal avanço dos últimos anos no que diz respeito ao melanoma é a mudança na perspectiva de cura. “Baseado no conhecimento da biologia do tumor e no melhor funcionamento do sistema imunológico, hoje nós temos essas duas estratégias que mudaram completamente a evolução dos pacientes. Primeiramente, a possibilidade de controle da doença e, a longo prazo, a possibilidade de cura, de desaparecimento total da doença, que acontece em até 20% dos pacientes. Situação que não acontecia até 5 ou 6 anos atrás”.
A primeira estratégia, a terapia-alvo, foi desenvolvida a partir do conhecimento das alterações moleculares dos tumores. Conhecendo as alterações mais importantes, foi possível o desenvolvimento de drogas capazes de inibir estas alterações, diminuindo o crescimento do tumor e, desta forma, controlando a doença.
“Mas existem mecanismos de resistência que fazem com que, em algum momento, a droga termine falhando. Então, a terapia-alvo ainda não é considerada uma estratégia curativa, mas ela consegue controlar a doença por muito tempo”, explica Barros e Silva.
A segunda estratégia é a imunoterapia, que existe desde a década de 1980, mas era utilizada sem um foco definido, um ponto específico onde atuar. Quem explica é o oncologista José Augusto Rinck, da Unicamp:
“Dava aos pacientes e torcia para ter uma resposta. Com o avanço do conhecimento de como funciona o sistema imunológico, quais são os mecanismos que nós podemos atuar, foram criadas drogas para atuar especificamente nesses mecanismos, que acabavam freando o sistema imunológico. Conseguimos um tratamento muito mais eficaz e bem menos tóxico do que a Imunoterapia antiga”.
A Imunoterapia utiliza o sistema imunológico para que ele possa reconhecer o câncer e, uma vez que ele consiga reconhecer, destruir a aprender que o câncer é um inimigo. Isso gera uma memória no sistema imunológico, uma situação de não retorno do câncer e os pacientes podem, assim, ficarem curados.
Apesar de eficaz na maioria dos casos, ainda existe um grupo de pacientes que não responde à Imunoterapia.
Unir as terapias e aumentar a chance de cura
A possibilidade de usar as duas terapias de forma conjunta pode ser uma alternativa para controlar a doença, eliminar o tumor e impedir que o câncer volte a se manifestar no paciente.
Os primeiros estudos sobre essa combinação devem ser encerrados ainda em 2018. Depois disso, as conclusões devem ser submetidas à aprovação de órgãos regulatórios, como a Anvisa. Caso aprovado, só então é que os médicos vão poder indicar o tratamento aos pacientes.
Barros e Silva explica que o que se discute neste momento é como otimizar estas medicações. “Como melhorar ainda mais a imunoterapia, como melhorar ainda mais a terapia alvo, e como associar uma estratégia com a outra”.
O objetivo é aproveitar o potencial de controle rápido da terapia alvo e associar à capacidade de controle da doença a longo prazo que a Imunoterapia pode dar.
De acordo com o oncologista do Hospital A.C Camargo, os estudos de terapia-alvo e imunoterapia estão acontecendo neste momento no mundo. “O que temos são dados preliminares dos estudos iniciais, que mostram que esse pode ser um caminho”.
O oncologista da Unicamp destaca que a união dos dois tratamentos ainda é experimental:
“Isso ainda não se traduziu em uma mudança de prática no dia a dia dos pacientes, na prática clínica, nem no Brasil, nem no exterior, mas é uma estratégia que promete de fato, a melhora dos resultados”.
Os dois oncologistas concordam que ainda é preciso que estudos mais detalhados indiquem quais são os efeitos colaterais da combinação de tratamentos.
“O cuidado que se deve ter com esta combinação é quanto a toxicidade – se a busca por melhores resultados não vem às custas de efeitos colaterais que os pacientes podem passar a ter”, explica Rinck.
R7