O ano de 2018 não começou como os economistas esperavam. A retomada que se desenhou no ano passado, que já era fraca, perdeu fôlego e provocou uma onda de revisões para o desempenho no primeiro trimestre.
Dez consultorias e instituições financeiras ouvidas pela BBC Brasil esperam, em média, uma alta de 0,4% no Produto Interno Bruto (PIB) no período entre janeiro e março, na comparação com o trimestre imediatamente anterior, outubro a novembro, já descontada a sazonalidade.
No fim do ano passado, algumas das estimativas para o início de 2018, que o IBGE divulga nesta quarta-feira, passavam de 1%.
Entre os principais fatores de frustração, pelo lado da demanda, está o consumo das famílias, que representa 60% do PIB e que vem sendo afetado negativamente pelo desemprego, mais elevado do que se esperava.
Esse freio no consumo se manifesta especialmente nos serviços, que, nos três primeiros meses do ano, tiveram desempenho muito aquém do que se previa, como mostram as divulgações mensais da Pesquisa Mensal de Serviços (PMS).
O cenário externo, por sua vez, que até o ano passado jogava a favor do Brasil, agora está mais adverso: o dólar e o petróleo mais caros e a possibilidade de guerra comercial entre Estados Unidos e China podem ter impacto negativo sobre a atividade econômica.
O impacto da greve dos caminhoneiros, que causou prejuízos em vários setores da economia, deverá ser sentido nos dados do segundo trimestre.
Informalidade e desemprego
O país tem dificuldade para gerar novas vagas, especialmente com carteira assinada. A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua mostra alguma recuperação na ocupação desde junho do ano passado, quando, depois de 22 meses consecutivos de retração – ou seja, de redução no volume de pessoas empregadas – ela voltou a cresceu.
Essa retomada, contudo, se dá através do trabalho informal e do por conta própria, categorias mais precárias. Desde fevereiro de 2015, o trabalho com carteira na Pnad Contínua está em terreno negativo.
“O aumento da informalidade, ainda que represente alguma geração de emprego, também segura o consumo, já que o risco de ser demitido é maior”, pondera o economista Marco Caruso, do banco Pine. Ele chegou a estimar alta de 0,9% para o PIB no primeiro trimestre, mas reduziu o número para 0,3% recentemente diante do cenário mais fraco.
PIB menor, por sua vez, significa taxa de desemprego maior. Em paralelo à revisão do crescimento de 0,5% para 0,3% para o primeiro trimestre e de 3% para 2% para o ano, o banco Itaú elevou também a expectativa para o desemprego, de 11,7% para 12,1% no fim de 2018 e de 12% para 12,3% na média do ano.
“À medida que a demanda cresce menos, as empresas precisam de menos contratações”, explica o economista Arthur Passos.
Renda cresce menos
Quem está empregado, por sua vez, vê a renda crescendo menos. Em 2017, os reajustes salariais que levavam em conta a inflação mais alta de 2016 ganharam incremento que não se repete neste ano.
“No ano passado os salários se beneficiaram pelo ‘bônus desinflacionário’ e o consumo foi incentivado pela liberação dos saldos das contas inativas do FGTS, dois fatores atípicos que a gente não vê neste ano”, ressalta Silvia Matos, pesquisadora do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV).
No ano passado, a massa de renda real (descontada a inflação) calculada pelo Ibre-FGV avançou 5,5%. A projeção para este ano é de apenas 0,5%. “Só isso já faria 2018 crescer menos”.
Apesar dos juros mais baixos, crédito não deslancha
Se a renda sobe menos, o canal de crédito também não alavanca o consumo – mesmo com as taxas mais baixas.
O ciclo de corte da taxa básica de juros, a Selic, vinha se refletindo em redução do custo de crédito para famílias e empresas desde outubro de 2016, diz a professora da Coppead/UFRJ Margarida Gutierrez, ainda que em uma velocidade menor.
Esse ciclo, contudo, pode arrefecer ainda mais nos próximos meses. Os indicadores de confiança financeiros têm dado sinal de alerta, diz a economista, com alta nos juros futuros de longo prazo.
Isso significa que o mercado aposta em um aumento das taxas mais à frente – diante, por exemplo, de um cenário eleitoral ainda bastante incerto, que aumenta as dúvidas em relação às reformas que, para os investidores, garantiriam o reequilíbrio das contas públicas.
“O custo do crédito também toma esses indicadores como base”, ressalta a economista.
Para Caruso, do banco Pine, porém, ainda há espaço para que os efeitos positivos da queda Selic — um ciclo que se encerrou possivelmente neste mês, quando o Banco Central decidiu mantê-la em 6,5% — se manifestem sobre a atividade econômica, já que seu impacto é defasado.
Mudança no cenário externo
O crescimento de 1% do PIB em 2017 – um resultado magro, diante da retração de 3,5% da atividade tanto em 2015 quanto em 2016 — teve ajuda do cenário internacional, que manteve a cotação do dólar e do petróleo mais comportados.
O Brasil não vai poder contar com esse auxílio em 2018. O dólar mais caro, diz Silvia Matos, do Ibre-FGV, em um primeiro momento tem impacto negativo sobre a indústria, já que aumenta o preço das importações e dificulta, por exemplo, a compra de máquinas e equipamentos lá fora.
As exportações poderiam ser beneficiadas no médio prazo, já que a desvalorização do real deixa os produtos brasileiros mais baratos em dólar – o problema é que as moedas da maioria dos emergentes também perdeu valor, reduzindo o ganho de competitividade do Brasil.
“E exportação não é tanto câmbio, é cada vez mais acordos (entre países e blocos comerciais)”, acrescenta a economista.
Diante dessa conjuntura, o Ibre-FGV revisou para baixo a expectativa para o resultado da indústria no primeiro trimestre, de um número ligeiramente positivo para queda de 0,5%.
A crise na Argentina, mercado importante para os veículos fabricados no Brasil, não chegou a afetar negativamente as exportações nos primeiros três meses do ano, destaca Arthur Passos, do Itaú, mas é outra frente que deve ser monitorada.
Todo esse cenário desincentiva a retomada dos investimentos. Dentro do PIB, destaca Matos, 55% da Formação Bruta de Capital Fixo (os investimentos) vem do setor de construção civil, “que já estava ruim e continuou assim”, ela destaca.
Greve de caminhoneiros e risco eleitoral
Os economistas têm previsões melhores para os próximos trimestres, mas os riscos para o cenário até o fim do ano podem crescer.
O segundo trimestre pode ser em parte prejudicado da greve de caminhoneiros, pondera a economista do Ibre-FGV, que em uma semana provocou prejuízos para o setor industrial e do agronegócio.
“A duração disso (das paralisações) é importante, e o impacto específico é algo difícil de mensurar.”
Para o segundo semestre, as eleições podem jogar contra a atividade. Caso a incerteza que se desenha neste início de ano se exacerbe – e não fique claro qual vai ser o caminho que a economia do país vai tomar nos próximos quatro anos -, ela pode elevar o risco-país e deteriorar as condições financeiras.
R7