No Brasil, a artrite reumatoide atinge cerca de 2 milhões de pessoas, a maioria mulheres
Considerada como uma consequência dos sintomas da artrite reumatoide, a depressão começa a ser vista como um gatilho para a doença reumática em pessoas com predisposição genética. É o que aponta um estudo recente da University of Calgary, no Canadá1. O trabalho lança um novo olhar sobre essa relação, mostrando que a depressão tem efeito direto sobre as citocinas, substâncias que estimulam o processo inflamatório relacionado à artrite reumatoide. O risco ainda seria maior entre as pessoas mais jovens, com até 40 anos.
“Não raro, os primeiros sintomas da artrite reumatoide surgem após o paciente passar por momentos de grande stress como luto, divórcio, desemprego ou perdas financeiras”, afirma a reumatologista e professora-doutora Licia Maria Henrique da Mota, orientadora do Programa de Pós-Graduação da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade de Brasília (UnB).
O Estudo
O trabalho dos pesquisadores da Universidade de Calgary mostrou que a depressão tem efeito direto sobre as citocinas, provocando o aumento da concentração de uma substância chamada de Fator de Necrose Tumoral Alfa (TNF-α), que desempenha um importante papel no desenvolvimento da artrite reumatoide.
Para chegar a esta conclusão, os cientistas analisaram um grupo de 403.932 pacientes com depressão e outro grupo de referência com 5.339.399 sem essa enfermidade, que passaram pelo sistema de atenção à saúde do Reino Unido entre 1986 e 2012. Ao final, os pesquisadores concluíram que 0,54% dos pacientes com depressão tiveram artrite reumatoide, o equivalente a 2.192 indivíduos. Em contrapartida, 0,45% das pessoas sem depressão desenvolveram artrite reumatoide, o que corresponde a 24.021 pacientes. Os menores de 40 anos apresentaram 42% riscos de desenvolver a doença, ante 14% das pessoas acima desta idade.
Artrite reumatoide e depressão
De natureza autoimune, crônica e progressiva, a artrite reumatoide afeta as articulações, provocando rigidez, desgaste ósseo, limitações físicas, dor e fadiga. Em geral, é diagnosticada por volta dos 40 anos2, causando um efeito devastador sobre a vida do paciente, com impacto direto nas atividades diárias, profissionais, familiares e sociais3.
Estudos revelam que a prevalência de transtornos depressivos em portadores da doença varia entre 13% e 47%4,5. Essa grande diferença se deve à variedade de critérios utilizados ou das características da amostra. Os transtornos depressivos nesses pacientes superam a média encontrada na população que, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), é de 4,4%. Na América Latina, o Brasil é o país com o maior porcentual de indivíduos diagnosticados com depressão6. Pelos cálculos da OMS, eles representam 5,8% da população, o equivalente a 11 milhões de pessoas.
“Estabelecida a depressão como uma comorbidade da artrite reumatoide, o importante é que os médicos fiquem atentos à saúde mental do paciente, indicando um apoio psicológico, quando necessário”, declara a médica Licia Mota. Esse suporte é muito importante porque o transtorno mental leva o portador da enfermidade a ter baixa adesão ao tratamento e, consequentemente, pior evolução do quadro da doença7.
Terapia inovadora
Estima-se que a artrite reumatoide acometa dois milhões de brasileiros, o equivalente à população de uma cidade como Belo Horizonte, em Minas Gerais8. E esses pacientes podem contar com uma nova opção de tratamento desde 2015, quando a Pfizer trouxe ao Brasil uma nova classe de medicamentos sintéticos para o tratamento da artrite reumatoide. Administrado por via oral, Xeljanz (citrato de tofacitinibe) apresenta um mecanismo inovador que age dentro das células, inibindo a janus quinase (JAK), uma proteína importante nos processos inflamatórios característicos da enfermidade.
Xeljanz é o primeiro tratamento oral, não biológico, do tipo MMCD (medicamento modificador do curso da doença reumática) alvo-específico desenvolvido para o tratamento de artrite reumatoide. Ele é indicado para o tratamento de pacientes adultos com artrite reumatoide ativa moderada a grave que apresentaram uma resposta inadequada a um ou mais medicamentos modificadores do curso da doença. Xeljanz apresenta o mesmo perfil de eficácia e segurança manejável em relação aos biológicos e traz a comodidade de ser oral – o que pode contribuir para melhorar a adesão ao tratamento.
Referências
- Vallerand, Isabelle and others. Depression as a Risk Factor for the Development of Rheumatoid Arthritis: a Population-Based Cohort Study, 2017 ACR/ARHP, Annual Meeting.
- Narrative 2015, Instituto Harris Poll.
- Figueiredo, Margarida. Artrite reumatoide: Um estudo sobre a importância na artrite reumatóide da depressão e do ajustamento Psicossocial à doença. Revista Portuguesa de Psicossomática, vol. 6, núm. 1, janeiro-junho, 2004, pp. 13-25.
- Dickens C, Creed F: The burden of depression in patients withrheumatoid arthritis. Rheumatology 40: 1327-30, 2001.
- Velasquez X, Pizarro C, Pizarro P, Massardo L: La depresion em artritis reumatoidea. Reumatologia 18(2): 49-52, 2002.
- Depression and Other Common Mental Disorders Global Health Estimates. World Health Organization 2017.
- Pincus T. and others. Prevalence of self-reported depression in patients with rheumatoid arthritis. British journal of rheumatology 1996;35:879-883
- Sociedade Brasileira de Reumatologia, Artrite Reumatoide-Cartilha para pacientes, Comissão de Artrite Reumatoide, 2011.
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