Sentir dor durante a relação sexual não é algo normal e deve ser investigado. O primeiro passo é procurar um ginecologista que possa avaliar a situação e solicitar os exames necessários, como ultrassom, exame de urina e Papanicolau, preventivo de câncer de colo de útero.
De acordo com a ginecologista Lidia Myung, da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo, existem duas situações em relação a esse tipo de dor. “A primeira é a mulher que não costuma sentir dor e, repente, começa a sentir. A outra é aquela mulher que sempre sentiu, inclusive desde as primeiras relações”.
A médica explica que, no primeiro caso, a maior possibilidade é de doença inflamatória da pelve, ou doença inflamatória pélvica, que pode vir acompanhada de febre, calafrios e secreção vaginal.
Já a mulher que costuma ter dor na relação por um longo período pode estar com outros problemas. A ginecologista ressalta que, nesses casos, se encaixam mulheres que sentem dor há muito tempo, possivelmente desde as primeiras relações, e também as que perceberam um aumento dessa dor nos últimos anos. Em geral, os motivos incluem vaginismo, endometriose ou dor miofascial.
O câncer de colo de útero também causa dor durante as relações sexuais, mas, segundo a especialista, esse sintoma é uma manifestação tardia, só aparece depois de outros sinais, como o sangramento.
Algumas mulheres que passam pelo período da menopausa ou do climatério também sentem dor durante a relação por causa do ressecamento vaginal. Isso acontece devido a alterações hormonais, principalmente queda na produção de estrogênio. Entre os tratamentos possíveis estão a reposição hormonal e a aplicação de cremes vaginais feitos à base de hormônios, mas essas possibilidades devem ser discutidas com o médico – o ginecologista avalia cada caso.
Veja a seguir quais são os principais problemas que causam dor durante as relações sexuais.
Doença inflamatória da pelve
Esta doença é uma infecção que se desenvolve no trato genital feminino e pode incluir o endométrio, as trompas uterinas e os ovários. A causa costuma ser polimicrobiana, porque envolve mais de um micro-organismo.
Em 60% dos casos, o contágio está relacionado ao sexo, por isso, o uso de preservativo é um bom aliado na prevenção. Além do sexo sem camisinha, existem alguns fatores de risco como doenças inflamatórias prévias e múltiplos parceiros sexuais.
Algumas mulheres não apresentam sintomas, enquanto que outras sofrem com dor abdominal, dor durante as relações sexuais, dor lombar, febre, calafrios, náuseas, corrimento, coceira, sangramento e cheiro forte na vagina.
De acordo com a Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia), uma em cada quatro mulheres com doença inflamatória pélvica acabam tendo sequelas a longo prazo. A principal é a infertilidade, que afeta de 30 a 40% das pacientes que tiveram danos graves causados pela doença. Mesmo as mulheres com danos leves têm 3% de chance de enfrentar dificuldade para engravidar no futuro. Danos moderados aumentam o índice para 13%.
Vaginismo
O vaginismo é uma disfunção sexual que causa forte contração involuntária dos músculos perineais – aqueles que formam o assoalho pélvico, abaixo da região do abdômen. Essa contração impede a penetração durante a relação sexual ou, quando ela acontece, leva a fortes dores na vagina e na região pélvica.
De acordo com a ginecologista Lidia Myung, o vaginismo é atribuído a causas psicológicas como medo, culpa e baixa autoestima. “Pode acontecer por causa de um trauma, um histórico de abuso ou até mesmo ser reflexo de uma educação muito rígida, onde a virgindade, ou a castidade, foram muito valorizadas”, explica
O tratamento deve ser multidisciplinar e pode incluir ginecologista, psicólogo, terapeuta sexual e fisioterapeuta.
Síndrome da dor miofascial
A dor miofascial é uma dor muscular específica que pode se manifestar em uma ou mais regiões – ou até mesmo se espalhar pelo corpo.
De acordo com a Sociedade Brasileira de Reumatologia, o problema é a causa mais frequente de dor musculoesquelética e representa o principal motivo de procura por atendimento médico entre a população mundial.
Pode ser a causa de doeres orofaciais, como na cabeça e mandíbula, além de dores cervicais, dorsais e lombares, incluindo as dores pélvicas de origem desconhecida.
A síndrome é mais comum entre mulheres de meia-idade e com hábitos sedentários, mas pode se manifestar em qualquer idade.
Lidia Myung explica que, assim como no vaginismo, a dor durante a relação pode ser intensa e impedir a penetração. “Mas neste caso as causas não são psicológicas, são físicas”.
A dor miofascial pode, ou não, estar relacionada à fibromialgia, dor muscular que também pode causar cansaço, sono não-reparador, alterações de memória, ansiedade, depressão e alterações intestinais.
Endometriose
A endometriose é uma doença que ainda não tem causa definida pela medicina, mas afeta 176 milhões de mulheres em todo o mundo – uma em cada dez.
Endométrio é o tecido que se forma ao longo do ciclo menstrual para revestir a parede interna do útero. Quando não acontece a fecundação, a mulher não engravida e esse tecido é eliminado pelo organismo em forma de menstruação.
Nas mulheres que sofrem com a endometriose, esse tecido se forma descontroladamente e aparece fora do útero ou em outras partes do organismo.
Embora em algumas mulheres o problema seja assintomático, a endometriose pode causar dor forte na região do abdômen e durante a relação sexual.
“Essa é a principal causa de cólicas severas no período menstrual, infertilidade e dor nas relações sexuais na profundidade. Tem diagnóstico tardio e a suspeita deve ser levantada quando esses sintomas de dor ocorrem sem o uso das pílulas anticoncepcionais, que podem mascarar os sintomas”, explica a ginecologista.
Como a causa ainda não foi definida, não existe um remédio que capaz de curar a endometriose. Cada paciente deve discutir com seu médico a melhor alternativa para minimizar o problema e controlar a dor.
R7