Uma foto em que a guarda penitenciária norte-americana Sandra Rincón aparece com uma pequena tiara de princesa, diante de um bolo com uma vela com o número 50 poderia passar facilmente por uma recordação de aniversário. O registro, no entanto, revelou a existência de um ‘clube da luta’ na cadeia feminina de El Paso, no Colorado (EUA).
Sandra não fazia aniversário naquele dia. A festa era para comemorar a 50ª em que ela espancava brutalmente uma das detentas. Com a marca, ela bateu o ‘recorde’ da cadeia e, por isso, ganhou o bolo.
‘Cultura de violência’
A foto e a existência do ‘clube da luta’ foram descobertos durante um processo, em que uma ex-detenta Philippa McCully, recebeu a maior indenização já paga em casos desse tipo nos EUA: 675 mil dólares (cerca de R$ 2,5 milhões).
Em 2014, durante uma confusão dentro da cadeia, Philippa foi derrubada e espancada por Sandra Rincón e outras guardas. Na queda, ela quebrou uma costela, fraturou e teve ruptura no ligamento cruzado de um joelho e sofreu diversos hematomas.
“A foto expôs toda uma cultura de violência”, explicou Darrold Killmer, advogado de Philippa, ao jornal The Gazette, de Colorado Springs, cidade vizinha a El Paso. Segundo ele, o registro fotográfico foi decisivo para que sua cliente vencesse o caso, alegando o uso de força excessiva.
Sem punições
Mesmo com o escândalo, as guardas não foram punidas. Houve uma investigação interna na cadeia de El Paso, mas das dez profissionais envolvidas no ‘clube da luta’, seis sofreram punições disciplinares e quatro receberam cartas de advertência. Todas permaneceram no emprego.
“Esse caso precisa de uma investigação maior, para entender o que acontece na cadeia de El Paso. Guardas aprendem atitudes como essa por causa da cultura da instituição. E isso não vai mudar com punições leves como essas”, reclama Mark Silverstein, diretor legal da ACLU (União Americana das Liberdades Civis, na sigla em inglês) no Colorado.
Por sua vez, o sub-xerife de El Paso, Joe Breister, defendeu as medidas tomadas, e disse que as guardas tiveram apenas um problema de “mau julgamento”. Ele também afirmou que a conduta se devia ao perigo oferecido pelas detentas.
Philippa McCully tinha sido presa por direção perigosa, ataque com veículo e ameaça, mas todas as queixas contra ela foram retiradas.
A investigação mostrou que a competição começou depois que as guardas começaram a ter de registrar incidentes com uso de violência em um sistema interno.
Os números deveriam ser vistos apenas pelos superiores, mas quando as oficiais passaram a ter acesso a eles, começaram a disputar entre si.
R7