O ex-governador do Rio Sérgio Cabral sustentou, em depoimento à Justiça Federal, que todo o dinheiro que recebeu era recurso de caixa 2 e que nunca aceitou propina. Ele foi interrogado nesta segunda-feira (13) pelo juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal, no processo da Operação Unfair Play, um desdobramento da Lava Jato.
“Eu errei, ao obter recursos de maneira incorreta, ilegal, em nome das campanhas eleitorais que eu liderei, e que eu usei esses recursos. O que eu não fiz é pedir propina, agir como corrupto. Eu jamais solicitei a algum empresário, condicionando a algum benefício no meu governo”, disse Cabral.
Bretas inquiriu o ex-governador sobre sua relação com o empresário Arthur Soares, conhecido como Rei Arthur, atualmente foragido, que detinha inúmeros contratos milionários com o estado, na área de prestação de serviços, como segurança, fornecimento de comida e limpeza. Cabral negou que uma conta, no banco EVG, conhecida pelo nome Matlock, fosse sua.
“Não era. Não há nenhuma referência no processo de quaisquer gastos meus ou da minha família com origem nesta conta. Os irmãos [doleiros Renato e Marcelo] Chebar foram responsáveis pelo manuseio de dinheiro eleitoral. Eu não conhecia esta conta Matlock, não sabia deste banco e nem sabia onde ficava. O MPF não conseguiu encontrar um gasto meu ou da minha família dessa conta do EVG”, declarou Cabral.
O ex-governador disse que grande parte dos recursos recebidos das empresas foi utilizado em campanhas políticas de outros candidatos e até outros partidos. De Rei Arthur, teria recebido R$ 5 milhões. Perguntado por Bretas quem seriam esses candidatos e partidos, contudo, Cabral relatou seu sofrimento e preferiu não falar.
“Sem nenhum desejo de me vitimizar, as dores são muito grandes. As dores da cadeia, as dores de estar longe dos meus filhos, da minha mulher, o fato de estar proscrito como homem público. São penas muito duras. O fato de, na prática, recomeçar até materialmente a minha vida, com a minha família. Eu sei que isso me prejudica, mas me permito assumir as minhas responsabilidades”, disse Cabral.
Saúde
Outro réu interrogado foi Sérgio Côrtes, ex-secretário de Saúde de Cabral. Ele contou que as licitações na área de saúde eram combinadas e que Rei Arthur conhecia antecipadamente os processos e sugeria a inclusão de cláusulas que acabariam favorecendo sua empresa na concorrência. Ele negou que uma reforma em sua casa tenha sido paga pelo empresário e disse que a atuação dele na máquina pública antecedia ao governo Cabral.
“Ele falava que tinha acordo direto com o governo anterior. O contato dele era com o ex-governador [Anthony] Garotinho. Que não era o governador [de Rosinha Garotinho, sua esposa, que o sucedeu]”, disse Côrtes.
Os ex-governadores Anthony e Rosinha Garotinho foram procurados para se pronunciarem e responderam em nota: “A ex-governadora Rosinha Garotinho afirma que a palavra de um bandido como Sérgio Côrtes vale tanto quanto uma nota de três reais.”
Depois, foi interrogada Eliane Pereira Cavalcante, ex-sócia de Rei Arthur. Ela chegou a ser presa, em setembro de 2017, quando foi deflagrada a Operação Unfair Play, mas em novembro conseguiu a liberdade, com algumas condições, como a proibição de se comunicar com Arthur. Bretas perguntou várias vezes se ela não estava se comunicando com o empresário, que tem casa em Miami, nos Estados Unidos, e ela garantiu que não. Ela foi lembrada que se não estivesse falando a verdade, poderia voltar para a prisão.
A Operação Unfair Play investiga se houve compra de votos para garantir ao Brasil os Jogos Olímpicos de 2016. Rei Arthur, segundo as investigações, teria sido um dos que facilitaram o pagamento a eleitores, especialmente a um grupo de africanos, liderados pelo senegalês Lamine Diack, ex-presidente da Associação Internacional de Federações de Atletismo.
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