Ansiedade, angústia, medo e dor. Quando um paciente recebe a notícia de que precisará de um transplante, os sentimentos são os mais variados, mas nenhum deles, no primeiro momento, é positivo. Atualmente, em todo o País, de acordo com o Registro Nacional de Doadores Voluntários de Medula Óssea (Redome), aproximadamente 850 pessoas estão em busca de um doador compatível.
Apesar de contar com um cadastro com pouco mais de 4 milhões de voluntários, encontrar um doador compatível não é tarefa fácil. Uma realidade conhecida intimamente pela estudante Larissa de Paula Sousa, 19 anos. Lutando contra a leucemia há 10 anos, soube em dezembro passado que precisaria pela primeira vez de um transplante. Familiares logo se prontificaram para fazer o teste. No entanto, nenhum era compatível.
Responsável pela área de transplantes do Instituto de Cardiologia do Distrito Federal (ICDF), o médico Gustavo Bettarello explica que a variação do padrão genético no Brasil, que conta com uma população altamente miscigenada, dificulta a compatibilidade entre as pessoas. “É muito maior a quantidade de variações genéticas que a gente pode ter, de maneira que é muito difícil a gente encontrar uma pessoa que tenha um padrão genético muito semelhante”, disse.
Círculo
“Toda vez que ia alguém, sempre acreditava que uma hora daria certo. Uma hora chegaria alguém, nem que demorasse um pouquinho mais, mas chegaria”, lembrou. A busca por um doador compatível durou pouco mais de dois meses. E ele veio de fora do círculo familiar, o que torna Larissa uma exceção à regra.
No entanto, Larissa é uma das poucas a encontrar um doador que não é da família, chamado de não aparentado, em um curto espaço de tempo. Hoje, depois de duas séries de tratamento e agora com o transplante, ela vive um novo recomeço e pede que as pessoas se conscientizem.
Campanha pela vida
Mãe da estudante, Andréa de Paula disse que a notícia de que a filha precisaria de um transplante foi seguida de desespero, que logo se reverteu em esperança motivada pelas campanhas feitas por familiares, amigos e conhecidos mais próximos. Muitos atenderam ao chamado, momento de emoção e alívio para Larissa e seus pais.
Hoje, mesmo não sabendo quem foi o seu salvador, a gratidão ao doador fala mais alto em seu coração. “Foi uma coisa muito bonita da parte dessa pessoa. Eu queria que outras pessoas também se mobilizassem. É muito importante para quem está na busca”, afirmou.
Compatibilidade
De acordo com Bettarello, responsável pelo transplante de Larissa no ICDF, a compatibilidade do doador foi de 90%, o que aumenta a segurança do procedimento. Agora, ela está na fase do acompanhamento médico. Para o profissional, inscrever-se como doador já demonstra uma vontade de ajudar o próximo.
“Para aquela pessoa que não tem uma perspectiva, uma mínima chance de estar viva depois de um determinado período – porque ela tem uma doença extremamente grave e o transplante é a única chance possível de cura –, aquele doador que se cadastrou vai fazer diferença”, disse.
Isenção para doadores
Para ser um voluntário, basta comparecer ao hemocentro da sua cidade. O doador só é acionado quando aparecer um paciente com a medula compatível. Na maioria dos casos, a doação é realizada em procedimento ambulatorial, por meio da chamada coleta por aférese, em processo parecido com a doação de sangue.
“Achar um doador é muito difícil, mesmo tendo várias pessoas cadastradas no banco. As pessoas precisam ter a conscientização de que podem salvar uma vida e que quem está esperando sofre muito”, disse Larissa.
Desde abril deste ano, doadores de medula óssea podem solicitar isenção da inscrição em todos os editais para concursos da administração pública direta e indireta da União, nos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário. A medida é garantida pela Lei 13.656/2018. Para ter direito ao benefício, os doadores de medula óssea devem estar cadastrados em entidades reconhecidas pelo Ministério da Saúde. E precisam comprovar o cumprimento dessa exigência no momento da inscrição.
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