O horário de verão deste ano terá 15 dias a menos que os anteriores, começando no dia 4 de novembro, mesmo dia da primeira prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).
Com essa redução no período de duração, o corpo terá menos tempo para se adaptar à mudança, sendo ainda pior para pessoas vespertinas, de acordo com o fisiologista Bruno Martynhak, da Universidade Federal do Paraná (UFPR).
Pessoas vespertinas são aquelas que, por uma questão genética, têm dificuldade para dormir e acordar cedo, segundo ele.
“Os vespertinos podem levar meses ou até mesmo não se adaptar a uma mudança de horário. Com apenas três meses de horário de verão, podem não conseguir se ajustar a tempo”, afirma.
O horário de verão tem previsão de terminar em 16 de fevereiro de 2019. Seu início foi alterado por decisão do presidente Michel Temer ao atender um pedido do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) de evitar conflitos no segundo turno das eleições, em 28 de outubro, devido à diferença de horário entre as regiões.
De acordo com o fisiologista Jamiro Wanderley, da Unicamp, de maneira geral, o corpo leva de três a quatro dias para se adaptar à mudança. “Crianças e idosos são os que mais têm dificuldade para a adaptação por conta do estilo de vida com horários regrados para dormir e comer”, afirma. Esses grupos podem levar até 14 dias para se adaptarem ao novo horário.
O metabolismo também sofre com o adiantamento dos relógios. Segundo Martynhak, o horário de verão provoca uma alteração abrupta no relógio biológico, que determina as secreções hormonais e tem como função a adaptação a mudanças ambientais.
Com a mudança artificial, o corpo não consegue dar uma resposta antecipada. Assim, para conciliar o relógio biológico ao chamado relógico social – que determina os afazeres -, o corpo acaba atrasando o horário de acordar ou provoca insônia durante a noite.
“Quando temos um pico de cortisol, hormônio que prepara o corpo para ter disposição, somos induzidos ao despertar natural. Ao acordar antes desse pico hormonal, por meio de despertadores, antes de o cortisol ser secretado, sofremos uma alteração hormonal, levando mais tempo para ficarmos dispostos”, explica Martynhak.
Ele afirma que, com essa sonolência, principalmente na primeira semana após o adiantamento do relógio, há um pequeno aumento no índice de acidentes de trânsito.
Outra alteração que o corpo sofre é com a liberação dos hormônios da tireoide, que afetam o metabolismo, podendo provocar ganho ou perda de gasto energético, alteração do apetite, no peso e na disposição.
A depressão também pode ser agravada com a alteração de horário, já que o relógio biológico tem seu tempo exato para secretar neurotransmissores, como a serotonina e dopamina, responáveis pelo humor e bem-estar, respectivamente, segundo Martynhak. Ele explica que a alteração no relógio social faz então com que o relógio biológico desregule o horário de secreção.
Existem ainda estudos que indicam um aumento no risco de enfarto na primeira semana após o início do horário, em relação à semana anterior ao horário de verão. Martynhak afirma que isso ocorre porque, mesmo sem o horário de verão, o risco de sofrer ataques cardíacos pela manhã é maior, por conta do aumento rápido da pressão arterial e da frequência cardíaca quando acordamos. No horário de verão, esses riscos são ainda maiores devido à mudança no horário de despertar.
Os especialistas afirmam que as melhores maneiras para se adaptar ao horário de verão é tentar deitar mais cedo nos dias que precedem a mudança, de forma gradativa, manter horários regulares de alimentação e se expor à luz natural do dia no início da manhã.
O fisiologista explica que, embora a mudança de horário tenha tido um atraso, a decisão pode ser benéfica, pois as pessoas ficarão menos tempo ajustadas à mudança. Por começar em novembro, e não em outubro, como de costume, as pessoas também terão o benefício de acordar com o dia clareando.
O adiantamento dos ponteiros em uma hora no país foi estabelecido pela primeira vez em 1931 para reduzir gastos de energia elétrica no período noturno. Houve períodos em que a medida não foi adotada, sendo praticada interruptamente a partir de 1985.
R7