Milhares de pessoas saíram às ruas do Haiti nesse domingo (18) para participar de um novo protesto nacional contra a corrupção e a impunidade, que deixou pelo menos dois mortos e vários feridos. Os grupos de opositores também aproveitaram o protesto para pedir a renúncia do presidente haitiano, Jovenel Moise.
O protesto coincidiu com a comemoração do 215º aniversário da batalha de Vertières contra as tropas francesas, que levou à independência do país. Os atos aconteceram na capital, com a presença do presidente, que não viajou para Cabo Haitiano, local do confronto.
A polícia confirmou a morte de uma pessoa em Cabo Haitiano (norte), onde também foram registrados vários feridos. Outras fontes informaram a existência de mais uma vítima em Petit Goâve, no sul da capital, enquanto a imprensa local divulgou que há feridos a bala em diferentes pontos do país.
Durante os protestos, houve confrontos entre manifestantes e policiais em várias cidades. Na capital, a polícia jogou gás lacrimogêneo e atirou para o ar, com o objetivo de dissolver os manifestantes que tentavam chegar ao Parlamento ao final da manifestação.
A mobilização ocorreu em diferentes pontos do país, sob forte esquema policial, para exigir do governo que esclareça o uso supostamente fraudulento dos fundos do Petrocaribe, programa pelo qual a Venezuela fornece petróleo em condições especiais.
Em mensagem transmitida pela televisão, após colocar uma coroa de flores no museu do Panteão Nacional, Moise fez um apelo ao diálogo.
“É com a união, a paz e o diálogo que poderemos avançar”, disse o presidente, cuja renúncia é reivindicada por alguns grupos da oposição, aproveitando esta ação de protesto.
O líder opositor Moise Jean Charles afirmou que só com a saída do presidente do poder haverá um julgamento do caso Petrocaribe.
“Jovenel tem que sair, não há outra opção. Ele é um obstáculo para a estabilidade e a paz. Ele e os seus amigos gastam milhões de dólares, quando estamos vendo que outros estão morrendo de fome. Não é possível que siga como presidente, e vamos continuar com as mobilizações até que ele vá embora”, afirmou Charles.
Para um dos manifestantes, Jean Cinesatre, “com milhares de pessoas nas ruas todos podem ver que o presidente perde sua credibilidade.”
“Isto é uma revolução da juventude que quer que as coisas mudem rapidamente, começando pelo presidente, que não quer lutar contra a corrupção”, disse à Agência EFE.
O Haiti vive forte crise econômica, a moeda nacional, o gourde, está em queda livre em relação ao dólar, enquanto a inflação está na casa dos 14% ao mês desde o início do ano e há alto índice de desemprego, circunstâncias que, somadas ao escândalo de corrupção do Petrocaribe, geraram em grande parte da população desconfiança na capacidade do atual governo para melhorar a situação.
O Parlamento haitiano publicou em 2017 um relatório no qual envolve ex-funcionários do país em supostas irregularidades no uso dos fundos do Petrocaribe. Até agora, no entanto, ninguém foi processado por esse caso, no qual foram desviados mais de US$ 2 bilhões, segundo apuração do Senado.
Em outubro, o presidente haitiano fez mudanças no governo, substituindo o chefe de Gabinete e o secretário-geral da Presidência, envolvidos no caso, de acordo com a investigação..
Dias depois, o primeiro-ministro, Jean Henry Ceant, reiterou o compromisso do governo para que as supostas irregularidades na gestão dos fundos do Petrocaribe sejam averiguadas, mas até o momento não há informações sobre avanços nas apurações.
Agência Brasil