O Sul da Bahia é a região que mais produz piaçava no Brasil. A fibra encontrou por lá o ambiente favorável para o seu desenvolvimento natural. Mas agora existe também a lavoura com perfil comercial.
A Fazenda São Miguel, em Itacaré, se tornou uma referência no assunto. A domesticação da piaçava ali começou há quase 30 anos, na base do erro e do acerto.
A vontade de um agrônomo recém-formado hoje se consolida em 400 mil pés de piaçava distribuídos em 300 hectares. A produtividade é maior do que na mata.
“Aqui nós conseguimos, em média, 8 kg a 10 kg da planta por ano. Na mata, em média, se consegue 5 kg”, diz Alex Guimarães, proprietário da fazenda.
O trabalho de pesquisa dele para o cultivo foi registrado no livro “Piaçava na Bahia”, feito em parceria com a Universidade Estadual de Santa Cruz.
O ciclo
Com chuva na quantidade certa, solo adequado e temperatura confortável, a piaçava encontrou na Bahia seu lugar favorito. Apesar de ocorrer também em Alagoas e Sergipe, foi lá, numa faixa que se estende por 50 km a partir do mar, que a espécie ganhou fama e boa produção.
A piaçaveira começa a produzir fibra a partir dos 7 anos. E, frutos a partir dos 10. O ciclo de vida dura de 30 a 50 anos.
O maior desafio na domesticação foi chegar a uma muda de qualidade. Foram 10 anos de pesquisa e testes. Primeiro, foi preciso aprender a diferenciar frutos machos (sem semente) dos frutos fêmeas.
A germinação também é diferente, do tipo distante tubular. “Forma a palmeirinha embaixo, que vai subindo”, explica Alex. Na fazenda, esse processo é feito dentro de garrafas pet.
E também é preciso saber o ponto certo de fazer o corte, já que a piaçava desempenha uma função estrutural na planta. Se cortar muito baixo, o vento pode tombar a palmeira.
Além da fibra, há interesse pela produção do coco da piaçava.
Alex vendeu 52 toneladas dele para a Turquia, no ano passado. O coco é matéria-prima da másbaha, o terço islâmico, e também tem potencial para a produção de óleo e de carvão.
Gargalos
A piaçava da Bahia é responsável por 90% da produção nacional. Só no estado, estima-se que 2 milhões de hectares estejam aptos para o plantio, mas falta mão de obra, o colhedor.
Na fazenda, eles têm carteira assinada. “(Em) outras regiões em que eu trabalhava, trabalhava avulso.”, lembra Antônio César dos Santos, piaçaveiro.
Os que vivem de tirar a piaçava na mata se embrenham com suas escadas improvisadas, que lá eles chamam de gancho, e o facão.
A piaçava sai da parte interna da folha nova, que só nascem bem para cima. Eles sobem em até 12 palmeiras por dia.
Desse emaranhado de fibras, saem dois produtos para venda. A piaçava propriamente dita, que vale mais, e a fita, também chamada de borra, muito usada na cobertura dos quiosques de praia.
“A palavra piaçava vem da origem da língua indígena Tupi, que é a junção de duas palavras: Pya e Açaba. Que significam tecer, nó, vínculo, Juntar”, ensina Alex Guimarães.
Vassoura tem rival
Lázaro Matos, um dos donos de uma fábrica de vassouras em Canavieiras, diz que o setor vive um momento complicado, principalmente pela concorrência com a vassoura de nylon, que é feita com máquinas e, por isso, mais barata.
Houve um tempo em que a produção ali chegou a 3,5 mil dúzias de vassouras por mês. Hoje, não chega à metade disso. O número de funcionários também caiu: de 25 para 11.
“Já vi piaçava no valor da carne. Quanto custa a carne hoje, R$ 140 a arroba? Piaçava hoje está de R$ 30 a arroba. Muito barata”, avalia Lázaro.
G1