A compulsão por compras é um transtorno que faz com que a pessoa sinta uma preocupação excessiva com as compras, não conseguindo pensar em outra coisa. De acordo com a psiquiatra Fátima Vasconcellos, diretora da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), os compulsivos compram coisas que não precisam e perdem o controle da situação, gastando mais do que podem, estourando os limites de cartões de crédito e gerando dívidas.
Segundo Fátima, as mulheres são as que mais sofrem com esse tipo de compulsão, normalmente pelo consumo de roupas, sapatos e semi-jóias. Já os homens compradores compulsivos preferem consumir eletrônicos ou itens que podem ser colecionáveis, como canetas e relógios. Essa compulsão pode também afetar o orçamento das compras de mantimentos, fazendo com que o paciente compre mais alimentos do que precisa, por exemplo.
A compulsão por compras pode ocorrer em qualquer idade e pacientes que tenham familiares com outros comportamentos compulsivos, como compulsão por comida, por trabalho ou por exercícios, podem ter maior predisposição a desenvolver o problema, seja pela composição genética, como pela observação do comportamento de outras compulsões.
Entre as características deste comportamento compulsivo estão o aumento progressivo de compras, perda de controle, tentativa sem sucesso na redução do ato de comprar, vergonha desse comportamento, esconder as compras realizadas de familiares e amigos, mentir para encobrir os gastos e tentar fazer das compras como um meio de reduzir angústia e frustrações, que não diminuem após sua realização.
A compulsão pelas compras pode também ser transferida para outro tipo de compulsão. Impossibilidade de continuar com o mesmo hábito, como no caso de pacientes com compulsão alimentar que fazem cirurgia bariátrica, podem mudar o foco da compulsão como maneira de tentar aliviar a angústia que sentem devido ao problema.
A psiquiatra afirma que a compulsão por compras não aumenta de acordo com o período do ano, como na Black Friday ou no Natal. “O comprador compulsivo compra muito, independentemente, da época. Quando esse comprador quiser comprar, ele vai comprar, e não necessariamente por conta dessas épocas, ou pelas promoções, a compulsão aumenta. A motivação da compra para essas pessoas é diferente, ela não se importa com preço ou promoção”, explica Fátima.
A compulsão por compras pode gerar prejuízos para o paciente e para a família. Entre os problemas, pode haver conflitos dentro de casa, negativação de contas, gasto do dinheiro que seria destinado a outras contas, como para mensalidade da escola do filho. “O problema pode ser tão grande que existem famílias que precisam vender o apartamento para quitar as dívidas geradas pelo problema”, explica a psiquiatra.
O diagnóstico de transtornos compulsivos pode ser feito por um médico psiquiatra. Para tratar o problema, há a recomendação de terapia familiar, acompanhamento com psicólogos, grupos de apoio para comportamentos compulsivos — de acordo com a psiquiatra, tais grupos não são muito frequentes na rede pública, mas podem ser encontrados em universidades — e uso de antidepressivos combinados com outros medicamentos, de acordo com prescrição do psiquiatra.
A psiquiatra afirma que, embora o paciente também apresente transtornos de ansiedade ou depressão, os transtornos compulsivos não estão necessariamente associados a outros problemas. “São quadros diferentes e que devem ser tratados paralelamente”, diz.
Para o comprador compulsivo perceber sua situação e procurar ajuda de psiquiátrica, a médica recomenda que o paciente responda às perguntas: você se preocupa excessivamente com compras? Você perde o controle e compra mais do que precisa? Já percebeu um aumento progressivo nas compras? Você faz isso para tentar aliviar angústia ou sentimentos negativos? Já mentiu para encobrir os gastos?
A pessoa deve se perguntar também, segundo a psiquiatra: as compras já causaram prejuízos sociais, familiares e no trabalho? Você tem algum problema financeiro por conta das compras excessivas? Você já se envolveu com roubo, falsificação, emissão de cheques sem fundos, ou outros atos ilegais para poder comprar ou pagar dívidas?
Caso a pessoa ainda não perceba a situação, é importante que a família e amigos expliquem o problema e apontem que isso está acontecendo. Segundo a psiquiatra, a motivação e o apoio emocional são fatores importantes na recuperação desses pacientes.
R7